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Ser e não ser

O cenário politico-militar do mundo ganhou não só um extravagante personagem. Ele, se não tivesse o perfil humano, seria definido como uma espécie moderna de dinossauro a serviço de si mesmo. Rigorosamente, não representa a dúvida subjetiva, inquieta que, há séculos, a inteligência dos habitantes desse sofrido planeta, que é a do “ser ou não ser”.

Ele é a própria encarnação, ou seja, a carne-viva do ser e do não ser milagrosamente simultâneo, pois, um dia ele é, e logo em seguida já não é mais, e continua com o mesmo topete de playboy, dedicado a resistir ao tempo e à idade.

Ele governa a maior potência militar do planeta. Tem a sua disposição os botões dos mísseis atravessadores do espaço, com a inteligência do tiro certeiro. E é o papa da desavença, da hosti­lidade intensa e generalizada, em nome do interesse nacional de seu pais. Essa hostilidade encarnada ataca de norte ao sul, do leste a oeste da geografia do mundo. Muitos de seus próximos dele se desligaram. E, quanto aos países é preciso relembrar.

No Oriente, colocou álcool no fogo, deslocando a embaixada norte-americana de Tel Aviv para atiçar a raiva dos palestinos. Vi­sitou a Arábia Saudita, desenhando o possível ataque ao Irã. Fez o seu país sair, sozinho, do acordo de não proliferação atômica do Irã, para revitalizar sanções. Saiu da convenção do clima, que representa um programa de solidariedade com a vida humana, projetando meios e instrumentos de defesa da natureza.

Fez um banzé contra a Coreia do Norte. Mas mandou o seu vice à do Sul para evitar a guerra. Mas, não foi a do Norte que ele amea­çou? Depois, o encontro com o ditador norte-coreano foi aguado, já que até hoje não se sabe o que aconteceu, nem acontecerá.

Em relação ao México, quer impor o muro da longa fron­teira, para impedir a imigração ilegal, mas com a imposição extravagante do país-vitima pagar a conta das despesas. Sua posição ajudou a eleição do candidato de esquerda.

Ele, no melhor estilo nazifascista, determinou a separação das crianças de pais, que entrassem ilegalmente, no país. As crianças destinam-se à limpeza dos banheiros do lugar onde ficam, até que um dia reencontrem os pais, alguns ou muitos já recambiados para o país de origem.
Trata os aliados tradicionais e históricos, como os da União Eu­ropeia, como inimigos (“ataca a primeira-ministra britânica, quer impor diretriz de consumo de gás à Alemanha, dizendo-a prisio­neira da Rússia). E em Moscou, ao lado do seu opositor, arrastou-se dizendo que os russos não invadiram a eleição presidencial ameri­cana, desmoralizando os resultados das investigações dos serviços de inteligência de seu próprio país. Desdisse, imediatamente, diante da forte oposição à sua sabujice, que a arrogância encobre.

Quanto à China, ele quer impedir o volume de recursos destinados à pesquisa de inovações. É possível tal interferên­cia interna? A China tem 80 milhões de cientistas. Ele taxa as importações chinesas, quando 20 bilhões dessas exportações são fabricadas por empresa estrangeira, muitas são norte-ame­ricanas, e em seguida ingressa com reclamação na Organização Mundial do Comércio (OMC), porque a China também taxou os produtos de origem norte americana, em retaliação.

E Portugal? O homem simultâneo do ser e não ser promete discutir o usucapião do espaço ocupado pela estratégica base área americana, instalada na Ilha Terceira dos Açores, que per­tence à Portugal. Foi uma revolta só, lá nas terras portuguesas.

Por que muitos votaram nele?

A resposta talvez esteja na pesquisa feita recentemente, no Brasil, com jovens que, toscamente, manifestam sua preferencia por candidato presidencial tosco (“Bolsonaro incentiva publicamente assassinatos e prega contra a Constituição”, registra Jânio de Freitas, Folha 15/7/2018). Os estudantes se apegam na capacidade simplória, diz-se tola, de quem resolveria com facilidade questões complexas, com frases feitas ou slogans de estupidez, “não estuprar mulher feia, só os patrões serão os patrões de seu governo, Movimento dos Sem Terra exterminado”. E em relação à economia diz nada entender, mas ele conhece quem ele pensa que entende. Afinal, literalmente é um transgressor. É um violador das leis e do bom senso.

Tal identidade de um com outro serve à vontade do candi­dato presidencial, no Brasil, querer beijar a mão do ser e não ser dos Estados Unidos.

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