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Ribeirão tem 26 furtos por dia

ALFREDO RISK

Adalberto Luque

Os números da criminali­dade divulgados pela Secreta­ria da Segurança Pública (SSP) para Ribeirão Preto mostram que, apesar da mudança de governo e implementação de novas ações, os casos de furto continuam crescendo muito na cidade. Considerados so­mente os quatro primeiros meses de 2023, em relação ao mesmo período de 2021, a alta é de 48,86%.

Somente no primeiro qua­drimestre deste ano, a cidade registrou 26 furtos por dia. Praticamente um a cada hora. Em 2021, nos quatro primeiros meses, foram 17 por dia.

Situação mais alarmante neste período foi registrada na área do 7º Distrito Policial (DP), em Bonfim Paulista. De janeiro a abril de 2023 foram registrados 77 furtos no bairro, contra 23 no mesmo período de 2021. Uma alta de 234%.

As estatísticas da SSP apon­taram que somente na região do 5º DP houve queda no número de furtos neste comparativo. Uma queda de 4,5%. Foram 353 ocorrências de furto em 2021, contra 337 em 2023. Nos demais sete DPs, houve alta.

Mudança: saíram de cena as rodas de vizinho e entraram concertinas e outros aparatos para tentar conter os furtos nos Campos Elíseos

Além da região do 7º DP, outras duas áreas registraram elevados números de furto. No 2º DP, região dos Campos Elíseos, a alta foi de 85,86%. Em seguida veio a região do 4º DP, a Zona Sul da cidade, com alta de 82,7%.

Os Campos Elíseos lideram o número absoluto de casos. Em 2021, de janeiro a abril, fo­ram 381 registros de furto. Em 2023 os casos passaram para 707. Há alguns anos, a área do 2º DP tem liderado as estatísti­cas divulgadas pela SSP, no que diz respeito a furtos.

Isso fez com que os mo­radores do bairro mudassem de hábito. Saíram de cena as rodas de vizinhos que se reu­niam no final da tarde e co­meço da noite nas calçadas, sentados em suas cadeiras, para conversar. Entraram, no lugar, concertinas, cercas elétricas, câmeras de vigilân­cia, muito medo e inseguran­ça por parte dos moradores.

Semáforo recém-instalado parou de funcionar com furto

Furtos variados
Na Zona Sul, o medo é grande e os casos surpreendem. Num condomínio de aparta­mentos localizado no bairro Santa Cruz, no final de 2022, um porteiro foi descoberto fur­tando apartamentos durante a madrugada. Ele agia quando os moradores estavam dormindo. Entrava sorrateiramente nos imóveis onde as portas estives­sem destrancadas e pegava o que estivesse à mão. Geralmen­te dinheiro nas carteiras e joias que estivessem à vista, para não acordar as vítimas.

O caso foi descoberto e ele foi demitido por justa causa. O condomínio registrou ocor­rência, mas ele responde em liberdade por não ter havido flagrante. Quando tudo pare­cia tranquilo, um morador do prédio percebeu que uma bota de chuva de motociclista havia sido furtada de sua garagem. As câmeras não teriam regis­trado o furto. “Vivemos com receio de que algum ladrão es­teja entre nós. Em casa é tudo fechado o tempo todo para não termos mais surpresas”, diz o dono da bota furtada.

As estatísticas da SSP regis­tram um grande número de ca­sos de furto, em parte, por conta daqueles praticados em fiação de semáforos, empresas, esco­las e residências. Isso aumentou muito durante a pandemia e continuou crescendo em 2023.

Um exemplo ocorreu no dia 17 de maio, portanto ainda fora das estatísticas. A Transerp havia instalado um equipa­mento inteligente na Zona Sul e, menos de 24 horas depois, com fios furtados, o semáforo ficou inoperante.

Celulares também se­guem na mira dos ladrões oportunistas. Numa loja de shopping, dois homens con­seguiram levar dois aparelhos que estavam presos ao mos­truário. Enquanto um deles distraía a atendente, o outro conseguiu destravar os dois aparelhos e esconder no bol­so de sua calça.

Sensação de insegurança em todos os bairros da cidade

Veículos tiveram queda
Ao contrário dos furtos em geral, os furtos de veículo apre­sentaram queda no primeiro quadrimestre de 2023, em re­lação ao mesmo período de 2021. Somente na região do 6º DP foi registrada alta de 60%. Nos demais sete distritos, to­dos tiveram queda.

Uma das mais acentuadas ocorreu na Zona Sul. Nos pri­meiros quatro meses de 2022, foram 206 furtos. A cada 14 horas, um veículo era furtado na cidade. Já em 2023, o nú­mero caiu 44,2%. Foram 115 furtos na Zona Sul, um por dia.

Para evitar surpresas, ficar atento é a melhor opção. Deixar objetos sobre bancos de carro, à vista, andar despreocupada­mente carregando ou falando ao celular, tudo é oportunidade para o criminoso. Melhor ficar atento e não pagar para ver e fi­gurar entre uma das 26 vítimas de furto diárias.

SSP convida Judiciário ao diálogo
A SSP informou que 113 pesso­as foram presas por furto, pra­ticamente uma prisão por dia. Leia a nota: “A SSP esclarece que as forças de segurança tra­balham de forma integrada em todo município de Ribeirão Preto para combater os crimes contra o patrimônio, como roubos e furtos. As ações das polícias Civil e Militar possibilitaram a prisão de 113 pessoas por esses crimes em todo município. Além disso, houve aumento de 14,61% das prisões efetuadas na cidade no primeiro quadri­mestre deste ano, em compa­ração com o mesmo período de 2022.

