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Rússia bombardeia teatro com crianças

DONETS/DIVULGAÇÃO VIA REUTERS -

O bombardeio da Rússia ao teatro de Mariupol, cida­de de 400 mil habitantes na Ucrânia, destruiu o local que servia de abrigo para pessoas que precisaram abandonar as suas casas por conta da guerra. Centenas de crianças estavam no local, e imagens divulga­das nesta quinta-feira, 17 de março, mostram que os ucra­nianos haviam pintado os dois pátios do edifício com a pala­vra “crianças” para avisar sobre a presença delas.

Apesar disso, o ataque acon­teceu e o número de sobreviven­tes e vítimas ainda é desconheci­do. Os esforços de resgate foram prejudicados por escombros e por novos bombardeios sobre a cidade. Mas, de acordo com Serhi Taruta, um político ucra­niano, muitas pessoas saíram vivas do local. Apesar da devas­tação, acredita-se que os abri­gados estavam em um porão antibomba do teatro – cons­truído durante a União Sovié­tica – que resistiu ao ataque.

As forças russas na Ucrânia estão bombardeando cidades e matando civis, mas não estão mais fazendo progresso por terra, disseram países ociden­tais nesta quinta-feira. A guer­ra que Moscou esperava ven­cer em poucos dias entrou em sua quarta semana, com cerca de três milhões de refugiados ucranianos. Segundo a Orga­nização das Nações Unidas (ONU), 726 civis ucranianos já morreram na guerra, entre eles 52 crianças (dado revisado). O número de feridos chega a 1.174, sendo 63 crianças, entre 24 de fevereiro e 15 de março.

Porão
O porão do teatro serve de refúgio para centenas de famílias desde que Mariupol foi cercada por tropas russas e a cidade co­meçou a ser bombardeada. Até 1,2 mil pessoas estavam no tea­tro, segundo o vice-prefeito da cidade. A Human Rights Wat­ch, citando entrevistas com re­fugiados, colocou esse número entre 500 e 800.

Segundo uma reportagem da BBC, dezenas de mães se aglutinavam no local espremi­das em quartos e corredores escuros. Algumas das crianças eram bebês com apenas quatro ou cinco meses de idade. Nos primeiros dias de abrigo, se­quer havia comida suficiente para todos. As famílias também dormiam em camas improvi­sadas feitas com as almofadas dos assentos do auditório.

Os assentos de madeira, segundo os relatos da BBC, foram cortados em pedaços e usados como lenha para cozinhar. Imagens de satéli­te divulgadas pela empresa americana Maxar, tiradas na segunda-feira (14), mos­tram que a palavra russa para “crianças” havia sido marca­da no chão em letras grandes em dois locais fora do prédio, para alertar os jatos russos.

A Rússia nega ter alvejado o local, mas, apenas em Mariu­pol, seus ataques já atingiram vários prédios civis, incluindo uma maternidade, uma igreja e inúmeros apartamentos. Cerca de 300 mil pessoas seguem presas na cidade, sem eletri­cidade, gás e água encanada. Os sinais das operadoras de celular também foram per­didos. Alimentos e remédios estão perto do fim. Nesta se­mana, a Ucrânia afirmou que a Rússia impediu a entrega de ajuda humanitária.

A guerra na Ucrânia já causou 43 ataques contra ins­talações de saúde, denun­ciou a Organização Mun­dial da Saúde (OMS). Mais de 300 instalações de saúde ucranianas estão na linha do conflito ou em áreas que a Rússia passou a controlar e outras 600 estão a dez qui­lômetros da linha do conflito. A guerra ameaça deixar 90% dos ucranianos abaixo do li­miar da pobreza. A conclusão é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (Pnud).

Na capital Kiev, um prédio no distrito de Darnytsky foi amplamente danificado. Auto­ridades disseram ser destroços de um míssil disparado no iní­cio da manhã de ontem. En­quanto os moradores tiravam os vidros e levavam as sacolas com seus pertences, um ho­mem se ajoelhou chorando, ao lado do corpo de uma mu­lher que estava perto de uma porta, coberta por um lençol ensanguentado.

Embora os dois lados te­nham indicado progresso li­mitado nas negociações de paz nesta semana, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que ordenou a invasão em 24 de fe­vereiro, mostrou poucos sinais de ceder. Em um discurso pela televisão, ele criticou “traidores e escória” de dentro do seu país que estariam ajudando o Oci­dente, e disse que o povo russo os cuspiria como mosquitos.

O Tribunal Penal Inter­nacional (TPI), em Haia, na Holanda, determinou na quar­ta-feira que a Rússia deve sus­pender imediatamente suas operações militares na Ucrâ­nia. A votação foi de 13 votos a dois. Ambas as partes do con­flito, Moscou e Kiev, devem evitar qualquer ação que possa agravar ou prolongar o conflito ou que o torne mais difícil de resolver, afirmou Haia.

Já o Conselho da Europa expulsou a Rússia do principal órgão de direitos humanos do continente, devido à invasão e guerra na Ucrânia, numa ação sem precedentes cujo processo já tinha sido iniciado por Mos­cou. O comitê da organização, composta por 47 Estados-mem­bros, disse, em comunicado, que “a Federação Russa deixou de ser membro do Conselho da Europa a partir de hoje (on­tem), 26 anos após adesão”.

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