Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
Motivos de preocupação para o comércio e serviços de Ribeirão não faltam. Depois dos dois anos mais graves da pandemia da covid-19 (2020/21), que causaram muitas demissões e prejuízos, diversas obras de grande porte e simultâneas na cidade dificultaram ainda mais a situação. A discussão judicial mais recente é se a prefeitura fica ou não no Centro, o que poderia influenciar na ocupação de famílias e negócios.
Dados das entidades que reúnem comerciantes confirmam: tendência de queda nas contratações no varejo, com ligeiras melhoras, mas sem perspectivas muito positivas até o final deste ano, apesar de datas sazonais que equilibram um pouco a balança. De acordo com a FecomércioSP – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo – os quatro primeiros meses deste ano foram de saldo azul, mas com ressalvas e tendência para baixo.
A Pesquisa de Emprego no Estado de São Paulo, realizada mensalmente pela FecomércioSP, apresentou em junho saldo de empregos positivos para empregos celetistas no primeiro quadrimestre de 2024, baseando-se em dados do Novo Caged – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, instituído em 2020.
De forma ampla entre todos os seguimentos os serviços criaram, efetivamente, após contratações e desligamentos, 167 mil postos de trabalho. Em todo ano de 2023, o saldo observado era de 121,5 mil novas vagas. O comércio, por sua vez, gerou 10,5 mil empregos, revertendo o saldo negativo do ano anterior, quando sete mil empregos com carteira assinada foram eliminados pelo setor.
Abril foi o melhor mês no estado: o setor de serviços paulista criou 41.734 postos de trabalho, resultado de 389.983 admissões e 348.249 desligamentos. É o maior saldo positivo para o mês de abril desde 2020 e entre os 14 grupos de segmentos analisados que geraram empregos formais. Embora o resultado seja menor que o apurado nos meses de fevereiro e março, a geração de novas vagas foi 47% maior do que em abril do ano passado.
Os bons resultados são reflexos do contexto econômico do período, no qual a economia se mostrou mais aquecida e os índices inflacionários exibiram desaceleração, além do crescimento das operações de crédito incentivando o consumo. Em contraponto, de maio em diante, subida da inflação, dúvidas sobre a política econômica, aumento do dólar e queda no poder de consumo impactaram negativamente no desempenho que deve fechar um novo indicador em agosto.
Cenário atual preocupante para a cidade
A reportagem do Tribuna Ribeirão repercutiu os dados da FecomércioSP com entidades representativas do setor em Ribeirão Preto, junto com a prefeitura. De acordo com o Sincovarp – Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto – é importante destacar que observando a pesquisa mais detalhadamente é possível visualizar que o tópico “Comércio Varejista” é o único a apresentar variação negativa nas vagas de trabalho no acumulado do primeiro quadrimestre (-3.964).
A média geral do Estado de SP, para o comércio, só foi positiva por causa do bom desempenho dos segmentos de “Comércio e Reparação de Veículos” e “Comércio por Atacado”. Informações que reforçam o levantamento próprio do CPV SINCOVARP/CDL – Centro de Pesquisas do Varejo – que mostram que a empregabilidade no comércio varejista de RP não está em alta neste recorte.
Empregabilidade no Comércio Varejista de RP no primeiro quadrimestre de 2024:
Jan: -0,8% (muito pelas dispensas dos temporários de fim de ano).
Fev: estabilidade.
Mar: estabilidade.
Abr: +1% (muito pelo reforço das equipes para Agrishow e Dia das Mães).
Média de +0,2%
Maio registrou variação de +0,5% (ainda pelo reflexo do Dia das Mães já projetando Dia dos Namorados).
Fonte: CPV SINCOVARP/CDL
“Desde 2023, o comércio varejista de Ribeirão Preto não atravessa um momento muito favorável em termos de vendas, mesmo sendo uma capital regional de consumo. E o varejo brasileiro também enfrenta dificuldades, prova disso foram os fracos desempenhos da última Black Friday e do Natal, bem abaixo das expectativas”, reflete Paulo Garcia Lopes, presidente do Sincovarp.
