Uma ampla pesquisa realizada pelo Núcleo de Inteligência da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), coordenado pelo economista Gabriel Couto, mostra que nos últimos dez anos, entre 2007 e 2017, a cidade acumula déficit de 5.217 empregos formais. De acordo com o estudo divulgado nesta quarta-feira, 7 de fevereiro, a geração de postos de trabalho com carteira assinada não acompanhou o crescimento da população economicamente ativa – pessoas com idade entre 20 e 64 anos.
A pesquisa considerou informações do Ministério do Trabalho divulgou nesta sexta-feira, 26 de janeiro, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) –Ministério do Trabalho –, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da própria Acirp.
Segundo a pesquisa, entre 2007 e 2017 Ribeirão Preto registrou superávit na abertura de vagas, com saldo de 65.911 postos. No entanto, 71.128 pessoas ingressaram no mercado de trabalho, gerando o déficit de 5.217 vagas. O estudo indica também que antes da crise econômica e da recessão (2007-2013) a geração de empregos era mais intensa que o crescimento da população economicamente ativa.
Neste período, Ribeirão Preto registrou superávit de 73.596 vagas, para 49.752 novos trabalhadores, saldo de 23.844 postos de trabalho. Já na fase pós-recessão (2014-2017), o estudo registrou déficit de 7.685 empregos formais, enquanto 21.376 pessoas ingressaram no mercado de trabalho, gerando o saldo negativo de 29.061 vagas com carteira assinada.
Segundo o Caged, Ribeirão Preto fechou o ano passado com saldo positivo de 915 novas vagas, o melhor resultado desde 2014, quando a cidade registrou superávit de 1.583 carteiras assinadas – fruto de 127.654 demissões e 126.071 admissões. No entanto, o balanço de dezembro foi negativo, com déficit de 926 empregos formais, uma tendência nada animadora para 2018.
Em 2017, os principais setores da economia ribeirão-pretana – comércio, serviços, construção civil, indústria e mais timidamente a agropecuária –conseguiram cobrir o rombo de 3.860 postos de trabalho fechados no ano anterior, com a geração de 4.775 novas vagas, alta de 123,7%. A cidade terminou 2016 com 88.485 contratações e 92.345 dispensas. No ano passado foram 86.647 admissões e 85.723 demissões.
Apesar de negativo, o saldo de 2016 ficou 59,46% acima do registrado em 2015, quando Ribeirão Preto fechou com resultado negativo de 6.323 vagas – os principais setores da economia local admitiram 98.572 trabalhadores e demitiram 104.895.
Nos últimos 15 anos, desde 2003, o melhor resultado registrado pela economia de Ribeirão Preto ocorreu em 2010, quando os principais setores contrataram 109.136 pessoas e dispensaram 94.784, superávit de 14.352. Depois vem o ano de 2011, com 118.529 empregos formais criados e 105.845 extintos, saldo de 12.864.
Apesar do déficit, o resultado de dezembro foi o melhor para o mês em dez anos – em 2007, Ribeirão Preto fechou o período das festas natalinas com rombo de 133 empregos formais. Nos últimos 15 anos, nem Papai Noel ajudou e todos os balanços de dezembro ficaram no “vermelho”.
Segundo o estudo do Núcleo de Inteligência da Acirp, com dados da Rais mais o resultado do Caged de 2017, Ribeirão Preto fechou o ano passado com 223.736 carteiras assinadas, contra 222.821 de 2016, aumento pífio Ed 0,41% – exatamente 915 a mais, o saldo do Caged. Na comparação com as 163.226 de 2017, a alta foi de 37%, com aporte de 60.510 – média anual de 5.500 documentos emitidos.
No ano passado, Ribeirão Preto tinha 368.829 pessoas na faixa etária da população economicamente ativa, 1,18% acima das 364.508 de 2016, acréscimo de 4.321 trabalhadores – já a geração de postos registrou déficit de 3.406 em relação à necessidade do município. Na comparação com 2007, quando a cidade abrigava 305.321 potenciais empregados, o crescimento foi de 20,8%, com aporte de 63.508 candidatos.
“Nossa análise contextualiza os números mostrando que, nos últimos dez anos, as vagas de emprego não acompanharam o crescimento da população economicamente ativa. A crise econômica também é uma explicação, pois desencadeou uma destruição de empregos muito grande”, explica Gabriel Couto.
Para Antônio Vicente Golfeto, diretor do Instituto de Economia Maurílio Biagi da Acirp, os dados também indicam que grande parte da população está se encaminhando para o empreendedorismo ou para a informalidade. “O desemprego dispara o gatilho do empreendedorismo. Quando o empregado é um empreendedor, a economia ganha impulso. Mas quando o desempregado não é empreendedor, acontece um fracasso previsto. Ele não queria criar uma empresa. Ele queria ter um emprego”, analisa Golfeto.
E completa: “Ribeirão Preto – e o Brasil como um todo – viveu dois apagões, que foi o que uniu o pico do desenvolvimento e o pico da recessão. Houve apagão de mão de obra no primeiro caso e apagão de emprego no segundo. A melhor política social ainda é uma economia que cria emprego”, avalia Golfeto.