Por Matheus Mans, especial para o Estado
A série A Grande Viagem, dirigida por Caroline Fioratti e exibida na TV Brasil, rompeu suas próprias fronteiras. Na última semana, a produção foi indicada ao International Emmy Kids Awards, prêmio que reconhece os melhores programas infantis televisivos fora dos Estados Unidos. Criada pela Academia Internacional das Artes & Ciências Televisivas há seis anos, esta é a primeira vez que uma produção brasileira consegue a indicação na categoria para minisséries, rompendo a forte hegemonia holandesa, alemã, australiana e, principalmente, britânica.
E o que fez com que a Academia olhasse para a produção brasileira de outro jeito? Segundo a realizadora, há uma sensibilidade na história que deve ter chamado a atenção. Afinal, a série acompanha a história de Lipe (Léo Palhano), um garoto de 10 anos que vê o seu avô Mário (Umberto Magnani) sofrendo com os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer. Triste de vê-lo assim, o rapaz protagonista decide sair em uma jornada para fazer com que o avô relembre de seu passado e, principalmente, viva aventuras que tenha sonhado ao longo de sua vida.
“Meus projetos surgem de experiências pessoais unidas à questões sociais que me tocam”, disse Fioratti, que dirigiu recentemente a série Unidade Básica e o filme Meus 15 Anos, com Larissa Manoela. “A Grande Viagem é o resultado de minhas observações do processo de Alzheimer do meu avô e o desejo de criar um conteúdo sobre encontro de gerações para o público infanto-juvenil. O desafio sempre foi falar sobre o Alzheimer de maneira lúdica e responsável. Para isso, acabamos por criar uma fábula mágica, que é essa jornada através da memória.”
Outro aspecto que chama a atenção na minissérie, dividida em 13 episódios, é a atuação de Umberto Magnani. A produção é a última a ir ao ar na televisão com o ator brasileiro, morto em 2017 em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Ele foi parceiro durante todo o processo, conduziu essa nau comigo – eu atrás e ele na frente das câmeras”, disse a diretora ao Estado. “Sinto por ele não ter visto a série na TV. Ele estaria radiante com essa indicação.”
Cenário
Sendo realizado desde 2013, o International Emmy Kids Awards já indicou o Brasil em quinze ocasiões – seis para séries, três para programas de pré-escola, quatro em séries sem roteiro, uma para animação e, agora, uma para minissérie. De todas as oportunidades, no entanto, o Brasil levou apenas um prêmio para casa: por Pedro e Bianca, da TV Cultura, em 2013. Fioratti não tem como saber se conseguirá bater os concorrentes, vindas do Japão, da Alemanha e uma última do Reino Unido. Segundo ela, independente do resultado a ser apresentado em Cannes, no dia 9 de abril, a indicação já deve abrir portas para A Grande Viagem
“Esperamos que, com a indicação ao prêmio, a gente consiga expandir o acesso a série, talvez levando ao video-on-demand ou a canais a cabo”, disse a diretora sobre a produção, que ainda tem episódios sendo exibidos regularmente na TV Brasil. “O nosso desejo é que mais crianças, pais e educadores tenham contato com A Grande Viagem. Mais do que tudo, eu sempre quis que essa obra fosse um estímulo para reflexões nas famílias e em sala de aula “
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.