Tribuna Ribeirão
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RP sofre com calor de 39 graus e seca

ALFREDO RISK/ARQUIVO

Ribeirão Preto registrou mais um dia de muito calor e baixa umidade relativa do ar nesta terça-feira, 21 de setem­bro. Entre 13 e 14 horas, os ter­mômetros marcavam 39 graus Celsius, a maior temperatura do ano, assim como já havia ocorrido no domingo (19) e na segunda-feira (20). A sensação térmica era ainda pior. A cida­de parecia um forno no meio da tarde de ontem.

A umidade chegou a 15% na tarde desta terça-feira, es­tado de alerta. A taxa ideal é de 60%, segundo a Organiza­ção Mundial de Saúde (OMS). Abaixo de 30% o município entra em estado de atenção e quando o índice é inferior a 20% a situação é de alerta. Abaixo de 12% já é considera­do um caso de emergência.

A Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu alerta laranja para a região de Ribeirão Preto por causa do calor intenso previs­to para este início de semana. Essa onda deve dar uma trégua nesta quarta-feira (22), mas sem re­fresco. As temperaturas vão continuar altas, acima de 30ºC.

Segundo o Climatempo, nesta quarta-feira (22), a tem­peratura em Ribeirão Preto vai oscilar entre 19 graus Celsius e 33ºC. A umidade relativa do ar deve ficar entre 21% e 67%. Não há previsão de chuva para os próximos dias, mesmo com a chegada da primavera – que, no hemisfério sul, começa hoje. Este inverno foi o mais seco no município em 22 anos. Choveu menos de 10% do que o previsto para a estação.

A frente fria que já afeta a capital paulista não deve cau­sar queda brusca de tempera­tura na região. Parte da popu­lação brasileira se vê às voltas com temperaturas elevadas e clima extremamente seco. Em um comunicado divulgado na segunda-feira (20), o Institu­to Nacional de Meteorologia (Inmet) chama a atenção para o grande perigo de ocorrên­cia de incêndios florestais por causa da baixa umidade relati­va do ar.

Na lista estão 461 cidades do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins. Ribeirão Preto é ci­tada no relatório, assim como Araçatuba e São José do Rio Preto, além do Triângulo Mi­neiro e a região noroeste de Minas Gerais.

Segundo o Inmet, ao me­nos até o fim desta terça-feira, nestas regiões, a umidade re­lativa do ar poderia ficar abai­xo de 12%, potencializando a chance de incêndios e pode fazer mal à saúde das pessoas, que devem procurar se hidra­tar e evitar fazer atividades físicas ao ar livre nos horários mais quentes do dia.

A região de Ribeirão Preto vem sofrendo com os incên­dios florestais. De acordo com a Companhia de Tecnologia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Ribeirão vem registrando o pior índice de qualidade do ar entre as ci­dades monitoradas. Já esteve “ruim”, “muito ruim” e “péssi­ma” neste inverno, agravando a situação de quem tem pro­blemas respiratórios.

No dia 6 de setembro, a ci­dade registrou o menor nível de qualidade do ar em 70 anos (“péssima”). Também foi a pior qualidade do ar verificada em todo o Estado. Trechos de ro­dovias foram interditados nos últimos dias por causa do fogo. Para denunciar ações crimino­sas, as pessoas podem ligar para a própria corporação (193), para a Polícia Militar (190) ou para a prefeitura (156). O número de queimadas no Estado, este ano, já é o maior em dez anos.

De janeiro até 14 de setem­bro, foram 4.769 focos, 12% a mais do que no mesmo perí­odo de 2020, até então o ano com mais incêndios (4.264). Nas duas primeiras semanas deste mês, os satélites do Insti­tuto Nacional de Pesquisas Es­paciais (Inpe), órgão do Minis­tério da Ciência, registraram 1.156 queimadas no Estado, 171% a mais que no mesmo período do mês passado, quan­do foram 427 focos. Em julho, já com o período seco avança­do, haviam sido 288 focos.

Lagoa do Saibro está seca de novo
A Lagoa do Saibro, na Zona Leste de Ribeirão Preto, área de recarga do Aquífero Guarani, secou com a onda de calor que atinge a região. Não é a primeira vez que isso acontece. O reservatório subterrâ­neo de água tem cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão e se estende por oito estados do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Em Ribeirão Preto, cidade que mais usa o manancial – todo o abastecimento da população de 720.116 habitantes é feito via poços artesianos –, o nível do aquífero caiu 120 metros em 71 anos, segun­do estudos feitos pelo geólogo Júlio Perroni, da Universidade de São Paulo. A mesma pesquisa concluiu que atualmente a queda chega a dois metros a cada ano, o dobro do registrado em 2012.

Segundo o pesquisador, os resultados colocam o aquífero entre aqueles não considerados renováveis. “O consenso mundial para você considerar o aquífero como renovável é quando o tempo de re­novação da água é inferior a 500 anos. Em Ribeirão Preto, o período estimado de seis mil anos coloca o aquífero Guarani na categoria de não renovável”, diz.

Em 2013, no segundo mandato de Dárcy Vera, por meio de um anteprojeto elaborado pela prefeitura, o Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão (Daerp) chegou a cogitar a captação de água do Rio Pardo a partir de 2015. O custo total da obra estava orçado em R$ 630 milhões, depois caiu para R$ 530 milhões.

Na época, a Agência Nacional de Águas (ANA) estimava que o aquífe­ro teria capacidade para abastecer a cidade durante dois anos e recomendou a fonte alternativa. O anteprojeto previa a implantação gradativa do tratamento e da distribuição de água em 30 anos e che­gou a ser enviado pelo Daerp ao então Ministério das Cidades – atual Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).

Porém, a proposta foi engavetada por causa da crise financeira que assolava a prefeitura á época e por causa da resistência da popula­ção – chegou a ser tema de discussão nas eleições municipais de 2016. Agora, o Daerp diz que vai enviar projeto ao governo federal requisitando recursos para construção da estação de tratamento e captação de água do Pardo.

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