Taís Roxo da Fonseca *
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Era assim que Rolando Boldrin se referia a sua cidade natal. Há alguns anos fui ao Theatro Pedro II assistir a um show do Boldrin, além de ser sua fã, era amiga de sua única filha, a Vera, que morou uns anos em Ribeirão Preto . Quando cheguei no teatro haviam muitas caravanas de toda a região de Ribeirão Preto, mas especialmente de São Joaquim da Barra, que se fez presente naquele dia com muita força.
O nosso Theatro Pedro II tinha ficado pequeno para receber o Boldrin, os camarotes, a plateia, os balcões laterais e as galerias superiores, tudo lotado quando o Boldrin ocupou o palco com seu charme e genialidade, passando a fazer o que mais sabia, contar causos e conquistar a atenção dos fãs que permaneciam imobilizados por tanta admiração que não arriscavam nem ao menos respirar mais fundo para não fazerem barulho, de repente um senhorzinho sentado na fila do gargarejo, começou com uma tosse rouca e alta, mais conhecida como a tosse de cachorro louco até levar um safanão da esposa que falou – engole a tosse meu velho, ninguém tá conseguindo ouvir os causos do Boldrin.
Os joaquinenses realmente amavam o Boldrin, que além de exímio contador de histórias também era poeta , ator e cantor. Foi ele que deu o primeiro beijo na boca em novela da televisão brasileira.
Recentemente o Boldrin pegou o trem para as estrelas ou sei lá para onde, mas onde tiver deve estar muito triste com o acidente de trânsito que vitimou 29 estudantes de São Joaquim da Barra na semana passada, fazendo 12 vítimas fatais, quando o ônibus que retornava de Franca onde os jovens cursavam faculdade , colidiu com uma carreta desgovernada.
As testemunhas afirmaram que num determinado instante surgiu uma carreta e sua carroceria chegou rasgando, como rasga um papel, o lado esquerdo do ônibus . Na rodovia havia um desvio e uma estrada interrompida, escura e mal sinalizada, além de ser uma rota de fuga de pedágio.
Assisti a entrevista de um dos pais de uma estudante de 22 anos que não resistiu aos ferimentos, ele disse “todos os dias a minha filha liga no mesmo horário para busca- la no ponto mas naquela noite passou do horário e ela não ligou”.
Vai ser difícil para São Joaquim superar esse luto. Boldrin fez um poema para a sua cidade que vale a pena lembrar: “Minha São Joaquim, cidade velha de guerra, que guardo dentro de mim, quando conto minha vida, sua imagem é refletida nos casos de São Joaquim.” Boldrin, de agora em diante a imagem de São Joaquim será refletida na tragédia dos estudantes que tiveram a juventude interrompida pelas estradas da vida.
* Advogada