Edwaldo Arantes *
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Semana passada meu artigo foi sobre minha prima e amiga querida, Carmen Luiza Rezende, “Carminha”.
Tecendo com ela confidências, segredos e fatos da nossa trajetória tão rica de vidas, acontecimentos e parcerias.
Hoje falarei sobre sua mãe, Lavínia Panucci Rezende.
Tia Lavínia foi uma das mulheres mais marcantes do seu tempo, existia nela um inquebrantável e firme compromisso com a bondade, amizade, solidariedade e amparo.
Ao lado do marido Luis Pimenta Rezende, tio Luisinho, residiam em São Sebastião do Paraíso, tempos depois, mudaram-se para Ribeirão Preto, onde adquiriram dois hotéis, o Grande Hotel e o Santa Marta.
Quando residiam em Minas venderam uma propriedade tradicional da família, Fazenda Rio Grande.
Receberam a triste notícia da trágica morte do casal de colonos, funcionários, residentes na propriedade rural, deixando órfãs sete crianças.
Imediatamente dirigiram-se ao local, deparando com uma situação paupérrima e cenas deploráveis, o mais velho contava com dez anos, todos sozinhos e perdidos, a caçulinha, dois aninhos, foi encontrada no curral, sentadinha no chão, alimentando-se com estrumes do gado.
Desesperados, providenciaram socorro, levando-os para a residência na Praça Comendador José Honório, onde foram criados e tratados como filhos.
No início da década de 1970, eu garoto, fui jogar futebol de salão em uma quadra abandonada, porém intacta, com amigos inseparáveis.
Abruptamente, sem nenhuma violência, simplesmente fui ao chão, sentindo uma dor pungente no joelho esquerdo, era véspera do Natal.
Passei enfaixado, usando os ungüentos peculiares daquela época, Iodex, Cânfora, Arnica e manipulações à base de Salicilato de Metila, infelizmente, o joelho inchou sobremaneira.
No dia vinte e seis, sem nenhuma reação positiva, minha mãe levou-me ao Dr. José Spósito, que solicitou uma radiografia.
Após observar o resultado, marcou uma imediata conversa com minha mãe, explicando:
– Maricada! O que foi acusado na radiografia não é para a nossa cidade, precisamos, com urgência, procurarmos um centro maior, sugiro Ribeirão Preto, vou passar minhas indicações de especialistas.
Operado às pressas, cirurgia complexa para a retirada de um tumor no fêmur, foi feita raspagem total, ficando o osso como “casca de ovo”.
Permaneci um ano usando muletas, sem pisar de maneira nenhuma, até começar a calcificação.
Tia Lavínia acompanhava-me sempre, internado no Hospital da Beneficência Portuguesa, pois mamãe era professora e não podia se ausentar de Minas.
Permaneci dez dias no hospital sob os olhares cuidadosos da nossa tia, meus irmãos, Ewaldo e Noel permaneceram comigo.
Anos e anos depois, já adulto, fiquei pensando, como minha mãe, recebendo parcos vencimentos, conseguiu arcar com as despesas, médicos, anestesistas, quarto e remédios.
Não havia Planos de Saúde, SUS menos ainda, apenas existiam Prontos Socorros e Santas Casas da Misericórdia.
Ficamos em um quarto com televisão e ar condicionado, achando uma maravilha, nunca tínhamos ouvido falar, o quarto geladinho no calor abrasador de Ribeirão Preto.
Ao receber alta, tia Lavínia levou-me para o Hotel Santa Marta, onde passei muitos dias, sendo tratado como um Rei.
Descobri, depois, que as vultosas despesas foram quitadas, divididas entre a tia Lavínia, tia Alice, tia Inhá e tio Carmo.
Quando estava recuperando, conheci o Gaspar no hotel, administrado juntamente com tia Lavínia.
Cuidou com carinho da minha recuperação, ficando ao meu lado como um pai a um filho.
Em uma conversa, fiquei sabendo que ele era uma das sete crianças criadas, educadas e cuidadas como filhos.
Relato apenas duas, das várias e incansáveis ações proporcionadas sempre em prol da integridade humana, bem como, proteção, amparo e aconchego, em todos os momentos. A vida toda fizeram e fazem parte do cotidiano desta família mineira, exemplo do casal e suas filhas.
“A Solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, Franz Kafka.
P.S: Artigo escrito com a participação especial da Carminha.
* Agente cultural