Provavelmente você aprendeu que o dia 19 de abril é o Dia do Índio. Caso você seja católico, deve saber que na mesma data celebra-se o Dia de Santo Expedito, mas qual o ponto de convergência entre as duas comemorações?
A história do índio brasileiro é de lutas e superação, muitas vezes sendo submetido à morte por lutar por suas crenças, cultura e terra. Segundo a tradição da Igreja Católica, Expedito foi um soldado e transformou-se em mártir da fé ao ser decapitado, após recusar-se a renunciar ao Cristianismo. Padroeiro dos estudantes, dos viajantes e dos militares, deve ter ficado ruborizado ao saber dos comentários feitos por um policial sobre os seios desnudos das indígenas que participavam do 18º Acampamento Terra Livre, em Brasília.
Ao final do evento as mais de 8 mil lideranças de 200 povos indígenas, de todas as regiões do Brasil aprovaram um documento onde se declaram unidos contra “um declarado plano de morte, etnocídio, ecocídio e genocídio, nunca visto nos últimos 34 anos de Democracia no nosso país” e comparam a realidade atual com os tempos da invasão colonial. Citam nominalmente o presidente da república por proferir discursos racistas e de ódio contra Povos Indígenas. Também denunciaram o desmonte das instituições, políticas e programas conquistados e alinhados com os direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988.
Para os líderes indígenas, o atual presidente trabalha para legalizar a atuação de organizações criminosas que agem nos territórios: milicianos, garimpeiros, pecuaristas, madeireiras, e grileiros. Denunciam, também, a agressão às diversas identidades socioculturais. No documento demonstram a preocupação com a tramitação no Congresso Nacional de projetos como a Mudança do Marco Temporal; da Mineração em Terras Indígenas; o pacote do Veneno; da grilagem de Terras públicas e do Estatuto do desarmamento e porte de armas. O considerável aumento nas estatísticas de violência no campo e de degradação ambiental são provas contundentes do retrocesso nos cuidados ambientais e humanos.
Durante muito tempo a verdadeira história dos povos indígenas brasileiros foi omitida nos bancos escolares. Falavam das influências na língua com a utilização de diversas palavras e na cultura ao deitar em redes e preparar pratos como tapioca e pirão de peixe, o uso de plantas nativas com fins medicinais e as crenças folclóricas como Saci Pererê e Curupira. A usurpação da fé, costumes e do próprio território era amenizada ou omitida. Não me recordo de ter aprendido sobre o Massacre do Paralelo 11, ocorrido em 1960, quando cerca de 3.500 índios Cinta Larga morreram envenenados por arsênico.
Não tive aulas sobre os bombardeios, chacinas e destruição de locais sagrados que quase dizimaram os Waimiri Atroari que eram mais de 3 mil em 1972 e chegaram a 350 sobreviventes em 1983. Naquele período as grandes obras na Amazônia serviram de pretexto para genocídio. Agora até aguerra Rússia/Ucrânia é usada como tentativa de justificar a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas.
Hoje, além da educação formal, a grande maioria dos brasileiros possui acesso à informação. Desta vez não dá para acreditar em notícias falsas ou afirmar que não conhece a preocupante situação dos indígenas. As nações indígenas possuem crenças e rituais religiosos diferenciados. Muitos acreditam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados, enquanto muitas se tornaram cristãs. Assim, além da conscientização e solidariedade popular e de governantes sérios e justos, não dispensam o socorro de Santo Expedito nessas causas justas e urgentes destes tempos de aflição e desespero.