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Ruas da memória

No final da década de 1950, algumas das ruas de Ribeirão Preto ainda não eram oficialmente batizadas, razão pela qual recebiam nomes por iniciativa do seu povo. Posteriormente receberam nome indicado por órgão governamental. Há outras cidades no mundo que mantive­ram os nomes fixados pela história de seu povo.

Uma delas é Paris. Quem sai do Museu do Louvre, pela sua porta principal, e, segue para o lado direito, chegará ao bairro denominado Marais que, na língua originária significa “brejo”. Trata-se de área cortada pelo Rio Sena, onde, no passado foi instalado um bairro comercial. Passados os anos e alguns séculos o local continua sendo conhecido como “marais”.

Outra delas chama-se Rua do Sabot que corta uma passagem de uma região marcada por residências de pensadores. Fica, portanto, pró­xima da Universidade. A palavra “sabot” significa “tamanco”. Durante a instalação do Estado Industrial, muitas fábricas de tecido por ali foram instaladas. Os trabalhadores prestavam serviços usando tamancos.

Afirma-se que quando reclamavam pelo tratamento dispensado pelos seus empregadores, jogavam os seus tamancos nas máquinas que­brando os teares. A rua tem o nome de um marco histórico, tanto que da palavra “sabot” surgiu “sabotagem”, vocábulo usado em quase todos os países ocidentais. É possível afirmar que Paris tem muita preocupa­ção com a sua história. E Ribeirão Preto?

Por volta de 1950, um estudante ganhou de seu pai uma bicicleta alemã, cujo nome seria algo próximo de “Remblam”. O Brasil não fabri­cava bicicleta e muito menos automóvel.

Com o presente, o mundo ficou menor. Foi possível, por exemplo, pas­sear pela Rua do Bosque. Ou pela margem do córrego que liga o oeste com o leste da cidade que até então se chamava “Lavador” – ali os carroceiros lavavam seus cavalos, na altura do que hoje corta a Avenida Independência. Não existia também a Avenida Nove de Julho que está hoje tão envelhecida, que guarda no seu chão cabelos embranquecidos. Pobres avenidas!

Uma das ruas mais notáveis da cidade ligava a Vila Tibério com a área da Escola Prática de Agricultura que, atualmente foi transformada no “campus” da Universidade de São Paulo. Aquela antiga passagem, se bem me lembro, passava pelas imediações do Lar Santana. Chamava-se “Corredor dos Calabreses”.

O “Corredor dos Calabreses”, que então era uma rua descalçada, man­tinha uma série de casas que abrigava famílias de italianos recentemente vindas da Europa. Os pais, quase todos, trabalhavam ainda na agricultura.

O local era visitado pelos ribeirão-pretanos que não cansavam de admirar a educação dos italianos recém-chegados, sempre alegres, sem­pre prontos para atender aqueles que por ali chegassem.

Perguntei a um servidor público qual o nome que substituiu o ori­ginário “Corredor dos Calabreses”. Disseram-me que o antigo corredor hoje é apelidado como Rua Paranapanema.
Mas por que a cidade de Ribeirão Preto não manteve o nome origi­nário registrando a chegada aqui dos italianos? Para a história do nosso povo a chegada dos italianos foi menos importante do que a palavra “Paranapanema”? Penso que não.

Estamos convencidos de que se estivéssemos em Paris aquela rua registrada na nossa memória ainda seria “Corredor dos Calabreses”. Como também se tivéssemos ainda uma bicicleta poderíamos subir uma rua que na época era o caminho do Bosque Municipal, outro ponto marcante da nossa tão brava e brilhante cidade de São Sebastião de Ribeirão Preto.

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