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Ribeirão pode perder uma ‘Maria-fumaça’

A 7ª Vara da Justiça Federal de Ribeirão Preto diz que a cida­de pode perder a maria-fumaça “Mogiana”. Em despacho data­do de 31 de agosto, o juiz Rober­to Modesto Jeuken aponta que, até o momento, a prefeitura não se pronunciou sobre quais me­didas adotará para recuperação, restauração e destinação da lo­comotiva e sobre a manutenção do equipamento na cidade.

“Não há qualquer notícia de aproveitamento útil dessas peças pelo Estado”, escreve o juiz em seu despacho. Segundo o ma­gistrado, por causa desta inércia ele pode suspender a liminar que mantém a maria-fumaça no município e extinguir o proces­so, provocando, assim, a trans­ferência do equipamento para outra cidade.

O Convention Bureau re­velou ao Tribuna que estuda medidas jurídicas para manter a locomotiva em definitivo na cidade. “Temos nos reunido para finalizar estas medidas que iremos divulgar integralmente nos próximos dias”, afirma Már­cio Santiago, vice-presidente da entidade local. Ele diz que já pe­diu ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) para obter em comoda­to a máquina “Mogiana”.

O departamento recebeu o equipamento em doação da ex­tinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e pediu o tomba­mento da maria-fumaça ao Ins­tituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Já os vereadores Isaac Antunes (PR) e Fabiano Guimarães (DEM) requisitaram, através de reque­rimento, que a locomotiva seja tombada pelo Conselho de Pre­servação do Patrimônio Cultu­ral de Ribeirão Preto (Conppac).

A intenção do Convetion e também do Instituto História do Trem é criar um roteiro de trem turístico na cidade, com restauração de estações (Barra­cão e Nova Ribeirão), criação de um museu e recuperação da “Mogiana” e da maria-fuma­ça “Amália”, que está na praça Francisco Schmidt, na divisa do Centro com a Vila Tibério, onde funcionou a estação onde os imigrantes italianos desembar­cavam para trabalhar na lavoura de café. A associação de bairro é contra a utilização da máquina no projeto. Esta não corre o risco de ser transferida.

A liminar da 7ª Vara Fede­ral que impediu a transferência da “Mogiana” para a cidade de Salto foi concedida a pedido do Instituto História do Trem e do procurador da República An­dré Luiz Morais de Menezes, em dezembro do ano passado. Guindastes já se preparavam para retirar a máquina do pátio da Estação Mogiana, na Zona Norte. Os projetos foram bati­zados de “Trem Turístico” (Con­vention) e “Trilhos da Mogiana” (Instituto História do Trem).

Impasse começou em 2017
O impasse sobre o destino da maria-fumaça começou no ano passado, após a tentativa de retirada da locomotiva “Mogia­na”, que seria restaurada e colo­cada em operação em uma linha de turismo ferroviário entre as cidades de Itu e Salto, adminis­trada pelo Consórcio Intermu­nicipal do Trem Metropolitano (Citrem). A máquina está a céu aberto na Estação Ferroviária Mogiana, na Vila Mariana, na Zona Norte. Na época, o DNIT informou que havia cedido a lo­comotiva ao Citrem.

Santiago acusa da prefeitura de ter perdido verba de R$ 4,8 milhões do governo federal. A administração nega e diz que jamais recebeu qualquer pro­jeto do Convention, apenas do Instituto História do Trem. Em nota, a Secretaria Municipal de Turismo informa que recebeu as duas propostas de implantação de projetos de criação de passeio turístico entre as estações Barra­cão e Nova Ribeirão.

Diz que houve desistência de um dos proponentes (do Con­vention), e que a outra propos­ta tem como principal fonte de financiamento o setor privado. “Ou seja, não haverá nenhum investimento público municipal. Porém, o proponente que man­tém interesse ainda não conver­teu o pré-projeto em definitivo, e esta secretaria tem cobrado a efetivação da apresentação do projeto, para o andamento do processo”, diz a nota.

A secretaria afirma que tem renovado periodicamente um termo de compromisso firmado entre o órgão e o Ministério Pú­blico Federal (MPF) e que deixa claro a posição do município na busca de todas as alternativas para que a Maria-fumaça permaneça no município. Tem , inclusive, um projeto de turismo ferroviária in­termunicipal, passando por Cra­vinhos, São Simão e Tambaú.

CEE apresenta o relatório final
A Comissão Especial de Estudos da Maria-Fumaça apresentou, na sessão de terça-feira, 18 de setembro, o relatório final elaborado por Jean Corauci (PDT). Presidida por Jorge Parada (PT), tem também Alessandro Maraca (MDB) como membro.

Segundo o relatório, lido em plenário, a permanência da “Mogiana” em Ri­beirão Preto trará inúmeros benefícios à população. “Não só a manutenção da maria-fumaça na cidade, bem como toda a reconstrução da linha férrea trazendo à tona, para todos os munícipes, a história ribeirão-pretana, através de uma viagem ao tempo”, diz o texto.

O documento destaca também que, apesar de todas as tratativas e todos os esforços para a viabilização dos projetos “Trem Turístico” e “Trilhos da Mogiana” em Ribeirão Preto, como por exemplo, a busca de recursos junto ao governo, o projeto não evoluiu em função da lentidão da prefeitura.

“É salutar que deixemos claro que esta Comissão não tem a intenção de julgar ou de estabelecer qualquer tipo de conflito, porém, bastante claro, também, a ineficácia e o descaso com que o Executivo tratou o projeto que, viabilizaria – insista-se – inúmeros benefícios à toda nossa cidade e a nossa Região Metropolitana”, conclui Jean Corauci. O relatório será encaminhado para a prefeitura e para o Ministério Público Federal (MPF).

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