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Sem data: adiado o júri de Ichisato

FOTO: ALFREDO RISK /ARQUIVO TRIBUNA

A juíza Isabel Cristina Alonso Bezerra dos Santos, da 2ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, cancelou o júri popu­lar do empresário Alexsandro Ichisato de Azevedo, acusado de matar o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, e de atropelar mais 12 pessoas em um protesto contra o reajuste da tarifa de ônibus, em 20 de junho 2013, na Zona Sul de Ribeirão Preto. O julgamento estava marcado para as dez ho­ras da próxima segunda-feira, 12 de agosto.

A magistrada acatou um pedido feito pelo advogado de Azevedo, Hamilton Paulino Pereira Junior, de que existem objetos apreendidos e laudos periciais que ainda não foram encaminhados à Justiça. A nova data do júri popular ain­da não foi definida. Por ofício, a magistrada pediu à Delegacia de Investigações Gerais (DIG), Corregedoria da Polícia Ci­vil, Instituto de Criminalística (IC), Instituto Médico Legal (IML) e emissoras de televisão que encaminhem documentos e materiais considerados rele­vantes para o processo no pra­zo de cinco dias.

A defesa do acusado diz que a ausência dos documen­tos solicitados, entre os quais exames de corpo de delito de vítimas, configurariam nuli­dade do julgamento. Pereira Junior diz que sem este mate­rial o processo não está apto para ser julgado. O promotor Marcus Túlio Nicolino, que trabalha na acusação, enten­de que os laudos requisitados são de menor importância e não vão alterar o foco do jul­gamento, que aconteceria no Fórum Estadual de Justiça de Ribeirão Preto.

Em junho de 2013, Ichisato fugiu sem prestar socorro às vítimas e chegou a ficar fora­gido por um mês. A tragédia se converteu em comoção na­cional e ficou simbolizada em um busto colocado no local do atropelamento. Na data do crime, brasileiros tomaram as ruas em diversas cidades em um protesto contra o governo federal. A morte de Delefrate foi a única registrada naquele dia em todo o Brasil.

Ichisato responde por ho­micídio triplamente qualifica­do e quatro tentativas de homi­cídio triplamente qualificadas. Segundo o representante do Ministério Público Estadual (MPE), se for condenado nos cinco crimes pode pegar mais de 100 anos de prisão, apesar de a pena máxima no Brasil ser de 30 anos. Ele está na Peniten­ciária de Balbinos.

O júri popular foi confir­mado em 15 de agosto de 2017, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP). Os desembar­gadores negaram o pedido de alteração na tipificação do crime feito pela defesa do réu – que queria mudar a acusa­ção de homicídio doloso para acidente de trânsito. O atrope­lamento ocorreu em uma ma­nifestação no cruzamento das avenidas Professor João Fiúsa e José Adolfo Bianco Molina du­rante um protesto organizado pelo Movimento Passe Livre, que cobrava a redução no pre­ço da passagem de ônibus em todo o Brasil.

Ribeirão Preto foi a única cidade a registrar óbito duran­te os protestos. Das 12 pessoas atropeladas pelo empresário, quatro ficaram feridas. Ele também é causado por tenta­tiva de homicídio deste quar­teto. A prisão de Ichisato foi decretada no dia seguinte ao atropelamento, mas ele fugiu. Azevedo está preso desde 18 de julho de 2013, depois da con­fusão que resultou nos atrope­lamentos. No final do protesto em 20 de junho daquele ano, o empresário deixava um su­permercado na Zona Sul em uma SUV blindada, quando se deparou com os manifestantes no cruzamento das avenidas.

O grupo pedia que ele re­cuasse e, depois de uma dis­cussão, ele acelerou e avançou. A defesa de Ichisato já disse an­teriormente que ele não tinha a intenção de matar e que seu cliente se sentiu acuado dentro do carro devido às agressões da multidão no dia da confu­são, e que o empresário não tinha condições de dar marcha a ré. Em 20 de junho de 2013, imagens flagraram o momen­to em que Azevedo atropelou e matou Marcos Delefrate. O empresário fugiu sem prestar socorro às vítimas.

O veículo modelo SUV foi apreendido na casa dele, em um condomínio na Zona Sul. Após quase um mês foragido, foi preso em 18 de julho da­quele ano. Segundo a Polícia Civil, estava escondido em uma chácara onde funciona uma clínica para recupera­ção de dependentes químicos em Bragança Paulista. Em 14 de agosto de 2013, a juíza da 2ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, Isabel Cristina Alonso dos Santos, decretou a prisão preventiva e determinou que Azevedo aguardasse pelo jul­gamento na cadeia.

Em novembro de 2014, a Justiça condenou o empresário a pagar indenização de R$ 55,5 mil à estudante de enferma­gem Nicole Moreira Froes da Silva, de 19 anos, uma das pes­soas atropeladas no protesto. A jovem teve a perna direita que­brada e escoriações pelo corpo. Os ferimentos a impediram de frequentar as aulas, e com as faltas na universidade, ela per­deu uma bolsa científica de R$ 400 por mês durante um ano.
deci­diu levar Ichisato a júri popu­lar, mas a defesa recorreu e o processo foi enviado ao TJ/SP. Já neste ano, em maio, os bens do empresário foram penho­rados para pagar indenização de R$ 30 mil a Pabline Luana Lalucci, de 25 anos, outra ma­nifestante atropelada em 2013. No mesmo mês, os desembar­gadores reformaram a decisão em primeira instância e deter­minaram indenização de R$ 45,5 mil a Nicole. Um ano após o caso, em junho de 2014, um busto de Delefrate foi inaugu­rado no local do atropelamen­to. Todo ano a família faz ho­menagens ao jovem.

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