O presidente destituído do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Wagner Rodrigues, delator na ação penal da Operação Sevandija que investiga o pagamento de propina no processo dos honorários advocatícios dos 28,35% (Plano Collor), prestou depoimento ao juiz Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira, da 4ª Vara Criminal, e voltou a admitir ter embolsado R$ 1,2 milhão do esquema, mas avisou que já gastou a maior parte do dinheiro.
Rodrigues fechou acordo de delação premiada com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Ao juiz, afirmou que todos os recursos recebidos por ele indevidamente foram gastos com festa de casamento, empréstimo, viagens, carros e uma cirurgia plástica. Cheques que somam R$ 225 mil foram debitados em Fortaleza (CE), onde ele se casou. O total de R$ 1,2 milhão teria sido repassado pelo escritório da advogada Maria Zuely Alves Librandi, beneficiária dos honorários.
De acordo com o advogado de defesa de Rodrigues, Daniel Rondi, as movimentações financeiras referentes ao montante podem ser comprovadas por extratos bancários. Diz que seu cliente recebeu a propina na própria conta conrrente, mas que houve uma mudança bancária num determinado momento da colaboração. No entanto, afirma que em momento algum o ex-sindicalista sonegou informações. Também ressalta que o réu não tem como fazer a devolução de maneira imediata, caso isso seja definido pela Justiça.
Na colaboração ao Ministério Público Estadual (MPE), o ex-sindicalista disse que, dos R$ 45 milhões obtidos com a fraude, R$ 7 milhões teriam sido destinados à ex-prefeita Dárcy Vera, R$ 2 milhões para o ex-secretário de Administração, Marco Antonio dos Santos, e R$ 11,8 milhões seriam divididos entre ele e o ex-advogado do sindicato, Sandro Rovani. O restante ficaria com Maria Zuely. Todos estão presos, menos o delator.
A defesa de Maria Zuely diz que todos os cheques emitidos pelo Escritório de Advocacia Librandi & Librandi foram repassados para o sindicato e que se o delator Wagner Rodrigues fez uso indevido ou desviou recursos, deve responder à Justiça. Durante as audiências de instrução do processo, a Polícia Federal confirmou ter havido um acordo prévio entre as partes para a distribuição do dinheiro.
Além desta ação, correm na Justiça outros dois processos resultantes da força-tarefa. Um deles trata de fraudes em licitações do Departamento de Água e Esgoto (Daerp). O outro aponta uma negociação de cargos terceirizados na Prefeitura em troca de apoio político na Câmara, esquema que envolveu, segundo o MPE, vereadores e secretários municipais na gestão de Dárcy, além de pessoas ligadas à Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão (Coderp) e à Atmosphera Construções e Empreendimentos, do empresário Marcelo Plastino, que cometeu suicídio há um ano.
Ao Gaeco, Rodrigues informou também que a ata de uma assembleia realizada em 20 de março de 2012 foi adulterada por ele e pelo então advogado do sindicato, Sandro Rovani. Em votação anterior, os servidores já haviam decidido que não pagariam honorários advocatícios. Um parágrafo afirmando que os trabalhadores decidiram pela cessão dos valores devidos foi incluído no documento. O assunto sequer foi mencionado para discussão no documento original, que tratou apenas do reajuste salarial do funcionalismo.
De acordo com a Promotoria, o termo de aditamento previa redução dos juros de mora de 6% para 3%, e esse valor seria destinado à Maria Zuely, cerca de R$ 58 milhões. Entretanto, o então secretário de Administração se utilizou de um jogo de planilhas e elevou o valor para R$ 69 milhões. Para o Gaeco, todos os documentos apresentados induziram a Justiça a erro e o pagamento dos honorários milionários foi autorizado. Com isso, a quadrilha manteve os desvios planejados. Afora Wagner Rodrigues, todos os demais réus negam a prática de atos ilícitos e dizem que vão provar inocência.