Tribuna Ribeirão
Economia

SALÁRIO MÍNIMO – Valor é o menor em 23 anos

O reajuste do salário mínimo em 2018 será o menor desde a criação do Plano Real, em 1994. No último dia útil do ano, o pre­sidente Michel Temer (PMDB) assinou decreto que eleva o be­nefício em 1,81%, de R$ 937 para R$ 954. Além de ser o menor au­mento em 23 anos, o reajuste será inferior à inflação acumulada nos últimos doze meses pela primeira vez desde 2011.

O valor divulgado, que passa a valer a partir de segunda-feira, 1º de janeiro, é R$ 11 menor do que a última previsão estipulada no Orçamento de 2018, aprovado no Congresso no valor de R$ 965. O reajuste segue a previsão do Índice de Preços ao Consumidor (INPC). De acordo com o Depar­tamento Intersindical de Estatísti­ca e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em novembro deste ano o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 3.731,39, ou 3,98 vezes o mí­nimo de R$ 937.

Em outubro, o piso ideal era de R$ 3.754,16, ou 4,01 vezes o mínimo vigente. Já no penúlti­mo mês do ano passado, o salá­rio mínimo necessário foi de R$ 3.940,41 ou 4,48 vezes o piso em vigor, que corresponde a R$ 880. Cerca de 45 milhões de pessoas no Brasil recebem salário míni­mo, entre aposentados e pen­sionistas, cujos benefícios são, ao menos em parte, pagos pelo governo federal.

Agora, o reajuste anunciado discretamente em um decreto presidencial surpreende ao trazer aumento menor que o sinalizado pelo próprio governo. Em agosto, a Lei de Diretrizes Orçamentá­rias (LDO) previa aumento do mínimo para R$ 979 – aumento nominal de 4,48%. Uma semana depois, porém, o governo revisou a previsão para baixo e tirou R$ 10 do salário ao reduzir o valor para R$ 969 – o que indicaria au­mento de 3,41%.

O valor anunciado na tarde desta sexta-feira, 29 de dezem­bro, porém, é ainda menor. Do valor revisado pelo próprio go­verno, foram retirados mais R$ 15. Portanto, o governo reduziu o novo mínimo que passará a ser pago aos trabalhadores em R$ 25 ao longo dos últimos meses. Até a quinta-feira (28), o menor reajuste anual do mínimo havia sido concedido em 1999, quando aumentou 4,62%. A inflação acu­mulada em doze meses era, po­rém, menor que o reajuste: 3,14%.

Por isso, apesar de pequeno, o reajuste garantiu aumento real de 1,48% aos trabalhadores e pensionistas naquele ano. Desde então, o mínimo sempre teve au­mento superior à inflação exceto em 2011, quando subiu 5,88% e ficou ligeiramente abaixo da in­flação de 5,99%. No Plano Real, o maior aumento nominal do mí­nimo ocorreu em 2003, quando o salário subiu 20%, ao passar de R$ 200,00 para R$ 240,00. Quando o real foi adotado como a moeda brasileira, em julho de 1994, o mínimo era de R$ 64,79.

No decreto assinado nesta sexta-feira, o governo também detalha o valor diário mínimo pago ao trabalhador que passará a ser de R$ 31,80 e a hora traba­lhada, em R$ 4,34. Esses valores são usados como referência para os novos contratos intermitentes de trabalho – quando o emprega­do atua por hora ou dia e, por isso, deve receber pelo menos propor­cional ao salário mínimo.

“Desculpas” – O reajuste leva em conta a previsão da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda de INPC de 1,88% no acumulado de 2017. A informação é do Ministério do Planejamento. O cálculo do novo mínimo também compensa o aumento ligeiramente mais alto de R$ 1,41 que o devido em 2017.

Segundo a assessoria de im­prensa do Planejamento, o es­tabelecimento do novo salário mínimo em R$ 954 para 2018 usou como referência a previsão da Fazenda para a inflação no último mês do ano – que só será conhecida nos primeiros dias de janeiro. O ministério prevê que o INPC deve ter alta bem próxima de zero em dezembro terminan­do o ano em 1,88%. Até novem­bro, o índice que reajusta o míni­mo acumulava alta de 1,80% no ano e de 1,95% em 12 meses.

Houve, ainda, pequeno arre­dondamento para baixo como forma de compensar o reajuste concedido em 2017. Naquela ocasião, o governo anunciou novo valor com a previsão de inflação que se confirmou ligei­ramente inferior. Isso gerou au­mento extra (acima da inflação) de R$ 1,41 ao mínimo. Agora, in­forma o Planejamento, está ocor­rendo a compensação para baixo. Esse instrumento é previsto na legislação que cita que “eventuais resíduos serão compensados no reajuste subsequente”.

O Planejamento informou ainda que a queda das estimati­vas do próprio governo para o mínimo – que inicialmente eram de R$ 979 e caíram para R$ 969 – é explicada pela surpresa com a inflação mais baixa. Quando o governo elaborou o Orçamento de 2018, a previsão de inflação era de 4,6%. O índice, porém, teve alta inferior à metade previs­ta alguns meses atrás.

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