Com duas mortes por dengue hemorrágica confirmadas pela Secretaria Municipal da Saúde, Ribeirão Preto luta para tentar conter o avanço da doença, mas os números do mais recente Boletim Epidemiológico, divulgado nesta segunda-feira, 3 de junho, indicam que o mosquito Aedes aegypti faz cada vez mais vítimas na cidade. O relatório traz dados alarmantes que indicam epidemia, e a população deve ficar atenta porque em 80% dos casos o criadouro do vetor está dentro de casa.
Ribeirão Preto já registrou 5.655 casos de dengue entre 1º de janeiro e 31 de maio, 5.468 a mais do que os 187 do primeiro quinquemestre de 2018, alta de 2.924, cerca de 30 vezes superior em 151 dias de 2019. Neste ano, dentre as vítimas do Aedes aegypti – mosquito transmissor dos vírus da doença e também do zika vírus e das febres chikungunya e amarela (na área urbana) –, 1.717 da Zona Leste, mais 1.324 da Norte, 1.015 da Oeste, 961 da Central, 548 da Sul e 90 sem identificação de distrito. Há ainda 16.703 casos sob investigação.
A média é de 37 novos pacientes por dia. Grande parte é do sorotipo 2, que é mais forte e contra o qual a população não está imune. Há ainda 13.071 ocorrências sob investigação. O número de vítimas do Aedes aegypti na cidade em 151 dias deste ano já é 1.986% superior ao total do ano passado, quando Ribeirão Preto contabilizou 271 ocorrências, com 5.384 pacientes a mais em 2019, ou 20 vezes superior.
Somente em maio, a cidade confirmou 1.259, ou 3.497% acima dos 35 pacientes do mesmo mês inteiro do ano passado, 1.224 a mais – 40 nove vezes superior, cerca de 40 pacientes por dia. O município é o a quarto do estado com maior número de ocorrências. Neste ano, Ribeirão Preto registrou 242 casos de dengue em janeiro, 620 em fevereiro, 1.504 em março, 2.030 em abril e mais 1.259 em maio – os dados foram atualizados .
Em 2018, foram 45 ocorrências no primeiro mês, 37 no segundo, 28 no terceiro, 42 no quarto, 35 em maio, 17 em junho, onze em julho, cinco em agosto, um em setembro, seis em outubro, cinco em novembro e 38 em dezembro. No ano passado, das 271 pessoas picadas pelo vetor, 90 eram da Zona Leste, mais 73 na Oeste, 51 na Norte, 37 na Sul e 19 na Central, além de um caso sem identificação do distrito. Em 2017, foram registrados 246 casos, o volume mais baixo dos últimos doze anos. Em 2014 foram 398 registros. Nos demais oito anos os casos confirmados foram superiores a mil, em alguns deles passando de dez mil registros, como em 2016 (de 35.043 casos), 2010 (de 29.637), 2011 (de 23.384) e 2013 (de 13.179). O terceiro menor registro de casos ocorreu em 2012, com 317.
O secretário da Saúde de Ribeirão Preto, Sandro Scarpelini, afirma que o trabalho de combate e prevenção à dengue na cidade está sendo feito sem trégua. São ações diárias, com equipes de Agentes de Combate a Endemias nas ruas com campanhas de conscientização, treinamentos de equipes e nebulização frequente e os números estão dentro dos parâmetros aceitáveis, se comparado às demais cidades do Estado.
“Mesmo diante de todo o esforço que estamos fazendo, os índices de infestação do mosquito continuam muito altos, mantendo em risco de epidemia a cidade”, alerta o titular da pasta. “Pedimos às pessoas que eliminem qualquer foco de água parada em suas casas, onde o mosquito põe suas larvas. Somente assim conseguiremos vencer a batalha contra a dengue em Ribeirão Preto”, orienta a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Ribeirão Preto, Luzia Marcia Romanholi Passos.
Em 25 de abril, a secretaria confirmou duas mortes por dengue hemorrágica em Ribeirão Preto. Os pacientes são um homem de 73 anos, hospitalizado durante 16 dias, portador de cardiopatia e que evoluiu com pneumonia e morreu no dia 22, e uma mulher de 44 anos, também portadora de doenças associadas que estava internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da avenida Treze de Maio, no Jardim Paulista, e faleceu no mesmo dia, com diagnóstico definitivo do dia 23. Em um dos casos a sorologia já demonstrou ser do tipo 2. O homem morava na Zona Leste e a mulher, na região central. Ribeirão Preto também registrou um caso de febre chikungunya neste ano, em janeiro.