Constantemente, a Polícia Civil realiza operações com o objetivo de coibir os crimes patrimoniais e identificar quadri­lhas especializadas. Diligências são realizadas para identificar receptadores e traçar a rota de produtos obtidos por meios ilícitos. Além disso, o setor de inteligência da Polícia Civil trabalha para tipificar o crime de receptação com o agravante de organização criminosa, quando assim ocorre. Diversos crimi­nosos identificados nas ruas já foram presos mais de uma vez, mas a SSP assumiu em janeiro uma postura proativa diante desse problema, convidando o judiciário ao diálogo. Já a Polí­cia Militar, através do Comando de Policiamento do Interior 3 – CPI-3, realiza policiamento ostensivo e preventivo na área com rondas de manhã, tarde, noite e madrugada e conta com Operação Impacto que reforçou o policiamento com mais de 17 mil PMs em todo o Estado.”

Praticamente não tem investigação
A investigadora e recém-eleita presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Região de Ribeirão Preto (Sinpol), Fátima Aparecida Silva, acredita que o grande problema no caso dos furtos seja a sensação de impunidade. “É um crime que acaba aumentando, não tem punição, não tem repressão. A Polícia Civil não tem recursos humanos para investigar e isso gera a sensação de impunida­de”, observa Fátima.

Fátima Aparecida Silva, presidente do Sinpol: sensação de impunidade aumenta com desativação de delegacias nos bairros

Para ela, o problema cresce à medida em que a Polícia Civil não está mais fisicamente nos bairros. Todas as oito dele­gacias, chamadas DPs, foram agrupadas num único prédio, a Central de Polícia Judiciária Integrada (CPJI), localizada na avenida Independência, Zona Sul de Ribeirão Preto.

“Antes, a presença da Polícia Civil através de uma delegacia, servia para inibir os criminosos. Hoje a ausência acaba facilitan­do esse crime, que normalmente é praticado sem violência”, acrescenta a presidente do Sinpol.
Fátima afirma que o efetivo em Ribeirão Preto é por demais reduzido. “Os escrivães são obrigados a relatar 700 inqué­ritos simultaneamente. Alguns chegam a 1.000. A cada dia a cidade recebe dezenas de novas ocorrências de furto. Não temos pessoal suficiente para investi­gar cada uma”, lamenta.

De acordo com a presidente do sindicato, Ribeirão Preto precisa de pelo menos mais 50 delegados, 150 escrivães e 150 investigadores para realizar um trabalho a contento para o povo. “Hoje temos uma população em torno de 800 mil habitantes. Se contarmos a população itine­rante, que vem a trabalho ou a negócios todos os dias, passa­mos de 1 milhão de pessoas. Precisamos de mais recursos humanos.

Reduzir o espaço físi­co causa um efeito psicológico negativo. Inquérito é colhimento de provas. Tem que ser bem executado para que a pessoa possa ser retirada da sociedade, passar pela ressocialização e depois voltar. Com uma Polícia Civil cada vez mais diminuta e restrita, não tem como fazer isso. E acredito que o número de furtos seja muito maior, porque muita gente nem registra o crime”, conclui Fátima.

Problema de cultura
O especialista em segurança pública, Coronel Marco Aurélio Gritti, acredita que o crime de receptação, diretamente ligado ao furto, tem sido combatido. “O difícil é mudar a cultura das pessoas em adquirir materiais sem procedência lícita. É cul­tural e em todos os segmentos (roupas, joias, carros, sapatos, etc). Ademais, o receptador não fica preso por conta da legisla­ção. Mesmo preso em flagrante, em pouco tempo está nas ruas novamente”, observa.

“É difícil mudar a cultura das pessoas em adquirir materiais sem procedência lícita”, afirma o especialista em segurança pública, Coronel Marco Aurélio Gritti

Apesar da alta nos índices de furtos, Gritti avalia como positiva a chegada de um novo comandante para a Polícia Mili­tar na região. Segundo ele, todo comandante tem por objetivo reduzir os índices e promover maior sensação de segurança à comunidade da região. “O Co­mandante que assumiu [Coronel Marcelo dos Santos Sançana] tem larga experiência de poli­ciamento (e trabalho integrado na área de assistência social/ saúde) no centro da capital e, certamente terá resultados positivos.”

Para o especialista em seguran­ça pública, os furtos em Ribeirão Preto, em regra estão ligados à questão social e de saúde públi­ca, que refletem na segurança. “Para manter o vício, os furtos são cometidos. Tenho acompa­nhado operações contra a re­ceptação, ocorre que a questão social/saúde está muito crítica e com tendência a piorar. Por­tanto, é um trabalho integrado entre social/saúde (município) e segurança pública (estado), que precisa ser coordenado pelo município, pois deste depende as condições de assistência e tratamento adequados para mi­nimizar os reflexos nos índices criminais”, destaca Gritti.

A queda nos furtos de veículos, segundo o coronel aposenta­do, está ligada diretamente a alguns fatores. “Atuação das forças policiais com fiscalização e fechamento de desmanches ilegais, prisão de quadrilhas e significativa alta na recupera­ção de veículos furtados. Além disso, maior investimento em tecnologia, com monitoramento, alarmes e travas que dificultam o furto. E o mercado de veícu­los usados está relativamente ‘morno’ por conta da dificuldade de crédito. Ressaltando que os crimes contra o patrimônio (furto e roubo), em sua maioria, estão diretamente ligados ao tráfico de drogas”, encerra Gritti.

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