Ribeirão Preto registrou mais um dia de muito calor e baixa umidade relativa do ar nesta terça-feira, 21 de setembro. Entre 13 e 14 horas, os termômetros marcavam 39 graus Celsius, a maior temperatura do ano, assim como já havia ocorrido no domingo (19) e na segunda-feira (20). A sensação térmica era ainda pior. A cidade parecia um forno no meio da tarde de ontem.
A umidade chegou a 15% na tarde desta terça-feira, estado de alerta. A taxa ideal é de 60%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Abaixo de 30% o município entra em estado de atenção e quando o índice é inferior a 20% a situação é de alerta. Abaixo de 12% já é considerado um caso de emergência.
A Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu alerta laranja para a região de Ribeirão Preto por causa do calor intenso previsto para este início de semana. Essa onda deve dar uma trégua nesta quarta-feira (22), mas sem refresco. As temperaturas vão continuar altas, acima de 30ºC.
Segundo o Climatempo, nesta quarta-feira (22), a temperatura em Ribeirão Preto vai oscilar entre 19 graus Celsius e 33ºC. A umidade relativa do ar deve ficar entre 21% e 67%. Não há previsão de chuva para os próximos dias, mesmo com a chegada da primavera – que, no hemisfério sul, começa hoje. Este inverno foi o mais seco no município em 22 anos. Choveu menos de 10% do que o previsto para a estação.
A frente fria que já afeta a capital paulista não deve causar queda brusca de temperatura na região. Parte da população brasileira se vê às voltas com temperaturas elevadas e clima extremamente seco. Em um comunicado divulgado na segunda-feira (20), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) chama a atenção para o grande perigo de ocorrência de incêndios florestais por causa da baixa umidade relativa do ar.
Na lista estão 461 cidades do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins. Ribeirão Preto é citada no relatório, assim como Araçatuba e São José do Rio Preto, além do Triângulo Mineiro e a região noroeste de Minas Gerais.
Segundo o Inmet, ao menos até o fim desta terça-feira, nestas regiões, a umidade relativa do ar poderia ficar abaixo de 12%, potencializando a chance de incêndios e pode fazer mal à saúde das pessoas, que devem procurar se hidratar e evitar fazer atividades físicas ao ar livre nos horários mais quentes do dia.
A região de Ribeirão Preto vem sofrendo com os incêndios florestais. De acordo com a Companhia de Tecnologia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Ribeirão vem registrando o pior índice de qualidade do ar entre as cidades monitoradas. Já esteve “ruim”, “muito ruim” e “péssima” neste inverno, agravando a situação de quem tem problemas respiratórios.
No dia 6 de setembro, a cidade registrou o menor nível de qualidade do ar em 70 anos (“péssima”). Também foi a pior qualidade do ar verificada em todo o Estado. Trechos de rodovias foram interditados nos últimos dias por causa do fogo. Para denunciar ações criminosas, as pessoas podem ligar para a própria corporação (193), para a Polícia Militar (190) ou para a prefeitura (156). O número de queimadas no Estado, este ano, já é o maior em dez anos.
De janeiro até 14 de setembro, foram 4.769 focos, 12% a mais do que no mesmo período de 2020, até então o ano com mais incêndios (4.264). Nas duas primeiras semanas deste mês, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência, registraram 1.156 queimadas no Estado, 171% a mais que no mesmo período do mês passado, quando foram 427 focos. Em julho, já com o período seco avançado, haviam sido 288 focos.
Lagoa do Saibro está seca de novo
A Lagoa do Saibro, na Zona Leste de Ribeirão Preto, área de recarga do Aquífero Guarani, secou com a onda de calor que atinge a região. Não é a primeira vez que isso acontece. O reservatório subterrâneo de água tem cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão e se estende por oito estados do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Em Ribeirão Preto, cidade que mais usa o manancial – todo o abastecimento da população de 720.116 habitantes é feito via poços artesianos –, o nível do aquífero caiu 120 metros em 71 anos, segundo estudos feitos pelo geólogo Júlio Perroni, da Universidade de São Paulo. A mesma pesquisa concluiu que atualmente a queda chega a dois metros a cada ano, o dobro do registrado em 2012.
Segundo o pesquisador, os resultados colocam o aquífero entre aqueles não considerados renováveis. “O consenso mundial para você considerar o aquífero como renovável é quando o tempo de renovação da água é inferior a 500 anos. Em Ribeirão Preto, o período estimado de seis mil anos coloca o aquífero Guarani na categoria de não renovável”, diz.
Em 2013, no segundo mandato de Dárcy Vera, por meio de um anteprojeto elaborado pela prefeitura, o Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão (Daerp) chegou a cogitar a captação de água do Rio Pardo a partir de 2015. O custo total da obra estava orçado em R$ 630 milhões, depois caiu para R$ 530 milhões.
Na época, a Agência Nacional de Águas (ANA) estimava que o aquífero teria capacidade para abastecer a cidade durante dois anos e recomendou a fonte alternativa. O anteprojeto previa a implantação gradativa do tratamento e da distribuição de água em 30 anos e chegou a ser enviado pelo Daerp ao então Ministério das Cidades – atual Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
Porém, a proposta foi engavetada por causa da crise financeira que assolava a prefeitura á época e por causa da resistência da população – chegou a ser tema de discussão nas eleições municipais de 2016. Agora, o Daerp diz que vai enviar projeto ao governo federal requisitando recursos para construção da estação de tratamento e captação de água do Pardo.