Ele cita que depois de abril o cenário econômico foi ficando desfavorável, houve também aumento do nível de endividamento das famílias brasileiras, taxações e novos impostos, além de crise de alimentos no Rio Grande do Sul e reajuste de combustíveis.
Vendas Comércio de RP no primeiro quadrimestre de 2024:
– Jan: +7,3% (Com menos vendas no fim do ano sobraram promoções de queima de estoque, que atraíram o consumidor + período de férias).
– Fev: 3,1% (Ainda promoções de queima de estoque + Carnaval).
– Mar: +1,5% (Dia do cliente ajudou mas os impactos das obras de mobilidade, em especial no centro da cidade, ganham força).
– Abr: -2% (Impactos das obras de mobilidade ficam ainda mais intensos. Queda só não foi maior por causa do período de montagem da Agrishow e dos primeiros dias da feira).
– Maio: -3,5% (Tivemos um pico de vendas, ainda que abaixo das expectativas, com Agrishow e Dia das Mães, e uma queda acentuada de vendas no restante do mês).
Fonte: CPV SINCOVARP/CDL
Lopes destaca ainda que as Obras de Mobilidade provocaram queda média de -45% nas vendas do Comércio desde que o corredor de ônibus começou a funcionar em outubro de 2022 na Av. Dom Pedro I. Na Av. Nove de Julho o índice caiu 60% desde junho de 2023.
Análises da Acirp e prefeitura
Dados da Associação Comercial e Industrial de RP – Acirp – confirmam que os setores de comércio e serviços, juntos, somam 83,8% da mão de obra formal no município, totalizando 44.392 postos de emprego. Os setores de comércio e serviços, juntos, somam 83,8% da mão de obra formal no município, totalizando 44.392 postos de emprego.
Bons índices puxados também por setores como o de agropecuária, no qual o número de trabalhadores formais cresceu 26,8%, maior taxa registrada entre os setores analisados. Similarmente, os setores de construção e indústria também registram aumento na força de trabalho, cujos crescimentos entre os períodos observados de 2023 e 2024 foram próximos de 5,2%.
Livia Piola, analista do Instituto de Economia Maurílio Biagi (IEMB/ACIRP) frisa que, com base em estudos passados publicados pelo IEMB e analisando essas informações apresentadas, percebe-se que o mercado de trabalho formal cresce em ritmo acelerado, contudo, não representa uma tendência de evolução da economia a longo prazo. “Haja visto a baixa produtividade da mão-de-obra (devido a condições sistêmicas) não garante crescimento econômico sustentável a longo prazo na cidade. Tal panorama verifica-se também no cenário brasileiro, de modo a ser uma das pautas de preocupação do Banco Central”, explica.
Até mesmo os dados de empregabilidade da prefeitura de Ribeirão Preto corroboram, na média entre janeiro de 2020 até maio de 2024, tendência de queda no saldo dos setores de comércio e serviços para o mês de julho. A curva de crescimento do ano atual segue a tendência do ano anterior (2023), isto é, apresentam uma variação próxima (estabilidade).
“Quando as vendas caem, e isso se prolonga, empreendedores são praticamente obrigados a reduzir custos fixos e isso acaba por provocar a diminuição dos quadros de funcionários. Postos de trabalho são fechados. E aqui lembramos que estamos falando, em grande maioria, de MEIs, micros e pequenas empresas do Comércio Varejista, que possuem fluxo de caixa reduzido e pouco fôlego financeiro, completa Paulo.
Nem tudo está negativo. O presidente conclui que, em termos de empregabilidade, a expectativa de SINCOVARP e CDL RP é de que as datas sazonais do segundo semestre possam alavancar um pouco mais as vendas e as contratações no comércio varejista, em especial no fim de ano. “Nesse sentido, destacamos também a ajuda dos nossos Mutirões Emprega Varejo, que realizamos em parceria com o SINCOMERCIÁRIOS RP e entidades parceiras”, finaliza.