A Rudolf Von Ihering se deve muito do que se conhece da fauna e da flora do Brasil. Deixou numerosos escritos e vale a pena procurá-los, já que não são achados com facilidade. Em seu clássico e excelente livro “Da vida dos nossos animais” fala de uma curiosidade interessante sobre tatus e mulitas (um tipo de tatu). Relata que, viajando pelos sertões brasileiros, ouviu a seguinte trova:
O tatu mais a mulita
diz lei da sua criação:
“se é macho não tem irmã;
se fêmea não tem irmão.”
Curioso, procurou saber mais sobre o significado da trova e, espantado, percebeu que aqueles matutos sabiam realmente do que falavam já que aqueles mamíferos realmente se reproduziam seguindo a regra citada. Era uma clara manifestação de sabedoria popular, aquela que vem da observação das coisas que ocorrem no dia-a-dia e que passam de pessoa para pessoa, de geração para geração.
Obviamente aquelas pessoas simples do Sertão nada sabiam a respeito de gêmeos idênticos, univitelínicos, nada conheciam sobre o processo de desenvolvimento embrionário, mas já tinham observado o fenômeno por muito tempo e estavam certos de que as ninhadas de tatus e de mulitas eram sempre constituídas por filhotes semelhantes entre si, todos do mesmo sexo. O livro relata muitos outros exemplos de sabedoria recolhidas pelo cientista em suas viagens.
Observou também que nem tudo era sabedoria que passava através das gerações, havendo, ao contrário, muitas crendices e tabus, principalmente os ligados à alimentação. Assim eram comuns idéias como a de que comer manga com leite “faz mal”; de que lavar o umbigo seria danoso para a saúde, e muitas outras sem nenhum sentido. Alguns desses tabus e crendices são muito prejudiciais, podendo acarretar problemas de saúde de diferentes tipos. Ainda assim, em nossas comunidades mais simples persistem muitas dessas crenças. E, infelizmente, é de algumas crendices que vivem muitos políticos e muitas políticas.
Mas, disso falaremos em outra ocasião.