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Secretário confirma saída de médico antes da hora

Em depoimento prestado na tarde desta terça-feira, 20 de março, em sessão extraordi­nária realizada no plenário da Câmara de Ribeirão Preto, o secretário municipal da Saú­de, Sandro Scarpelini, negou que tenha havido omissão de socorro no caso do morador de rua Juliano Machado, de 41 anos, que morreu em 6 de mar­ço, um dia após passar mal defron­te à Unidade Básica Saúde (UBS) Wilma Delphina Oliveira G. Rott, na Vila Tibério, Zona Oeste. Os vereadores acompanharam as de­clarações e desistiram de instalar uma Comissão Especial de Estu­dos (CEE).

Scarpelini iniciou seu de­poimento lendo um relatório de quatro páginas que detalha como ocorreu o atendimento. Em se­guida, confirmou que não havia médico no local às 18h11, quan­do o paciente Juliano passou mal na marquise da UBS, apesar de a escala da Secretaria Municipal da Saúde prever a presença do profis­sional até às 19 horas.

De acordo com o secretário, o médico antecipou a jornada em uma hora por causa de um proble­ma pessoal – precisava dar caro­na para o filho. Assim, em vez de chegar às 14 horas e trabalhar até às 19 horas, entrou às 13 horas e saiu às seis da tarde. “Ele atendeu as consultas agendadas e cumpriu a carga horária”, defende Scarpeli­ni. O titular da pasta afirmou ainda que o profissional não falsificou a assinatura no ponto e que sua au­sência não teve ligação direta com a morte do morador de rua.

“O fato de o médico não estar lá não contribuiu para a morte do paciente, já que a crise convulsi­va foi de pequena monta e ele foi atendido pela equipe de enfer­magem”, diz o secretário. Segun­do Scarpelini, o fato de o médico mudar o horário da jornada de trabalho não é uma irregularidade grave, mas merecedora de “uma repreensão leve”. “Mas seria menos problemático se ele tivesse comu­nicado a gerente”, acrescenta.

O laudo provisório do Institu­to Médico Legal (IML) atesta que Juliano Machado morreu de ede­ma pulmonar agudo, provocado por enfarte do miocárdio. Segun­do Scarpelini, o morador de rua sofria de epilepsia e hipertensão, não fazia tratamento e há mais de 20 anos vivia como andarilho. Além de defender o médico e a Secretaria Municipal da Saúde, o titular da pasta teceu fortes críticas ao trabalho da imprensa.

Depois de o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) ter criti­cado a repercussão do caso, com a frase “estão fazendo tempestade em um copo d’água”, o secretário voltou à carga, afirmando que a imprensa divulgou “informa­ções distorcidas e incompletas” e que a “exposição exagerada” do caso na mídia deixou a equipe da UBS “muito abalada”. Segundo ele, servidores do posto da UBS da Vila Tibério chegaram a rece­ber ameaças de morte por uma rede social (Facebook) e alguns já manifestaram o desejo de ser transferidos para outra unidade.

A morte do morador de rua ganhou ampla repercussão por causa da filmagem feita por um radialista, que presenciou quando Juliano Machado sofreu convulsões debaixo da marquise da UBS de Vila Tibério, na rua Vinte e Um de Abril, defronte à praça José Mortari. Na gravação feita por celular e postada em re­des sociais, o radialista pede so­corro no interior do posto, mas não havia médico no local, nem enfermeiro e a gerente também não estava no prédio.

A morte do andarilho causou indignação em muita gente. O Mi­nistério Público Estadual (MPE) instaurou inquérito civil e defende a abertura de um procedimento criminal por homicídio culposo – quando não há a intenção de matar – e omissão de socorro. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu sindicância. A própria secre­taria acompanha o caso e instau­rou procedimento interno.

Em relatório divulgado pelo Tribuna, a pasta nega omissão de socorro e diz que Machado rece­beu todo o atendimento condizen­te com seu quadro clínico. Ele teve uma parada cardiorrespiratória cerca de 24 horas depois de ter sido levado ao posto por um morador do bairro, onde teve convulsões.

“Em resumo, o paciente ob­teve atendimento médico e de enfermagem por três vezes em 24 horas (nos dias 27 e 28 de feve­reiro), contudo na última vez que procurou atendimento chegou em situação mais crítica e apesar de toda a assistência prestada, o paciente evoluiu para óbito. A Secretaria Municipal da Saúde está trabalhando na análise de toda documentação referente ao caso para medidas administrati­vas cabíveis”, diz a pasta em nota.

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