O número de ocorrências envolvendo escorpiões disparou, 87,6% em Ribeirão Preto no ano passado na comparação com 2018. Entre 1º de janeiro e 31 de dezembro, foram registrados 1.535 acidentes na cidade – média mensal de 128 casos e diária de mais de quatro –, contra 818 do período anterior. Foram 717 a mais em 2019.
Os dados foram divulgados pela Divisão de Vigilância Epidemiológica (DVE) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), com base no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), a pedido do Tribuna. A quantidade de casos em 2019 é dez vezes superior aos 150 de 2017, alta de 923,3% e 1.385 ocorrências a mais. Desde 2009, a cidade já soma 3.982 ataques do aracnídeo, média de um por dia.
Nestes onze anos, os escorpiões fizeram menos vítimas em 2014: foram 130 ataques – a quantidade de casos de 2019 é a mais alta da série, quase doze vezes acima da mais baixa, alta superior a mil por cento e aporte de 1.405 acidentes. Em relação a 2009, quando o aracnídeo levou 249 pessoas às unidade de saúde, o aumento é de 476,3% (seis vezes), com 1.186 registros a mais.
No ano passado, a região com maior número de ocorrências foi a da Distrital de Saúde Norte, com 415 casos, seguida pela Oeste (345), Sul (288), Leste (179) e Central (161), além de 147 não identificados. Em onze anos, a campeã de ataques de escorpiões também é a Zona Norte, com 987. Depois aparecem a Oeste (967), Sul (866), Leste (491) e Central (414). Outros 237 não foram identificados. Os dados são passíveis de alteração, avisa a secretaria, porque são feitos ajustes mensais.
Segundo a Divisão de Vigilância Epidemiológica, neste período houve apenas um óbito na cidade. A última morte por ataque de escorpião em Ribeirão Preto ocorreu em 1º de maio de 2018, no Jardim Salgado Filho, na Zona Norte. Uma criança de oito anos foi ferida no pé pelo aracnídeo quando ajudava a tia a retirar o entulho de um terreno onde seria erguido um barraco.
O menino João Victor Souza de Paula foi socorrido pela tia e levado à Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS Norte) do bairro Quintino Facci II, mas acabou transferido para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Ele morreu depois de sofrer paradas cardíacas decorrentes da ação do veneno. A fêmea do escorpião é autóctone – não precisa do macho para se reproduzir – e tem dois partos por ano, com 20 filhotes em cada.
A Divisão de Vigilância Epidemiológica do Departamento de Vigilância em Saúde informa que em todo caso de acidente com animal peçonhento a vítima deve procurar a unidade de saúde mais próxima para avaliação médica e, caso seja necessário, o posto deverá encaminhar o paciente ao HC para avaliação da toxicologia e necessidade de aplicação do soro antiescorpiônico, de acordo com a gravidade.
A população pode ajudar roçando o mato dos terrenos particulares e evitando o acúmulo de lixo e entulho. A espécie mais comum nas cidades é a “Tityus serrulatus”, conhecida como “escorpião amarelo”. Trata-se de um tipo urbano, frequentador de esgotos ou redes pluviais, e considerado o mais perigoso da América Latina.
“Sua picada é muito dolorida, provoca náuseas, vômitos, sudorese, e o veneno pode matar crianças de até 12 anos e idosos após causar arritmia cardíaca e edema pulmonar”, diz o imunologista Luiz Vicente Rizzo, presidente do conselho curador do Instituto Butantan.
Para não correr risco de morte, a pessoa tem de ser atendida em, no máximo, quatro horas. É preciso tomar soro contra o veneno e analgésico para aliviar a dor. De acordo com Lúcia Taveira, coordenadora do Controle de Vetores da Secretaria da Saúde, a limpeza das residências é fundamental para evitar a proliferação do animal.
“Escorpião gosta de lugar quente e escuro, tanto na área interna como externa, e tem hábitos noturnos. Ele sai à noite para procurar alimento: barata, grilo, cupim, animais vivos”, orienta a coordenadora. Explica ainda que o aracnídeo pode ficar até seis meses sem se alimentar, mas a água é fundamental para sua sobrevivência. Por isso, com o início das chuvas o alerta deve ser ainda maior.
“Ele procura ficar em lugares úmidos e, quando começam as chuvas, aumenta muito a proliferação de escorpiões e a incidência de acidentes escorpiônicos”, explica. Ela orienta que quando forem encontrados escorpiões, as pessoas não devem levar as mãos diretamente nos objetos onde estão.
“A maior incidência de acidentes acontece nas mãos e nos pés, justamente porque vão com as mãos nesses objetos e acabam sendo picados. Ao calçar os sapatos é preciso ter muito cuidado, verificar antes se não há escorpião alojado dentro, lugar quente, propício para eles”, orienta. Os escorpiões podem subir em camas também.