O aviador Santos Dumont, cujos 150 anos de nascimento são celebrados neste dia 20 de julho, terá sua história contada num documentário de longa-metragem com estreia prevista para o fim do ano, no canal Curta!. Dirigido por Mônica Cerqueira e Eder Santos, o filme “Santos Dumont, o Céu na Cabeça” tem como trunfos uma minuciosa pesquisa, que resgata artigos de jornais brasileiros e estrangeiros e documentos deixados pelo próprio Santos Dumont, além de entrevistas com biógrafos e historiadores brasileiros, americanos e franceses.
“A gente fez questão de contar com especialistas, para evitar achismos e relatos fantasiosos”, afirma Cerqueira, que também buscou parentes vivos do biografado e conseguiu entrevistar um de seus sobrinhos-bisnetos, Alberto Dodsworth. Viabilizado pelo canal Curta! por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o longa está sendo feito pela produtora Trem Chic, de Minas Gerais, estado onde Santos Dumont nasceu em 1873.
“A gente quis mostrar como esse brasileiro que foi a Paris aos 18 anos se tornou uma celebridade. Tudo que ele fazia era noticiado. Em dez anos, ele fez 22 máquinas voadoras, desde balões e dirigíveis até o avião. Ele construía e pilotava essas máquinas, o que era uma coisa arriscada. Muitos homens morreram tentando realizar o sonho de voar”, ressalta Cerqueira.
Vida e obra
Alberto Santos Dumont é considerado um dos precursores da aviação e da criação de aeronaves no mundo. Ele nasceu em 20 de julho de 1873, no sítio Cabangu. O local passou, em 1890, a pertencer ao município de Palmyra, em Minas Gerais, um dos bens tombados sob tutela da Força Aérea Brasileira.
Ele era filho de Francisca Santos Dumont, de tradicional família portuguesa que veio para o Brasil em 1808, com D. João VI, e de Henrique Dumont, engenheiro civil de obras públicas que, anos mais tarde, se tornou cafeicultor em Ribeirão Preto. A cidade vizinha, Dumont, tem este nome em homenagem ao aviador, que cresceu na região.
A Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto aprovou, em 31 de outubro de 1903, a doação de um conto de réis para suas pesquisas. A proposta partiu do prefeito Manuel Aureliano de Gusmão (1857-1922). De ascendência francesa, Henrique Dumont influenciou a trajetória do filho Alberto, direcionando os estudos do rapaz para a mecânica, física, química e eletricidade, dado o seu interesse pelo funcionamento de máquinas da fazenda.
O sonho de voar de Alberto surgiu aos 15 anos, quando ele viu um balão livre nos céus de São Paulo. Esse tipo de balão faz sua ascensão sem possuir nenhum tipo de dirigibilidade, ficando ao sabor das correntes aéreas. Emancipado pelo pai, o jovem Alberto, de 18 anos, viajou para Paris para completar os estudos e perseguir o seu sonho de voar.
Ao chegar à capital francesa, ele se admira com os motores de combustão interna a petróleo que começavam a aparecer impulsionando os primeiros automóveis e compra um para si, investigando todo o seu funcionamento. Logo estava promovendo e disputando as primeiras corridas de automóveis em Paris.
Aos 24 anos, teve sua primeira decolagem bem-sucedida a bordo de um balão livre alugado. Um ano depois, em 1898, projeta e constrói, com a ajuda de operários e construtores de balões franceses, seu primeiro balão livre, que recebeu o nome de Brasil, o menor balão tripulado já feito, homenageando seu país de origem. Logo em seguida, Santos Dumont inventou os balões dirigíveis.
Em 1901, pilotou seu balão Número 6, movido a gasolina, sobre Paris, e ganhou prêmio de 100 mil francos por seu feito. Tornou-se o centro das atenções, despertando o interesse militar para seus balões. Após o sucesso conquistado com balões e dirigíveis, Santos Dumont partiu para outra linha de pesquisa, que era voar com um veículo mais pesado que o ar.
O primeiro salto no ar do 14 Bis ocorreu no dia 7 de setembro de 1906, mas faltou potência. Em outubro do mesmo ano, com motor Antoinette de 50 HP, o 14 Bis voou, decolando, mantendo-se no ar por uma distância de 60 metros, a três metros de altura, e aterrissou. Foi o primeiro voo homologado do mais pesado que o ar para uma multidão de testemunhas eufóricas no campo de Bagatelle, em Paris.
No dia seguinte, toda a imprensa francesa enalteceu o fato histórico, o triunfo de um obstinado brasileiro, que, pelo feito, conquistou o prêmio Archdeacon oferecido pelo Aeroclube da França. O dinheiro do prêmio foi distribuído entre operários e pobres de Paris, como era o costume do inventor.
Santos Dumont se tornou uma celebridade conhecida mundialmente. Em 1909, ele voou no avião Demoiselle, um dos primeiros aeroplanos do mundo, que se tornou um sucesso comercial. O inventor brasileiro trabalhou também em melhorias no desenho do avião, entre as quais a adição de cauda vertical para melhor estabilidade e controle.
Seus projetos foram aperfeiçoados por outros aviadores e projetistas, uma vez que ele não os patenteava. Sua ideia era dotar a humanidade com meios que facilitassem as comunicações. Por isso, ficou desgostoso com o uso agressivo que o avião teve na Primeira Guerra Mundial. Em 31 de julho de 1932, a cidade de Palmyra, em Minas Gerais, passou a ser conhecida como Santos Dumont, em homenagem ao pai da aviação.
Retorno
Em 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, Santos Dumont retornou ao Brasil, sendo recebido com festa pela população. Ele morreu em 23 de julho de 1932, em Guarujá (SP), mas seu legado vive até hoje. Seu coração está preservado sob a custódia da Força Aérea Brasileira e encontra-se em exposição no Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro.
Em 4 de julho de 1936, a lei 218 declarou o dia 23 de outubro como o Dia do Aviador, homenageando, assim, o primeiro voo do mais pesado que o ar. No mesmo ano, o primeiro aeroporto do Rio recebeu o nome do aeronauta. Na década de 1970, ele foi considerado Engenheiro Honoris Causa pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.