Rui Flávio Chúfalo Guião *
[email protected]
Depois que eu publiquei crônica sobre o Sena e as Olimpíadas, citando também outros rios em cujas margens nasceram capitais europeias, fui solicitado por amigos a tratar do mesmo assunto referente às capitais brasileiras que foram fundadas à beira de rios importantes.
Desde logo é preciso esclarecer que a colonização brasileira ficou muito tempo em pequena faixa litorânea, pois havia empecilhos para a interiorização, sendo a Serra do Mar e a Mata Atlântica dois dos principais obstáculos, ao contrário da Europa, onde o Sapiens saiu do Oriente Próximo e foi invadindo o território.
Das atuais 26 capitais de estados, mais o Distrito Federal, treze delas se localizam à beira mar e catorze estão no interior.
As litorâneas são: Macapá, Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife (embora os recifenses digam que os rios Capiberibe e Beberibe se encontram na cidade para formar o Oceano Atlântico!), Maceió, Aracaju, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Florianópolis.
Todas as capitais interioranas foram fundadas às margens ou perto de rios ou córregos, indispensáveis para o fornecimento de água. Entretanto, algumas se beneficiaram da localização na borda de rios caudalosos e importantes.
Manaus, por exemplo, no Rio Negro que logo após se junta ao Solimões para formar o mítico rio Amazonas. Por muito tempo, a única via de trânsito para os manauaras foram as águas caudalosas do maior rio do mundo em extensão.
Palmas, a mais nova capital do país, ancorou-se no majestoso rio Tocantins – que também dá nome ao estado – um gigante da bacia amazônica, para realizar seu traçado planejado.
Porto Velho, capital de Rondônia, desenvolveu-se ao lado do majestoso rio Madeira, também importante afluente do Amazonas e considerado um dos mais caudalosos do mundo.
Teresina é a única capital nordestina sem mar. Ela é banhada pelo rio Parnaíba, que deságua no Atlântico, depois de percorrer três dos mais importantes ecossistemas nacionais: o cerrado, a caatinga e o mangue litorâneo.
O rio Acre denomina o estado e banha sua capital Rio Branco, assim denominada em homenagem ao Barão do Rio Branco, que, com sua atuação, incorporou a área ao território nacional.
Porto Alegre ficou infelizmente famosa nos últimos meses pela colossal enchente que destruiu a cidade. O Guaíba, que tantos benefícios traz à capital, recebeu tanta chuva que tornou-se vilão da natureza.
As capitais Cuiabá, Campo Grande, Belo Horizonte, Goiânia, Curitiba, Boa Vista e Brasília não dependeram de rios caudalosos para serem fundadas.
Resta São Paulo, fundada numa colina ao lado dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, mas com o majestoso rio Tietê já sendo visto à distância.
O Tietê, que abriga hoje em suas margens vias expressas de trânsito, foi fundamental para a conquista do interior paulista e brasileiro. Ele tem uma característica interessante: normalmente, os rios nascem no interior e deságuam no oceano. O Tietê tem curso inverso: nasce no planalto paulista e vai desaguar, 1.100 km. depois, no rio Paraná, percorrendo todo o território do estado.
Suas águas conduziram os bandeirantes, que descobriram as Minas Gerais e alargaram o território do país para além da linha do Tratado de Tordesilhas.
E, pegando o gancho, nossa cidade foi fundada entre dois cursos d’água: o ribeirão Preto ( a atual avenida Jerônimo Gonçalves) e o córrego Retiro Saudoso (ao longo da avenida Francisco Junqueira), sendo que o rio Pardo ainda era e é distante do centro.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras