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Saúde não é mercadoria!

No mês de julho, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, emitiu uma liminar suspendendo provisoriamen­te a decisão da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) que pedia aos conveniados de planos de saúde a contribuição de 40% sobre quaisquer procedimentos médico-hospitalares, como consultas, exames e internações, além do pagamento das mensalidades que, aliás, não custam pouco. Quanto mais idosos, mais altos são os custos de um plano de saúde em nosso país.

Em sua decisão de suspender esse custo adicional, a presidente do STF se expressou mais ou menos assim: “Saúde não é mercadoria, vida não é negócio e a dignidade não é lucro”! Ouvindo alguns comentaris­tas de economia, entristeceu-me saber que pensam diferentemente da ministra Cármen Lúcia, chamando-a de “poetiza sem noção”.

Afirmam os economistas que saúde é mercadoria sim, porque en­volve dinheiro e custa caro tanto aos conveniados como aos convênios particulares e nem por último aos cofres públicos! Dizem ainda que se os hospitais particulares não tiverem lucro, irão à falência. Ainda que nada seja de graça.

Sempre alguém estará pagando. Seria uma informação irrespon­sável, não fosse cruel! Afinal, os cidadãos brasileiros são obrigados a pagar os impostos mais caros do mundo sem que tenham contraparti­da dos volumosos bilhões recolhidos aqui e ali todos os dias.

Na mesma semana, uma pesquisa do Datafolha informou que 96% dos usuários de planos de saúde reclamaram do péssimo atendimento, da demora no agendamento de consultas, dificuldades em consegui­rem exames de diagnósticos por imagem entre outras tantas.

A média da mensalidade de um plano de saúde para pessoas com mais de 60 anos de idade é de R$ 795,55. Não poucas vezes, o atendi­mento é pior do que o do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS no Brasil é reconhecido no mundo inteiro como “excelente”.

Afirma o Ministério da Saúde que nosso Sistema Único de Saú­de atende com excelência em torno de 170 milhões de brasileiros. É sabido por todos que isso não corresponde com a verdade. Se o SUS funcionasse como afirmam, nossos políticos não procurariam hospi­tais onde a diária custa em torno de R$ 7.500,00.

A liminar é provisória, tendo de ser analisada pelo relator, o decano do STF, ministro Celso de Mello, e depois pelo Plenário da Suprema Corte. A ANS se adiantou em vir a público para afirmar que tal medida não tem nada a ver com a Constituição. E desde quando a garantia da saúde para todos deixa de ser constitucional? É dever, sim, do STF salvaguardar o acesso à saúde digna a todo brasileiro.

Não houvesse tantos desvios de verbas, não houvesse tantos mer­cenários enriquecendo a custa do sofrimento de nosso pobre povo, talvez pudéssemos abrir mão dos planos de saúde e sermos digna­mente atendidos pelo SUS, que há décadas colhe as consequências de administrações perversas. Não esqueçamos isso diante das urnas em outubro próximo!

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