Uma voz angelical responde do outro lado da linha, um timbre agudo mas adocicado, que encanta os ouvidos. “Gosto de falar com brasileiros, sempre me passam boas vibrações”, diz Sarah Brightman para, em seguida, arrematar: “Como está o tempo aí? Aqui faz um calor gostoso”. Ela está na Alemanha e parece esboçar um sorriso quando ouve que São Paulo também está ensolarada. A simplicidade surpreende pois, uma das mais famosas cantoras britânicas da atualidade, Sarah Brightman constrói uma carreira com números impressionantes: em 30 anos, vendeu mais de 32 milhões de cópias e arrematou mais de 180 discos de ouro/platina em mais de 40 países. Boa parte desse sucesso ela vai apresentar em “Sarah Brightman in Concert”, show que vai apresentar no sábado, 24, e domingo, 25, no Espaço das Américas, em São Paulo, seguindo depois para Brasília, Rio e Curitiba.
Bastariam dois momentos para transformar Sarah em um fenômeno planetário. Primeiro, sua interpretação, nos anos 1990, como Christine Daaé no musical “O Fantasma da Ópera”, criação de seu então marido Andrew Lloyd Webber, que se inspirou nela para moldar o papel. Depois, o duo que protagonizou ao lado do tenor Andra Bocelli na canção “Time to Say Goodbye”, apresentada também na Olimpíada de Pequim, em 2008. Soprano com um raro alcance vocal, Sarah é uma das poucas artistas a transitar com facilidade entre o canto lírico e o mais popular, o que lhe rendeu o epíteto de Classical Crossover, fama que hoje não lhe agrada.
“Prefiro ser vista como uma cantora híbrida”, defende-se. “Afinal, esse é o caminho para o futuro, algo que muitas bandas já fazem ao misturar rock com funk e rap. Veja, já tenho uma longa carreira, que foi construída organicamente, ou seja, sempre trabalhei meus diferentes estilos, uma espécie de fusão que faz com que as pessoas chamem de crossover. Acho que é mais que isso.”
Questionada sobre a diferença entre cantar ópera e uma música pop, Sarah responde rápido. “A ópera é de uma época anterior aos estúdios de gravação bem equipados, ou seja, uma atuação totalmente concentrada na voz da cantora. A música pop mais recente te oferece formas distintas para testar variações, graças aos recursos tecnológicos, e, por isso, sempre busquei uma combinação disso para encaixar minha voz. Sempre me apoio na música pop para então testar diferentes qualidades.”
Aos 58 anos, Sarah Brightman busca sempre se inovar. Seu mais recente álbum, por exemplo, “Hymn”, que foi lançado no início de novembro, foi gravado durante dois anos e em sete diferentes cidades. Não foi intencional, garante, mas a forma mais prática que ela e o produtor Frank Peterson encontraram para conciliar com as turnês. Em São Paulo, Sarah vai apresentar um repertório dividido entre os clássicos que marcaram sua carreira e canções do novo disco, que traz um tom quase religioso graças à presença do coral.
Sarah tem uma explicação para esse detalhe: “Eu ainda me recuperava de um momento muito louco em minha vida e precisa superá-lo”, comenta ela sobre a decisão que tomou, em 2010, quando completou 50 anos, de que participaria como astronauta de uma viagem para a Estação Espacial Internacional. Para isso, chegou a fazer um treinamento na Cidade das Estrelas, na Rússia, além de ter desembolsado, segundo a imprensa inglesa, uma bolada equivalente a US$ 52 milhões. Meses antes do embarque, no entanto, ela desistiu, alegando razões familiares.
“Tudo aquilo foi muito louco e eu precisava superar, precisava de um tempo para me reorganizar psicologicamente e o disco nasceu dessa necessidade de me iluminar novamente. Daí, eu me inspirei dos meus tempos de menina, quando ia à igreja, onde todos cantam junto. Por isso, a presença de coro nas canções.”
E, sem que seja perguntada, Sarah começa a falar sobre a música brasileira, que muito a encanta. “Não penso em nomes, mas no ritmo – é algo inigualável, não preciso saber português para entender que ali existe a mais pura poesia”, conta, rindo, aceitando ainda fazer uma confidência sobre como é sua rotina em dia de shows. Antes da apresentação, não é diferente de todo artista (aquecimento vocal, falar pouco), mas depois, ela gosta de tomar uma cerveja, comer batatas fritas enquanto descansa os pés em um balde com gelo. “Te garanto que é um momento fantástico”, gargalha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.