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Série ‘No Man’s Land’ mostra as soldadas curdas que combatem o Estado Islâmico

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

Com um passado no jornalismo e em serviços de inteligência, os israelenses Amit Cohen e Ron Leshem queriam falar da Guerra da Síria, que completa dez anos em março. “É a tragédia da nossa geração. E basicamente uma história que ainda não foi contada”, disse Leshem em entrevista ao Estadão sobre o conflito que matou perto de 400 mil pessoas e gerou 5,6 milhões de refugiados, fora os 6,6 milhões deslocados dentro do território sírio. O ponto de partida para a série No Man’s Land, disponível no Starzplay, com novos episódios todos os domingos, foram as soldadas curdas que combatem o Estado Islâmico. “Essa história nos pegou”, disse Leshem. “Elas colocam medo nos combatentes do Estado Islâmico, que acreditam que não vão para o paraíso se forem mortos por mulheres. A ideologia delas é espiritual, liberal, secular e feminista, é muito bonita”, completou o criador da série.

A atriz suíça Souheila Yacoub, que interpreta Sarya, ficou encantada com a história das combatentes curdas que lutam contra o EI. “Minha visão sobre elas era equivocada, achei que eram valentonas com Kalashnikovs. Elas são apenas jovens lutando pela liberdade e pela justiça. Firmam um compromisso umas com as outras, confiam umas nas outras e se respeitam, fumam seus cigarros, tomam chá, riem. São muito poderosas, não têm medo de morrer, porque estão fazendo por seu povo, com amor, com honra ”

Os criadores da série – além de Cohen e Leshem, Eitan Mansuri e Maria Feldman – usaram sua experiência prévia para reunir detalhes como nomes de restaurantes para serem o mais realistas possível. Mas No Man’s Land é um drama, não um documentário. E o guia do espectador pela guerra é um francês, não um sírio ou mesmo um curdo. Antoine Habert (Félix Moati) é um engenheiro bem-sucedido que, numa reportagem de televisão sobre o conflito, acredita ver, de relance, a irmã Anna (Mélanie Thierry), que supostamente havia morrido num atentado anos antes no Egito. Só que Antoine nunca acreditou na morte de Anna e decide ir atrás dela, entrando na Síria pela Turquia.

“Um cara comum de Paris pode pegar um voo curto e estar num universo completamente diferente”, disse Leshem. “E fazemos essa jornada com ele por esse país arrebatador, bonito, ferido, assombrado. Quando se entra em contato com esse mundo único, com vozes diferentes, é impossível não ver quanto o mundo precisa de você. É fácil se apaixonar pelas pessoas, especialmente aquelas que são devotadas a fazer do mundo um lugar melhor. E se viciar na adrenalina e na urgência da vida. Aí fica difícil de voltar para sua velha vida confortável em Paris.”

Curiosamente, Antoine e Anna não são os únicos estrangeiros nesta história. Há o misterioso Stanley (James Purefoy), que supostamente faz parte de uma organização de ajuda humanitária. Três amigos de infância britânicos – Nasser (James Krishna Floyd), Iyad (Jo Ben Ayed) e Paul (Dean Ridge) – juntam-se ao Exército Islâmico. A própria série também reúne pessoas de muitos países e é falada em quatro línguas diferentes: francês, inglês, curdo e árabe.

Leshem e Cohen contam ter tomado cuidado para não tornar os participantes da organização simplesmente monstros, por mais coisas horríveis que o EI faça. “Primeiro porque não seria interessante se todos fossem psicopatas, ou Hannibal Lecter”, disse Cohen. “O interessante é explorar um fenômeno que não conseguimos compreender direito. Pessoalmente, eu queria aprender mais sobre isso”, completou ele, referindo-se aos ocidentais que se juntaram ao EI. Mas os dois afirmaram ter tido cuidado para não romantizar o Estado Islâmico. “Para nós, são uma organização horrível, fascista, assassina. Mas foi criada, construída e apoiada por pessoas comuns. E isso é fascinante.”

A Guerra da Síria, apesar de ser uma guerra civil, de fato atraiu diferentes forças externas, desde voluntários até diversos países, abertamente ou não. Os criadores fazem uma comparação com a Guerra Civil Espanhola, que atraiu combatentes de várias nacionalidades. “Para eles, não era uma guerra estrangeira”, disse Cohen. E, ao escolher esses personagens, pretendem desafiar o espectador. “Dá para olhar para uma guerra e pensar que não diz respeito a você? Se alguém morre na Síria num ataque com armas químicas, o problema é só deles? Deveríamos intervir? Deveríamos exigir que nossos governos impedissem a guerra? Ou simplesmente continuamos com nossas vidas? A questão dos voluntários estrangeiros é uma metáfora para algo maior que as batalhas em si”, afirmou Cohen.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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