Tribuna Ribeirão
Cultura

Série reconstitui atentado na Olimpíada de 1996

Por Mariane Morisawa, especial para o Estado

É ingrato tentar investir numa história que já foi contada há pouco tempo. Em janeiro, estreou no Brasil o longa-metragem O Caso Richard Jewell, de Clint Eastwood, sobre o segurança acusado de plantar uma bomba nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, para salvar pessoas e ser considerado um herói. Jewell era inocente. Manhunt: Deadly Games, que se debruça sobre o mesmo fato e está disponível no serviço de streaming Starzplay, pode não ter um vencedor de quatro Oscar no comando, mas tem uma vantagem: dez episódios de cerca de uma hora cada. “O filme tinha 110 minutos, nós temos cerca de dez horas”, disse o criador Andrew Sodroski em painel durante evento da Associação de Críticos de Televisão.

Manhunt: Deadly Games é a segunda temporada da antologia que foca em grandes caçadas a criminosos. Richard Jewell (interpretado por Cameron Britton, de The Umbrella Academy) tem tanta importância quanto o verdadeiro culpado, Eric Rudolph (Jack Huston). Na primeira temporada, o criminoso era o Unabomber, codinome do terrorista Theodore J. Kaczynski, que explodiu 16 bombas para atrair atenção para os problemas causados pela tecnologia moderna. Além do atentado na Olimpíada, que matou duas pessoas e feriu dezenas, Eric Rudolph detonou explosivos em duas clínicas de aborto e um bar de público LGBTQ+

“Ele é uma pessoa terrível, um narcisista, um completo sociopata”, disse Jack Huston. “Eric é uma pessoa fascinante porque é um manipulador. É um ator. Ele dizia estar fazendo isso por ser antiaborto e anti-homossexuais, por ser do Exército de Deus (organização cristã terrorista e antiaborto).

Mas era tudo uma performance. Ele é mau. Não queria glorificá-lo, porque muitos filmes e séries exaltam caras como ele, e eles não devem ser aplaudidos.” Depois de identificado, Rudolph conseguiu se esconder por cinco anos, até ser preso em 2003.

Para o ator inglês, também era importante ajudar a limpar o nome de Richard Jewell – muita gente ainda acredita na sua culpa do atentado na Olimpíada, quando na verdade ele avisou os oficiais no local e ajudou a limpar a área onde a bomba foi encontrada, salvando vidas. Britton, que concorreu ao Emmy por sua interpretação do serial killer Edmund Kemper na série Mindhunter, foi atraído pela história de um herói cheio de defeitos. “Nosso estereótipo de herói de Hollywood é o cara de queixo quadrado e diálogos forçados. Nada contra essas produções, mas um herói não é isso. A série é um lembrete de que um ato heroico é quando se vai ao encontro da adversidade. Para mim, era uma história importante a contar.”

O Caso Richard Jewell contou com a direção sempre elegante e enxuta de Clint Eastwood, mas focou bem mais em Richard Jewell (interpretado por Paul Walter Hauser). Lá, um homem mais passivo e doce, com uma relação amorosa com a mãe, Bobi (a indicada ao Oscar Kathy Bates). “O engraçado é que Paul é meu amigo”, contou Cameron Britton. “Nos conhecemos cinco anos atrás fazendo o mesmo papel, alternando os fins de semana num teatro no centro de Los Angeles, em Um Estranho no Ninho. Sua abordagem era muito mais leve e terna. Eu era bem mais pesado. E de novo aconteceu de acabarmos fazendo o mesmo papel novamente. Foi muito bacana ver outro lado de Jewell, um lado que não teve meu foco, mas que existia.”

O filme também se concentra bastante na relação de Jewell com seu advogado, o exuberante Watson Bryant (Sam Rockwell). Na série, a presença de Bryant (vivido por Jay O. Sanders) é mais discreta, enquanto o FBI, na figura dos agentes Jack Brennan (Gethin Anthony, o Renly de Game of Thrones) e Kelly Jenrette (Stacy Knox), e o especialista em bombas Earl Embry (Arliss Howard) ganham mais destaque. Todos são personagens fictícios.

A questão mais problemática e mais discutida de O Caso Richard Jewell era a sugestão de que a repórter Kathy Scruggs (Olivia Wilde) teria oferecido sexo para obter a informação de que Richard Jewell, até então um herói, era suspeito no atentado em Atlanta. Na série, a jornalista, interpretada por Carla Gugino, tem atitudes duvidosas, mas nada tão explícito. “Nós pudemos retratá-la como uma personagem em três dimensões. Ela tem falhas, é complexa e interessante. Tentamos dar mais espaço a ela para entender seu mundo e o peso que aqueles eventos tiveram em sua vida”, disse Sodroski. No fim, ela também foi uma vítima dos erros cometidos na investigação.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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