O ex-ditador do Zimbábue Robert Mugabe morreu nesta sexta-feira, 6 de setembro, aos 95 anos, em Cingapura, onde passava por tratamento médico. A informação foi revelada pelo atual presidente do país, Emmerson Mnangagwa, em publicação no Twitter. Símbolo da luta contra o colonialismo branco no país, ele chegou ao poder em 1980 e liderou o país até 2017, quando foi forçado a renunciar.
O ex-ditador enfrentava uma série de problemas de saúde há alguns anos. Ele era exaltado como um “ícone de libertação” do Zimbábue e desfrutava de alta popularidade entre chefes de Estado africanos Seu governo foi marcado por fortes investimentos em educação e nos setores agrícola e mineral, mas também por acusações recorrentes de manutenção do poder através de fraude eleitoral e uso da violência contra dissidentes.
Mugabe nasceu em 21 de fevereiro de 1924. Na década de 1970, ele liderou uma guerrilha contra o domínio britânico no país. Em 1979, a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, anunciou que o Reino Unido reconheceria oficialmente a independência da Rodésia, o nome do país durante o período colonial.
Foi eleito como primeiro-ministro no ano seguinte e, em 1987, como presidente, governando o país durante 37 anos, antes de perder poder e sofrer um golpe de Estado em novembro de 2017. Quando chegou ao poder, em 1980, houve quem considerasse a ascensão do professor ao mais alto cargo político do país como uma recompensa pelas suas origens de família de camponeses.
Em 1982, eclodiu uma disputa entre o partido de Mugabe, a União Nacional Africana do Zimbabue – Frente Patriótica (ZANU-PF) – e o seu antigo aliado Joshua Nkomo. Nessa sangrenta disputa pelo poder, Nkomo recebeu o apoio da etnia Ndebele, que reside no oeste e no sul do país.
Foi lá que as Forças Armadas, leais a Robert Mugabe, cometeram as piores atrocidades e violações de direitos humanos após a independência do país. A 5° Brigada Militar do seu exército, que foi treinada pela Coreia do Norte, matou aproximadamente 20 mil civis. Muitos deles foram queimados vivos.
Em 1987, Nkomo e Mugabe fizeram as pazes e o chefe de Estado nomeou-o vice-presidente do Zimbábue. Depois disso, o líder centralizou as políticas econômicas na produção de cereais. Longe de atingir os resultados esperados, milhares de cidadãos continuaram dependentes de ajuda humanitária, sem acesso a comida, água potável ou outras necessidades básicas.
Ainda assim, Robert Mugabe era retratado pelas rádios estatais como um herói nacional. O outro lado do presidente era ignorado nos meios de comunicação estatais: um fervoroso católico que mantinha um relacionamento adúltero com a sua secretária, Grace, uma mulher casada que se tornou primeira-dama do Zimbábue depois da morte da primeira esposa do presidente, em 1992.
Mugabe passou de primeiro-ministro para o cargo de presidente em 1987. Ele rejeitou os pedidos para que se aposentasse, apesar das repetidas notícias sobre a deterioração do seu estado de saúde. “Nesta idade eu ainda posso seguir em frente”, justificava-se.