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“Riram de mim no concílio!”

Pe. Gilberto Kasper *
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O Cardeal Vasconcelos Motta, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, pedindo um Bispo Auxiliar, o recebeu na pessoa do Pe. Romeu Alberti, Diretor Espiritual do Seminário Central Nossa Senhora da Assunção, no Ipiranga, em São Paulo. Amado pelo Clero e muito querido pelos Seminaristas que dirigia espiritualmente, o Pe. Romeu Alberti chamava atenção por sua humildade, zelo e doçura. Se locomovia pela grande São Paulo de lambreta; levantando a batina branca ou cinza até os joelhos, atravessava a cidade.

Em 1964, o Cardeal Motta transferido para a Arquidiocese de Aparecida, foi sucedido pelo então Arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Agnelo Rossi, que não precisou de Dom Romeu Alberti, como Bispo Auxiliar. Resolveram, então, enviar o jovem Bispo a Roma, para participar do Concílio Ecumênico Vaticano II.

Durante uma das sessões do Concílio, um dos mais jovens Padres Sinodais, Dom Romeu Alberti, Bispo Auxiliar de São Paulo, sugeriu a ordenação de mulheres como diaconisas. Um de seus argumentos foi a Carta de São Paulo aos Romanos: “Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor de modo digno, como convém a santos, e a assistais em tudo o que ela de vós precisar, porque também ela ajudou a muitos, a mim inclusive” (Rm 16,1-2). Outro argumento teria sido, que a maioria dos fiéis da Igreja Católica Apostólica Romana, comprometida com a evangelização, é de mulheres. “O que seria de nossa Igreja sem a presença tão rica e fiel de mulheres em nossas atividades pastorais e comunidades?”, teria dito Dom Romeu.

Ao me contar pessoalmente esse episódio, começou a rir e às gargalhadas me disse: “Riram de mim no Concílio”! “Foi uma risada em coro, ecoando na Basílica de São Pedro. Eu não sabia se ria junto ou me escondia debaixo na mesa a minha frente!” No dia seguinte o Papa Paulo VI chamou Dom Romeu Alberti para almoçarem juntos. Durante o almoço o Santo Padre pediu que Dom Romeu desculpasse as risadas em tom de vaias dos Padres Conciliares. O Papa lhe disse que para a ordenação de mulheres, ainda não teria chagado o tempo, mas que a sugestão de Dom Romeu o inspirara para a reestruturação do Diaconado Permanente. Ambos discutiram a possibilidade, lembrando de experiências ainda embrionárias na Igreja do Rio Grande do Sul, sob o zelo pastoral de Dom Vicente Alfredo, Cardeal Scherer, muito respeitado e querido pela Cúria Romana.

No dia 9 de fevereiro de 1965, Dom Romeu recebeu um comunicado da Nunciatura Apostólica, cuja sede ficava no Rio de Janeiro, de que o Núncio precisava falar com ele. Dia 11 de fevereiro, Festa de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira da Igreja Matriz de Apucarana (PR), Dom Romeu recebeu a notícia de que o Papa Paulo VI o nomearia primeiro Bispo Diocesano de Apucarana (PR). A nomeação foi divulgada com a data de 22 de fevereiro do mesmo ano de 1965.

Ao chegar a Apucarana, Dom Romeu Alberti sentiu um “amor à primeira vista”. Uma nova Diocese nascia no Paraná, com aproximadamente 480 mil habitantes, praticamente rural, geograficamente parecia como ele mesmo dizia “uma linguiça”, mais comprida do que larga. Chegou com muita sede de aplicar tudo que ouvira e vivera durante sua participação no Concílio Ecumênico Vaticano II, sendo não poucas vezes incompreendido, principalmente pelo Clero que ainda precisava compreender melhor a abertura das janelas e portas de uma Igreja cheirando a mofo, como afirmara o próprio Papa João XXIII, ao conclamar o Concílio.

Outras curiosidades da nova Diocese com seu primeiro Bispo, escreveremos em breve. Hoje ficamos com a frase que meus ouvidos ouviram muitas vezes, e meu coração tentou assimilar cada vez que aos risos, Dom Romeu Alberti dizia: “Riram de mim no Concílio”!

* Padre, professor universitário, assessor da Pastoral da Comunicação e reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e jornalista
 

 

 

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