Tribuna Ribeirão
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Rosemary Conceição dos Santos

Os contatos possibilitados pelas expedições militares dos cruzados expandiram até o Mar Negro o comér­cio veneziano. Na costa deste Mar, os irmãos Mateo e Nicolo Polo, desejosos de elevar lucros, abriram filiais de seu comércio. Entretanto, o interesse de ampliar suas transações fez com que se mudassem, em 1260, para as margens do Volga. Deste ponto, partindo em caravana rumo à China, em 1271, levaram consigo o sobrinho Marco Polo. Recebidos por Cublai-Cã, bisneto de Gêngis-Cã, no oriente, Marco, de elevado espírito aventurei­ro, e agudo espírito crítico, ganhou a simpatia de Cã, que o incumbiu de inúmeras tarefas. Estas, relatadas, com detalhes, em sua obra “Livro das Maravilhas do Mundo”, escrita na prisão a que o confinaram os genoveses, revelou a fauna, a flora, as indústrias, as riquezas naturais e as construções por ele observadas em seus longos itinerários, vindo a ser a experiência pela qual o mundo conheceria a fisionomia do continente asiático. A rele­vância disso? Semear, no mundo, a inquietude descobridora que tomaria conta dos europeus, os quais, após a queda de Constantinopla, em 1453, procurariam uma nova rota oceânica, nela envolvendo a todos.

No século XIII, também a junção técnica da agulha imantada e da rosa-dos-ventos, dando origem à bússola, renderia rigor científico aos mapas náuticos. Grécia, China e Oriente Médio reclamaram sua paterni­dade. Mas, a despeito de já conhecerem suas propriedades, sua descoberta como instrumento de navegação coube a Pedro de Maricourt, o Peregrino, integrante da comitiva do príncipe francês Carlos de Anjou rumo à Terra Santa, o que foi registrado historicamente por Raimundo Lulio, em seu livro “A fênix das maravilhas do Orbe”, assim como, seu uso corrente no final do século. As palavras do antigo guia de navegação grego “Périplos” transformavam-se, então, em sinais gráficos para representar os rumos, as costas, as marés e os ventos, as chamadas cartas marítimas. Seu uso a partir do século XIV seguiria pelos próximos três séculos, intensificando decisivamente novas descobertas nos oceanos, bem como, o florescimento comercial na zona ibérica mediterrânea e nos portos italianos de Gênova, Nápoles, Veneza etc.

Estas cartas, responsáveis por “conduzir a porto seguro os navios que se aventuravam nos mares e assegurar-lhes a possibilidade de retorno”, ao se unirem aos mapas, que então só existiam nos livros de derrota do navio, trouxeram as milhas de distância de um porto a outro, seus ancoradouros e os pontos magnéticos que influíam na direção a ser tomada, passando a serem chamadas de cartas portulanas. Traçadas sobre pergaminhos, e despidas de latitudes e longitudes, traziam uma rede de rumos lineares que partiam da rosa-dos-ventos. No século XV, símbolos, mitologias, escudos, brasões, monumentos artísticos e urbanos, côrtes, reis, fauna e flora nelas vão sendo inseridos com preocupação estética, sem prejuízo da sua condição e precisão geométrica, e suas cores vivas lembram a arte miniaturista medieval. Posteriormente, à medida que as descobertas de novas terras, continentes e mares iam ocorrendo, estes a elas eram acrescidos, dando-lhes a condição de universais ou mapas-múndi.

Segundo especialistas, “os mapas portulanos da Baixa Idade Média são criação latina, assunto medi­terrâneo, com as principais escolas onde eram feitos ligadas ao nascente reino espanhol de Aragão, com destaque aos empórios marítimos de Barcelona e Maiorca, bem como, às cidades italianas de Gênova, Ancona e Veneza, nas quais a inquietação humanista e renascentista já se fazia presente, contagiando os nômades do mar”. Nas primeiras décadas do século XIV, Gênova, com seu porto privilegiado e o impulso mercantil de seus centros burgueses, teve, em seu cais, as mais importantes oficinas e laborató­rios cartográficos do mundo, fosse para importantes cargas comerciais destinadas a Bósforo, fosse para os aventureiros que se embrenhavam pelo atlântico mar tenebroso. Exemplo desses mapas, criados por Pedro Vesconte, ilustram a obra”Livro dos Segredos”, de Marin Sanudo, em 1321.

Por sua vez, nos mapas náuticos de Veneza e Ancona, a preocupação em representar mares, ilhas e limites costeiros estava presente, tornando-os mais ricos em detalhes que os genoveses, substituindo a preocupação destes em conhecer o extremo atlântico europeu pela preocupação, mais prática e mercan­tilista, de identificar regiões próximas capazes de absorver os produtos que queriam vender. Destaca-se aqui o costume italiano de a cartografia ser exercida em unidades familiares. Em Veneza, por exemplo, a dos irmãos Francesco e Marco Pizzigani, na segunda metade do século XIV. Em Ancona, a de Grazioso e Andrea Benincasa, no decorrer do século XVII, e, individualmente, do conde Hoctomanno Freducci, dedicado à construção de mapas náuticos. Em conjunto, homens mais preocupados em conhecer me­lhor os mares e o mundo do que a história de seus brasões.

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