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Rios voadores (II)

Quando o holandês Maurício de Nassau nos governou, seus admiradores brincavam que ele até “fazia boi voar”. Manuel Calado, no seu “O Valeroso Lucideno” escreveu:

Quem foi, quem foi
Que falou no boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for.

Chico Buarque de Holanda aproveitou do lendário e escreveu sobre o boi voador (“Boi voador não pode”). Mas, não é apenas musical a existência dos rios voadores. Eles existem mesmo.

Desde os cursos básicos sabíamos que os rios são mas­sas de água que correm na superfície da Terra. E era só isso. Mais tarde fomos informados da água subterrânea e, depois, que essa água formava cursos e verdadeiras bacias. Mais recentemente fomos informados de cursos de água na atmosfera. Mas, como? Não vemos esses rios voado­res… Existem ou não? Sim, existem, e não vemos porque são formados de vapor de água e não de água em estado líquido.

No Brasil os rios voadores mais importantes são forma­dos na Amazônia, consequência da intensa evaporação de água na floresta. O aviador e ambientalista Gerard Moss, à frente do Projeto Rios Voadores e baseado nos trabalhos dos pesquisadores brasileiros José Marengo e Antonio No­bre, voou milhares de quilômetros seguindo o trajeto dos rios voadores e, coletando amostras de vapor d’água, pode determinar características do fenômeno.

As correntes de ventos carregam a massa de água para o Leste, mas a Cordilheira dos Andes, agindo como barrei­ra, impede sua chegada ao Oceano Pacífico. São, então, impulsionadas rumo ao Atlântico. Os volumes de água envolvidos são impressionantes. Para se ter uma ideia de sua vazão, basta dizer que uma única árvore amazônica de médio porte evapora cerca de 300 litros por dia para a atmosfera, podendo, as muito maiores, chegar a evaporar 1000 litros por dia.

Graças aos rios voadores a América do Sul não é de­sértica como a África, já que os rios garantem a irrigação em uma área que tem como correspondentes geográficos desertos como o Australiano, o Kalahari, o deserto da Namíbia e o Atacama.

A pesquisa da Amazônia mostra a fragilidade da flores­ta num cenário de mudanças climáticas e o imenso risco que corremos se a perdermos. Daí a preocupação com os desmatamentos e, pior ainda, os desmatamentos seguidos de queimadas. É a umidade levada pelos ventos que levam os rios voadores para o sudeste e para o centro-oeste do Brasil impedindo que essas regiões se tornem desertos.

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