Na primeira vez em que falei em rios voadores, na sala da aula, alguns me olharam espantados como se eu estivesse copiando a música de Chico Buarque de Holanda que dizia: ”Quem foi, quem foi que falou no boi voador? Manda prender esse boi, seja esse boi o que for…”. Outros pensavam na história de São Tomás, que foi chamado por companheiros para ver da janela um boi voando. Quando ele chegou, e viu que não havia nada, foi recebido com gargalhadas e disse: “preferi acreditar que boi voasse a crer que meus amigos mentissem”.
Passado esse espanto inicial pude dizer que os rios voadores existem e são muito importantes. São formados por vapor d’água da evaporação das águas dos oceanos e de vapor d’água da transpiração das plantas, principalmente das florestas. Vamos tomar a Amazônia como exemplo. Os órgãos clorofilados, sob ação da luz, além da fotossíntese realizam a clorovaporização que vaporiza a água e deixam a planta pelos estômatos.
Pense que são 600 bilhões de árvores na Amazônia. Cada uma delas é como um “gêiser” tirando água subterrânea e mandando para a atmosfera. Cada árvore pode transportar de 300 litros a 1000 litros de água por dia. Uma única árvore com copa de 20 metros de diâmetro transpira mais de mil litros de água por dia, segundo estudos do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Assim, o volume de água vaporizado é enorme e forma cursos que são movimentados pelas correntes de ventos alísios. Esse volume é de mais que 200 milhões de litros por segundo. Para efeitos de comparação vale dizer que essa é a vazão do Rio Amazonas nos períodos de cheia. Chegando à Cordilheira dos Andes, que funciona como barreira, os rios voadores tomam direção do sul e sudeste da América do Sul, determinando precipitações pluviométricas. Isso explica o regime das chuvas. Explica também o grande prejuízo que é determinado pela derrubada incontrolada de florestas.
Mas, disso vamos conversar na próxima semana.