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Ser pai, que maravilha!

Mais um Dia dos Pais e eu aqui, pensando no tema de minha crônica semanal, é tanta coisa, mas nem sei por onde começar. Ontem, em casa, ouvindo o sambista carioca Can­deia cantando “Testamento de partideiro”, um samba partido alto de sua autoria que cantei muito lá no Ponto Chic, veio um sopro de inspiração.

Ninguém conhecia o samba, mas gostavam muito dele, perguntavam de quem era e até pediam bis. Voltei à faixa várias vezes para ouvir o começo, que diz: “Pra minha mulher deixo amor sentimento, e para os meus filhos deixo um bom exem­plo, deixo como herança força de vontade, quem semeia amor deixa sempre saudade… Pros meus amigos deixo meu pandei­ro, honrei os meus pais e amei meus irmãos, aos fariseus não deixarei dinheiro, e pros falsos amigos deixo meu perdão…”

Esses versos de Candeia são de uma preciosidade sem tamanho, mas a frase que me arrepia é “Honrei os meus pais e amei meus irmãos”. Poxa, como é forte este verso! Até perdoa os falsos amigos! Grande Candeia. Já fui à casa de muitos sambistas para ensaios e observava o amor entre pais e filhos. Lugares humildes, mas o amor e respeito entre eles me fazia tirar o chapéu. Às vezes ia buscá-los para tocar e os via pedir a benção dos pais e avós ao sair. Digo isso porque convivi muito mesmo com isso e a letra de Candeia me fez voltar no tempo.

Sou membro do maravilhoso grupo carioca “Confraria do Chapéu Panamá”, que se reúne aos sábados na Rua do Ouvi­dor, na Lapa boêmia, centro velho do Rio de Janeiro. Ainda não tive o prazer de passar uma tarde com eles, pela distância que nos separa, mas vejo as fotos e fico babando. Todos de chapéu Panamá. Ali estão pessoas das mais diversas profis­sões cultuando o delicioso gosto por esta elegante cobertura. Ainda vou chegar naquele pedaço e matar meu desejo.

Dia desses, um deles postou que o velho compositor e can­tor Nelson Sargento, hoje com mais de 90 anos, estava passan­do o maior perrengue devido à paradeira de shows. Um amigo estava organizando uma vaquinha virtual, e na hora danei a pensar: “Mas como?” Não sei de sua vida, mas e o que ele ame­alhou em sua trajetória e que poderia ser seu sossego? Cadê seus filhos, seus netos? Eles devem ter desfrutado do tempo bom… Bem, só sei que uma página da MPB como Nelson Sar­gento deveria ter, nos dias atuais, o acalanto dos seus.

Ser pai é um privilégio que Deus nos dá e cumprir essa missão é uma batalha. Mas, é uma delícia de batalha. Quando lembro o que meu pai passou para cumprir a sua, cada vez mais eu o vejo como meu verdadeiro herói. Ele criou seis filhos honestos. O velho Roy era dado a fazer versos sertane­jos, usava chapéu de feltro, e talvez tenha herdado dele meu gosto por chapéus. Gostava de moda de viola e eu, da Jovem Guarda, tocava guitarra e cantava no conjunto “The Jetsons”. Imitávamos Renato e seus Blue Caps aos domingos, na Rádio PRA-7 (hoje Clube), e minha mãe me dizia que os olhos dele brilhavam de orgulho me ouvindo cantar lá de casa.

Quando meus filhos chegavam em casa e diziam “oi, pai”, dentro de mim acontecia algo que não sei explicar, era só agradecimento ao meu bom Deus por ouvir duas pequenas, mas mágicas palavras, “oi, pai”. Sinto o mesmo hoje quando meus netos chegam e me dizem “oi, vô”… Eu me derreto.

Uma imagem que não sai de meu pensamento é o rosto do meu pai segurando meu filho Paulo, ainda bebê. Ele olhava seu netinho e olhava pra mim, não falava nada, e nem precisava. Era a magia da continuação. Só descobri o que o velho Roy sentia quando segurei meus netos Luiz e Kauã nos braços.

Ser pai ninguém nos ensina, aprendemos na labuta diária. Problemas? Quem não os tem? Nos serve como aprendizado.

Oh, seu Roy, meu velho pai, que honra ter sido seu filho.
Paulo e Lucas Bueno, que maravilha ter sido pai de vocês.
Meus amigos, desejo a todos um feliz Dia dos Pais.

Sexta conto mais.

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