“Os meninos que de vez em quando aparecem para aprender desistem no primeiro dia, na primeira semana. Furam o dedo e não voltam mais”. Quem explica é o seleiro Antônio Cássio Chirieleison, ribeirão-pretano de 50 anos, que há mais de 30 deixou a música para trabalhar no ramo de selas para cavalo. “Eu gosto muito. Não consigo ficar uma semana sem trabalhar. É algo apaixonante”, acrescenta.
Cássio com 50 anos é ao mesmo tempo experiente e um dos mais novos na profissão. Seus companheiros de trabalho têm 10, 20 e mais de 30 anos que ele.
Tarcísio Correa de Melo, 55 anos, proprietário da Selaria Rio Pardo, referência nacional (ver matéria nessa página), conta que apesar da idade, todos produzem muito. “Eles não precisam vir mais aqui. São idosos, mas com uma força grande de trabalho. Mandamos os serviços e eles fazem em casa. Funciona bem, isso mesmo antes da pandemia. Se produzem bem, não há porque tirá-los de casa”.
Um exemplo é o próprio pai de Tarcísio, o senhor Divino Renato Correa de Melo de 83 anos. Dedicado, Divino não parou um minuto no pouco tempo que conversamos com ele na oficina da selaria. Ao perguntar se poderíamos fazer uma foto dele, ele foi direto. “Pode fazer, mas não vou parar não”. E não parou. Não precisou de palavras para mostrar que amava a profissão e cuidava com carinho cada detalhe da peça que produzia.
100% artesanal
A produção de selas é 100% artesanal. Alguns detalhes e em alguns casos usa-se máquinas. Cortes e costuras são feitos manualmente. Cada sela demora em média 5 dias para ser fabricada. “É um trabalho minucioso”, diz Tarcísio. O processo de produção começa no molde e tem várias etapas de corte e costura. Cada sela custa entre R$ 1 mil e R$ 5 mil, dependendo do modelo. Todas são confeccionadas com couro de búfalo.
“Cada seleiro tem um jeito de trabalhar. Uma assinatura. As pessoas reconhecem em muitas vezes pelos desenhos, quem fez a sela”, finaliza Cássio.
Selaria de Ribeirão Preto é referência nacional
“Quando passar um cavalo arreado, monte-o. Cavalo arreado passa só uma vez”. Esse ditado popular pode ser aplicado aos negócios do empresário ribeirão-pretano Tarcísio Correa de Melo, 55 anos. Quando há 30 anos identificou um potencial num negócio de selaria. Hoje a empresa dele é referência no mercado nacional.
“Tínhamos em Ribeirão Preto a Selaria São José que era a maior do Brasil. Quando ela fechou, identifiquei que poderia entrar nesse mercado”, conta. “Hoje há poucas selarias de qualidade no Brasil. Você encontra mais nos estados de Mato Grosso e Goiás. Há quem fabrica e vende pela internet, mas muitos com qualidade duvidosa”, alerta.
Tarcísio conta que a selaria dele, a Rio Pardo, fabrica e comercializa em média 20 selas por mês. O público é diversificado. “Há quem compra para os esportes. Tem as montarias e grupos de cavaleiros que também são fortes na região, como Batatais e Orlândia. E há quem compra pra uso no trabalho com gado, na lida mesmo. Hoje mesmo estamos fechando uma boa venda para o maior grupo de frigoríficos do país”.
“Nossos produtos são referências. Quando têm anúncios em sites de vendas, quando a sela é daqui, eles ressaltam: – é Rio Pardo”, comenta Francisco Sérgio do Nascimento, que deu a ideia de montar a selaria a Tarcísio. “A gente montava junto e ele me apoiou. Montei e ele veio trabalhar comigo. Tinha 16 anos. Nunca mais saiu”, acrescenta Tarcísio.
Mesmo com os avanços tecnológicos, Tarcísio acredita na tradição. “Como disse, são poucas selarias no país e hoje felizmente, por conta da nossa tradição e trabalho, somos referência. Exportamos selas para outros países. Então eu acredito muito no potencial da selaria”, finaliza.
Vários modelos de selas
A sela é um item indispensável para todo cavaleiro. Há diversos modelos e estilos dependendo do uso, se para o trabalho, dia a dia, cavalgada ou para praticar um esporte específico como Três Tambores, Laço em Dupla, Team Penning, entre outros.
O processo de fabricação das selas é bastante artesanal com detalhes no couro e o cuidado de quem fabrica. Tudo começa com a armação, a alma da sela, que pode ser de madeira ou de fibra.
Por muito tempo a madeira, o couro e o ferro foram os materiais mais usados para fabricar as selas e ainda são usados proporcionando muita qualidade e durabilidade. Mas com o tempo, surgiram outros materiais como a fibra que deixa a sela mais leve. O couro de boi também vem sendo substituído pelo de búfalo.
Se a armação não for boa, a sela não será, pois é ela que dá conforto ao cavalo. A armação deve ter a forma do dorso do cavalo, a curvatura e a profundidade corretas, a concavidade certa do assento e os pontos de encaixe da barrigueira.
A fabricação da sela é manual, envolve o molde, a costura, o tingimento do couro. Os bordados no couro também são artesanais e diferenciam as selas que, bem cuidadas, podem durar gerações.
Os profissionais que se dedicam à fabricação das selas normalmente aprenderam na família e se dedicam para dar segurança e conforto ao cavalo e ao cavaleiro. Deve-se considerar o tamanho da sela tanto para o cavalo quanto para o cavaleiro.
Se a armação for de madeira ela é revestida com couro molhado que permite trabalhar em todos os cantos. A costura é feita manualmente.
Existem diferentes modelos de sela, cada uma adaptada para uma situação diferente. Por exemplo, a sela para prova de tambor é mais funda a fim de dar mais segurança ao cavaleiro e a cabeça é ideal para ter um agarre melhor.
Sela de Salto: modelo inglês é bem rasa porque o cavaleiro precisa sair da sela constantemente.
Sela Australiana: muito próxima da inglesa na armação interna, mas tem a patilha mais alta porque se o cavaleiro precisa trabalhar com o gado, o cavalo pode partir à galope. Se acontecer uma queda ou precisar sair rápido, não fica preso.
Sela Lombilho: não tem armação, acompanha o salto do animal.
Sela Western: muito usada em Tambor e Baliza para que o cavaleiro fique seguro na hora das manobras.
Arreio Baiano: arreio de trabalho, normalmente seco, modelo muito usado no Norte de Minas e região da Bahia.
(Informações: Agroline)