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Romano Pierpaolo Piccioli interpreta com maestria tom do próximo verão

Por Alice Ferraz

Em setembro, ocorreram os desfiles da temporada de verão 2021 de Milão e Paris. A expectativa era grande uma vez que as duas cidades são parte do que é chamado na moda de “big four”, ao lado de Londres e Nova York. Os principais meses da moda são fevereiro e setembro, em que desfiles lançam tendências que vão influenciar o que vestiremos na próxima temporada, além de servirem de inspiração para todo o mercado mundial. A temporada reúne compradores das maiores e melhores multimarcas do mundo, assim como jornalistas, influenciadores digitais, celebridades e clientes das marcas, que seguem de cidade em cidade em busca dos novos hits, apostas da temporada.

Com a pandemia, pela primeira vez desde que o calendário mundial foi estrategicamente alinhado entre as quatro cidades em 1993, ficamos sem saber o que aconteceria e se aconteceria. Como, afinal, o mundo da moda iria se reorganizar para não parar? São cidades com um legado e uma tradição na indústria que geram milhares de empregos diretos e indiretos desde as primeiras edições oficiais (a de Milão em 1958 e a de Paris em 1973). Não podia parar e não parou. A tecnologia usada a favor da comunicação possibilitou novos formatos.

No Brasil, sem a possibilidade de viagens, fomos preparados para assistir aos desfiles virtuais, fashion filmes e apresentações a distância. As linguagens usadas nessas semanas de moda expressaram por meio das roupas e imagens não só o que vestiremos, mas o comportamento do nosso tempo, o famoso zeitgesit. É importante lembrar que o comportamento social é o fator decisivo para determinar tendências. Realizar um trabalho de criação e leitura de nossos anseios em meio a uma pandemia, além das rápidas mudanças de comportamento que sofremos, foi tarefa dos diretores criativos à frente das casas de moda. E, se a agitação em torno de um desfile presencial é um dos fatores que determinam o grau de desejo de uma marca, é fato que desfiles digitais sofreram com a falta de emoção por terem sido feitos sem público. Essa foi uma das importantes constatações da temporada virtual: o fator humano é absolutamente necessário.

O esforço, no entanto, valeu a pena e assistimos, mesmo que com menos envolvimento emocional, às boas ideias, prova que a moda ainda faz parte do espaço criativo das artes. Uma evidência desse fato foi a altíssima percepção do diretor da italiana Valentino, Pierpaolo Piccioli. Conhecido como um purista da moda, que sempre evoca a maestria e precisão da alta-costura mesmo em seus desfiles de prêt-à-porter, Pierpaolo entrou em uma frequência que equilibrou uma coleção próxima e mágica. Com seu talento raro para combinar cores, desenhou estampas floridas, trouxe à vida a vontade de viver e florescer através da moda. O romantismo, movimento artístico-cultural que enfatiza a emoção intensa e a natureza, reinou em sua coleção. Mulheres românticas, rebeldes e livres entraram na passarela em vestidos que traziam sofisticação, marca registrada do estilista.

A imaginação individual de cada mulher fica clara nos cabelos coloridos, piercings e maquiagens. Nos pés, as novíssimas flats gladiadoras com maxi spikes (sandálias baixas com máxi tachas) foram a prova de que manter os pés no chão, a força e o poder serão necessários para enfrentar o mundo pós-pandemia, mas sempre com bolsas de flores para que nelas o sonho romântico de artistas heroicos seja carregado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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