Índice de infestação do vetor preocupa
O Índice Predial (IP) em Ribeirão Preto, que avalia a quantidade de imóveis com criadouros do Aedes aegypti – mosquito transmissor dos vírus da dengue e também do zika vírus e das febres chikungunya e amarela (na área urbana) –bateu recorde e chegou a 10% na cidade – a cada 100 unidades visitadas, dez têm algum tipo de recipiente com água parada acumulada, ambiente propício para a proliferação do vetor. A informação é da diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Luzia Marcia Romanholi Passos, com base em dados consolidados após visitas feitas por agentes da Vigilência Epidemiológica (DVE). Ela ressalta que as ações de mobilização promovidas pela prefeitura, aliadas à conscientização da população, são os únicos caminhos para evitar as doenças que o mosquito transmite. “Oitenta por cento dos casos de dengue estão nas casas das pessoas e a conscientização da população é fundamental. Cada morador deve cuidar do seu quintal, eliminando focos de água parada para que o mosquito não se desenvolva, para continuarmos a manter a doença na cidade em patamares baixos e para que não ocorram mais mortes”, alerta o secretário da Saúde, Sandro Scarpelini. No início de maio, o Ministério da Saúde divulgou o primeiro Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) do ano, que corresponde ao índice de infestação predial (IIP) e mede a quantidade de criadouros do Aedes aegypti. A escala para avaliar a proliferação do mosquito diz que até 1% as condições são satisfatórias, de 1% a 3,9% já coloca o município em situação de alerta e superior a 4% já há risco de surto de dengue. Segundo o LIRAa, quantidade de criadouros em Ribeirão Preto é de 4% e a cidade vive sob o risco de epidemia. Significa que a cada 100 imóveis, quatro têm focos do inseto. No final de 2018 era de 2,7% e o município estava em alerta contra o vetor. No levantamento de junho a situação era bem pior e estava no grupo de risco, com IIP de 5,3%. Fechou 2017 em alerta. Na época, o índice estava em 1,3% – inferior ao de 2016, de 1,6%. O número de vítimas do Aedes aegypti pode ser quatro vezes maior em Ribeirão Preto e passar de 22.600, segundo a Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde. Um estudo divulgado durante as últimas epidemias indica que, para cada caso confirmado da doença, outros três não são notificados.
Chikungunya
Já para a chikungunya, um caso foi confirmado em janeiro deste ano. Em 2018, Ribeirão Preto atendeu oito pessoas com a febre transmitida pelo Aedes aeghypti – uma em março, uma em abril, uma em maio, outra em junho, uma em agosto, uma em setembro e duas em outubro. No entanto, fechou 2017 com aumento de 344,4%. Os dados mostram que o total saltou de nove para 40, com 31 pacientes a mais em relação a 2016. Neste ano não há casos de zika vírus, microcefalia e febre amarela.
Casos no Brasil e mortes em São Paulo
Dois meses após o fim do verão, a doença no País ainda preocupa: do início do ano até o último dia 11, o total de registros de dengue foi 432% maior, ante o mesmo período de 2018. O salto foi de 144 mil casos prováveis de infecção para 767 mil suspeitas reportadas. As mortes pelo vírus também saíram de 88 a 222 – a maior parte (80) em São Paulo. O número de infectados explodiu em 20 Estados e no Distrito Federal. Há quatro sorotipos do vírus. Até o último dia 15, só quatro das 645 cidades paulistas não notificaram casos. Mais grave é o quadro de Bauru, com 19,7 mil infectados e 21 óbitos. A epidemia e a incidência maior nesses Estados são explicadas pela disseminação do tipo 2, diz o coordenador-geral dos Programas Nacionais de Controle e Prevenção da Malária e das Doenças Transmitidas pelo Aedes do Ministério da Saúde, Rodrigo Said. “As últimas epidemias foram pelos vírus 1 ou 4”, diz. “Esse sorotipo (2), que circulava pouco e por isso havia pequena proteção imunológica, voltou agora e deixou a população mais suscetível.” Em relação à dengue, o maior número de pessoas doentes está na Região Sudeste, com 65% dos casos prováveis. Oito unidades da Federação apresentaram incidência superior a 300 casos por 100 mil habitantes. A situação é mais preocupante em Tocantins e Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, onde a epidemia se concentra no interior, o índice é de 349,1 casos por 100 mil habitantes.