O congelamento de embriões tem se tornado uma prática cada vez mais comum no Brasil e reflete mudanças significativas nas prioridades e planejamento familiar dos casais. De acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2023 foram congelados 115.318 embriões em todo o país, um aumento de 32,8% em comparação a 2020, quando foram registrados 86.833 procedimentos.
Surpreendentemente, Ribeirão Preto desponta como a cidade brasileira com a maior quantidade de embriões criopreservados, totalizando 19.901 embriões, o que representa 17,25% das criopreservações nacionais.
No panorama nacional, a região sudeste liderou com 79.174 criopreservações em 2023. Ribeirão Preto, sozinha, contabiliza 25% dos procedimentos dessa região. Esse dado sublinha a capacidade da cidade em atender à crescente demanda por tratamentos de fertilização in vitro e congelamento de embriões.
Outras regiões do país também mostram números expressivos: a região sul contribui com 12% dos procedimentos nacionais, com Porto Alegre somando 4% do total brasileiro, enquanto a região centro-oeste tem 7,3% dos congelamentos, com Brasília responsável por 1,6% desse total.
A liderança de Ribeirão Preto no ranking de congelamento de embriões não é por acaso. Segundo o médico Anderson Melo, ginecologista e especialista em Reprodução Humana do Centro de Reprodução Assistida de Ribeirão Preto, esses números refletem o compromisso e a qualidade dos serviços prestados na cidade.
“Os números refletem a qualidade das clínicas de Ribeirão Preto em oferecer tratamentos avançados e seguros para nossos pacientes. A alta demanda e os excelentes resultados que alcançamos são fruto de investimentos contínuos em tecnologia e capacitação profissional no setor público e privado”, afirma.
O crescimento da criopreservação em Ribeirão Preto pode ser atribuído a vários fatores. O município é sede de importantes instituições de pesquisa e ensino, como a Universidade de São Paulo (USP), que possui um dos mais renomados programas de medicina do país.
Além disso, conta com clínicas especializadas em reprodução assistida que utilizam as mais avançadas tecnologias disponíveis, como a vitrificação, uma técnica moderna de congelamento que aumenta a taxa de sucesso no descongelamento de embriões.
Mudança de prioridades e planejamento familiar
O congelamento de embriões, ou criopreservação, é uma técnica que permite preservar a fertilidade dos casais que desejam adiar a maternidade ou paternidade por motivos variados, incluindo a busca por estabilidade profissional e financeira.
Além disso, a criopreservação também permite o planejamento de segundas gestações e reduz as complicações como o hiper estímulo ovariano, uma resposta exagerada do ovário aos hormônios utilizados no tratamento de fertilização.
Segundo o especialista Anderson Melo, “essa prática não só proporciona maior liberdade e controle sobre suas escolhas reprodutivas, como também contribui para a realização de um planejamento familiar mais consciente e seguro”.
Benefícios e riscos do congelamento de embriões
Além dos benefícios, existem riscos associados ao procedimento, embora reduzidos com as técnicas modernas de vitrificação. O risco de perda embrionária pós-descongelamento varia entre 2% e 5%, sendo que essa porcentagem tem diminuído significativamente com o avanço das tecnologias de criopreservação.
Os benefícios, por outro lado, são múltiplos: preservação da fertilidade para quem deseja adiar a maternidade ou paternidade, planejamento de gestações futuras, e a possibilidade de realizar estudos genéticos embrionários para evitar doenças hereditárias.
Os casais que optam pelo congelamento de embriões também devem estar cientes das considerações éticas e legais envolvidas no processo. O Conselho Federal de Medicina estabelece que as clínicas podem criopreservar espermatozoides, embriões e tecidos gonadais.
Os pacientes também devem ser informados sobre o número total de embriões gerados em laboratório e decidir quantos embriões serão transferidos a fresco. Os excedentes viáveis devem ser criopreservados.
Antes da geração dos embriões, os pacientes precisam manifestar sua vontade por escrito quanto ao destino dos embriões criopreservados em caso de divórcio, dissolução de união estável ou falecimento de um ou ambos os cônjuges.
Segundo a Lei de Biossegurança Nº 11.105, de 24 de março de 2005, os embriões podem ser descartados após três anos do congelamento, podendo antes disso ser utilizados pelo casal genitor, doados para outros casais ou para pesquisa.
Para que mais pessoas possam se beneficiar das tecnologias de reprodução assistida, é fundamental investir em educação e conscientização. Muitos casais ainda desconhecem as opções disponíveis e os benefícios do congelamento de embriões. Campanhas informativas e programas de educação em saúde podem ajudar a desmistificar o processo e incentivar mais pessoas a considerar essa opção.
Realizando o sonho de ser mãe
Mariana Nagamine Costanzi Ferreira Luchetti, 35 anos, foi uma das que optou pelo congelamento e engravidou no mês de maio, utilizando a técnica. Ela conta que desde que se casou – ela e o marido – sempre tiveram o sonho de ser pais.
“Meu marido e eu tentamos durante vários anos conceber naturalmente. A cada teste de gravidez negativo, a frustração e a ansiedade aumentavam, mas nossa vontade de formar uma família só crescia”, relembra Mariana.
Após inúmeras consultas e exames, o casal decidiu buscar ajuda em uma clínica de reprodução assistida em Ribeirão Preto. “A decisão de congelar embriões veio após várias tentativas de engravidar. Conseguimos oito embriões viáveis, que foram cuidadosamente criopreservados. Esse processo nos deu um novo ânimo e esperança”, explica.
Mariana destaca que o apoio emocional recebido da equipe médica foi fundamental. “O congelamento dos embriões nos proporcionou a segurança de tentar novamente no futuro, sem a pressão do tempo e com a certeza de que estávamos fazendo o melhor possível para realizar nosso sonho de sermos pais. Hoje, vejo essa decisão como uma das mais importantes e acertadas que tomamos”, conclui emocionada.