Tribuna Ribeirão
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Santinha! 

Pe. Gilberto Kasper *
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No último dia 26 de outubro, bem na Hora da Ave Maria, ecoava na eternidade o nome de Maria da Conceição Freire Moreira, carinhosamente conhecida e chamada de Santinha. Poucos minutos antes recebeu a absolvição e unção dos enfermos. Consciente e exalando profunda paz de espírito, respondeu generosamente ao eco de seu nome e celebrou sua páscoa, na certeza do encontro definitivo, nessa “viagem sem volta”, com a corte celestial, sentando-se no colo de Deus, acariciada por Nossa Senhora que tanto amou ao longo de seus 97 anos bem vividos! Por 15 anos tive o privilégio de usufruir da amizade desta mulher-igreja, discípula e missionária apaixonada pela Igreja, especialmente através do Movimento das Equipes de Nossa Senhora. 

Equipes de Nossa Senhora “é um movimento católico, leigo e constituído por casais que buscam no sacramento do matrimônio um ideal de vivência cristã”. “O movimento iniciou em Paris, em 1939 fundado pelo Padre Henri Caffarel (em processo de beatificação). Chegou ao Brasil em 1950” e a Santinha integrava a Equipe de número 01 do Setor A da Arquidiocese de Ribeirão Preto, denominada de Equipe de Nossa Senhora da Esperança. Mesmo que o movimento ofereça um grupo especial para viúvas, a Santinha optou por continuar na sua equipe, enriquecendo-a com sua sabedoria, retidão, sinceridade, seu jeito caridoso de chamar a atenção, sempre que necessário, brindando aos que com ela conviviam um largo e puríssimo sorriso. Santinha exalava santidade na simplicidade. Respeitada e amada por todos, porque não se utilizava de “meias palavras”, também ela amava apaixonadamente o movimento das Equipes de Nossa Senhora, a Igreja, o Santo Padre, sem falar do respeito e fidelidade para com os Sacerdotes Conselheiros de Equipes.

Durante a Pandemia, ocasião em que as celebrações passaram a ser transmitidas “ao vivo” pelo YouTube, a Santinha escolheu inscrever-se no YouTube da Paróquia Santa Teresa D’Ávila do Jardim Recreio em Ribeirão Preto. Ela encantou os mais de mil e quatrocentos fiéis que celebravam conosco, com seus comentários sempre muito elogiosos, porém contundentes, após cada celebração dominical. Avaliava os cantos, as homilias, o ambiente de nossa Igreja Matriz e nem por último a excelência da transmissão. Agradecia, emocionada, pela acolhida que sentia por parte da Comunidade que se tornara para ela “A Igreja do Ir” até seu lar, já que ela não podia sair.

Por muito tempo, mesmo com seus limites físicos e o peso da idade de 96 anos, porque completaria 97 no próximo dia 1º de dezembro, se demonstrava preocupada com todos que a amaram e que ela amou. Dava e pedia notícias de sua amada Equipe de Nossa Senhora da Esperança, quase que diariamente. Quando sua saúde física começou a falhar, ela teve a lucidez espiritual de anunciar, elegantemente, de que continuaria próxima na oração, oferecendo seus limites até mesmo de gravar áudios pelo WhatsApp, mas que entraria um período de silêncio. E assim permaneceu por longos meses, aguardando ser chamada para passar pela “porta estreita”, por onde passamos por aquilo que fomos, por aquilo que fizemos e jamais por aquilo que tivemos.

Não gosto de pensar que perdemos as pessoas que amamos. Prefiro crer que as devolvemos a quem de direito, o Criador. Somos emprestados uns aos outros: alguns por mais, outros por menos tempo. A Santinha teve a graça de ensaiar seus instrumentos (com a linda e querida família que constituiu, os amigos que conquistou) por quase um século, para enfim, estrear na grande orquestra celestial, “regida pelo Espírito Santo”, no último dia 26 de outubro, bem na hora em que costumamos rezar o Ângelus. Não tenho nenhuma dúvida de que Nossa Senhora mesma a levou para contemplar a face do Senhor, e isso lhe basta!

* Padre, professor universitário, teólogo, assessor da Pastoral da Comunicação e reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e jornalista 

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