Por Renata Agostini
Para o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o atual sistema previdenciário morreu, mas é preciso fazer uma reforma que contemple aspectos regionais e crie um regime de capitalização público. O ex-governador do Ceará é contra a privatização da Petrobrás e diz que tomará de volta a Eletrobrás se ela for desestatizada.
Previdência
“A sociedade está dividida entre os que imaginam, sem estudar o assunto, que o País precisa de reforma da Previdência para ontem, o que é mentira. E os que querem simplesmente, em homenagem ao corporativismo, negar a necessidade de reforma. A virtude está no meio. Tínhamos seis pessoas ocupadas para financiar uma aposentadoria. Hoje, temos 1,6 empregado para financiar um aposentado. Esse sistema morreu. Precisamos pôr em debate um novo: um sistema de capitalização público, sob controle dos trabalhadores, administrado por executivos premiados e punidos pelo êxito, e com uma agência de risco objetiva para fazer o filtro da alocação desses estoques de poupança compulsória vinculada a investimento de longo prazo. A idade mínima é uma obviedade, mas há de ser com equidade. É absolutamente insustentável moralmente estabelecer a idade mínima de 65 anos para um cidadão que trabalha no semiárido do Nordeste e aquele que trabalha engravatado na Avenida Paulista ”
Corte de juros
“A Previdência vem em segundo lugar no debate da dívida pública. Juro vem em primeiro. As pessoas esquecem que juros têm efeito fiscal. Todo gasto com juro é gasto corrente. A Dilma entregou com 14,25% ao ano. Hoje, está em 8,25%. Jogaram 2017 fora. Já podia ter feito isso (redução da Selic). É uma janela que vai se fechar. Jogamos fora oito anos de juro negativo no exterior. Como faz para baixar? É só fazer. No curto prazo, não há razão estrutural para o juro não estar lá embaixo. E tem de ser mantido assim pelos próximos quatro anos.”
Privatizações
“Nem pensar em privatizar Petrobrás e Eletrobrás. Não é questão de esquerdismo infantil. Brasil e Venezuela têm petróleo excedente e os EUA consomem mais petróleo do que produzem. Por que vamos entregar isso aos estrangeiros? Isso é estratégico, é uma vantagem que vamos ter de usar por 30 anos. A população, zangada com ineficiências do Estado, começa a acreditar que para acabar com o carrapato tem de matar a vaca. Qualquer venda de parcela do petróleo brasileiro feita com a mudança da lei de partilha, se eu for presidente, será desapropriada, com a devida indenização. Se privatizarem a Eletrobrás, também tomaremos de volta. Pode conceder estradas, mas o que faz o gênio brasileiro nos aeroportos? Privatiza os que dão lucro e deixa o resto onerando o Tesouro.”
Banco Central
“Qual Banco Central sério do planeta tem mandato de perseguir inflação como único tiro? O nosso. Precisamos alterar o mandato do BC. Precisamos introduzir o mundo real no Comitê de Políticas Monetárias. Em um governo meu, o BC vai perseguir a menor inflação a pleno emprego.”
Crise fiscal
“A sanidade fiscal é um valor em si mesmo, não para ganhar confiança do sistema, mas para dispensá-la. É preciso ter em mente que sou ex-governador. Isso que me choca às vezes no debate, quererem me transformar num doidão. O Ceará tinha dívida mobiliária muito grande. Faz sentido, só porque venceria em 15 anos, deixar para o futuro? Peguei 3,4% da receita, fui ao mercado e comprei 100% da dívida do Estado. Por que o Ceará é o mais líquido do País? Não tem a ver com a minha história de austeridade?”
Tamanho do Estado
“Não foi o espontaneísmo do mercado que transformou os EUA no que são. Qual é o maior polo exportador de calçados no Brasil? O Ceará. Sem ter todos os insumos, sem ter grande mercado consumidor. Conseguimos com incentivo fiscal, de crédito, capacitação, treinamento, eficiência de infraestrutura. Vou governar com a taxa de juros abaixo da rentabilidade média dos negócios. No Ceará, você pega nota do imposto que pagou, apresenta no banco e tem direito a tomar empréstimo de 75% do que foi pago. Esse empréstimo é subsidiado. Existiria agronegócio sem subsídio? Quer destruir essa dinâmica extraordinária, é só entrar nesses ‘dorianismos’ e ‘alckmismos’ ” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.