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Rolando Boldrin e o Sargento Paulo

Escrevo hoje sobre o maior contador de causos do Brasil, o inimitável Rolando Boldrin. Estive com ele acho que umas quatro ou cinco vezes, outras nos falamos por celular e sugeri para o seu programa na TV Cultura, “Senhor Brasil”, artistas aqui de Ribeirão Preto. Numa de suas vindas à cidade, Sócrates deu de presente a ele um CD do grupo “Gente cá da terra”. Boldrin ficou encantado com a música “Banana maçã”, de e com o saudoso Paulinho de Souza.

Conheci Boldrin quando Sócrates o entrevistou, depois fomos almoçar no antigo Pinguim e levei meu violão. Foi show de bola. O almoço invadiu tarde e noite numa cantoria e causos sem fim, tanto que nem lembro a hora em que saímos de lá. Entre uma canção e outra, Rolando Boldrin contava um causo, sempre dizendo: “Este causo me lembrou outro…” e mandava ver.

Ele contou que, quando saiu de São Joaquim da Barra pra tentar a vida em São Paulo, estava em idade de servir o Exército e no seu primeiro dia no quartel, ao passar com o cabo que o acompanhava por uma cela onde ficavam presos militares que cometiam alguma indisciplina, ouviu um deles falar de forma intimidadora:“O alemão”. Ele sacou que só podia ser com ele, pois o cabo era moreno, e vol­tou-se pro presidiário que mandou ver: “Me dá um cigarro aí…”

O jovem Rolando, meio amedrontado, respondeu: “Eu, eu não fumo…” O cara, meio enfezado, falou: “Não perguntei se você fuma, recruta, tô te pedindo um cigarro e se não me der, quando sair daqui te darei o maior pau”. Rolando, meio que sem jeito, ouviu o conselho do cabo: “É melhor você ir lá no bar e comprar um maço de cigarros pra ele, esse cara é o Tonelada, um valentão que tá sempre em cana por brigar com colegas”. O recruta Boldrin ouviu os conselhos do superior e o sujeito nem agradeceu.

Passado algum tempo, Rolando tava dando um rolê por Sampa e viu um cartaz anunciando o show do sambista Germano Mathias. Olhou a foto e levou o maior susto, pois o sambista era o temido Tonelada. Já no quartel, contou para o cabo que confirmou: “É ele mesmo, ele é metido a artista, se diz sambista, só vive no meio da malandragem”.

Depois que Rolando ficou famoso e Germano também, torna­ram-se amigos e ainda dão muitas risadas quando lembram da velha história do cigarro. Num evento aqui em Ribeirão Preto, Rolando Boldrin estava presente e fui lhe apresentar minha primeira-dama: “Rolando, ela é de São Joaquim da Barra e filha do Sargento Paulo…” Aí ele me interrompeu, arregalou os olhos e falou: “Paulo de Moraes Melo, que saudade! Ele me ensinou a tocar violão, nunca o esqueci”.

Foi logo contando um causo do meu sogro, disse ele que, naquele tempo, sargento em cidade pequena era autoridade pra dedéu, prendia e soltava, sempre acompanhado de seu cão Lobo na coleira. Um dia, seus policiais haviam prendido um caboclo que era o terror na cidade. Paulo, depois de uma ronda, ao chegar na cadeia, ouviu o valentão falar por detrás das grades: “Você é valente fardado, entre aqui que vou te mostrar o que é um homem bom de briga”.

Meu sogro ouvia e nada respondia, continua Boldrin, mal sabia o cara que o sargento treinava boxe, que era um atleta muito forte, que fazia barra de lado, enfim, a parada ali era dura. Rolando contava e eu imaginava a cena. Resumindo, depois de várias provocações, o sargento pendurou o cinturão, a camisa o quepe e disse ao sujeito: “Olha aqui, caboclo, vou entrar aí, se você ganhar a briga, te liberto.”

O sargento Paulo entrou na cela e não teve nem segundo round, deu o maior cacete no valentão, deixando-o mole no chão. Este nocaute vazou por todos os cantos de São Joaquim da Barra, virando a maior gozação. Boldrin, rindo, finalizou: “O caboclo, quando saiu da cadeia envergonhado, sumiu da cidade.”

Não conheci meu sogro, mas conto este causo com o peito cheio de orgulho, não pude lhe pedir a mão de sua filha em casamento porque ele viajou antes do combinado.

Sexta conto mais.

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