Nicola Tornatore
Ribeirão Preto completou 172 anos na semana passada. Afinal, foi em 2 de novembro de 1845 que um grupo de moradores fincou, numa parte da Fazenda das Palmeiras, na Zona Leste da cidade, uma cruz de madeira – era ali que se pretendia construir uma igreja, providência primeira, naquela época, para o surgimento de um povoado. Começava ali um processo que, oficialmente, só seria finalizado onze anos depois, em 1856 – o município “faz aniversário” em 19 de junho.
Até 2003, na base da cruz (hoje de cimento) que sinaliza o local exato onde foi fincada a original de madeira, existia uma placa, instalada pela prefeitura, com a seguinte frase: “Marco da 1ª manifestação civilizatória de Ribeirão Preto”. É o reconhecimento oficial de que foi ali que se manifestou, pela primeira vez, o desejo dos habitantes dessas terras em formar um povoado. A placa, de ferro, foi furtada em 2003 por ladrões que provavelmente acharam que ela era de algum metal de valor comercial.
Quem passa pela avenida Antonia Mugnatto Marincek, a popular “Estrada das Palmeiras”, único acesso aos bairros do chamado Complexo Ribeirão Verde, já deve ter reparado no cruzeiro (cruz geralmente colocada sobre uma plataforma) localizada defronte a Igreja de Santa Rita de Cássia das Palmeiras. Mais do que um monumento de cimento, é o passado mais remoto da história de Ribeirão Preto.
A missa campal de 2 de novembro de 1845, ao redor daquela cruz de madeira, celebrada pelo vigário de São Simão – vila que tinha jurisdição sobre essas terras –, é o primeiro registro histórico de um processo (a doação de terras para a construção de uma igreja e o surgimento de um povoado) que só vai terminar em 19 de junho de 1856, quando um juiz dá despacho favorável à demarcação do patrimônio de São Sebastião em terras doadas a alguns quilômetros de distância do local onde se pretendia fundar um povoado – em vez da Fazenda das Palmeiras (hoje bairro Jardim das Palmeiras), a vila nasceu em parte da Fazenda da Barra do Retiro (área central de Ribeirão Preto).
Ainda resta uma lembrança desse passado distante – o Museu Histórico e de Ordem Geral Plínio Travassos dos Santos, no campus ribeirão-pretano da Universidade de São Paulo (USP) –, guarda uma lasca de madeira que seria da cruz original. A informação é do historiador e ex-diretor dos museus municipais José Pedro Miranda, em artigo publicado na imprensa local em 1985:
“Em 2 de novembro de 1845, no bairro das Palmeiras, era fincada uma cruz, de madeira, iniciando-se o processo que se arrastou por quase onze anos, para a formação de um patrimônio para a capela de São Sebastião. A referida região fazia parte de São Simão, do Bispado de São Paulo. A referida cruz resistira até por volta de 1853. Parte da mesma se encontra em exposição nos museus municipais de Ribeirão Preto, em uma redoma de vidro, no nicho de um oratório da família Emboaba. Por volta de 1954 foi colocada uma segunda cruz, de cimento, que resistiu por algum tempo, em frente da capela daquele bairro de Ribeirão Preto. Em 2 de novembro de 1975 (130º aniversário da primeira missa campal) foi colocada uma terceira cruz, por dom Bernardo José Bueno Miele, arcebispo metropolitano de Ribeirão Preto”.
Na década de 2000, este repórter localizou, na “reserva técnica” do Museu Histórico, a citada lasca de madeira. Tem cerca de 20 centímetros de comprimento e estava conservada em uma redoma de vidro. Segundo a museóloga Maria Luiza C. Pacheco Chaves, chefe de seção da Secretaria Municipal da Cultura que cuida dos museus Histórico e de Ordem Geral Plínio Travassos dos Santos e do Café Coronel Francisco Schmdit, a relíquia está acondicionada numa sala climatizada.
“Estamos adequando esta sala para tornar-se a reserva técnica, local onde os museus guardam os objetos que não estão em exposição. O ambiente desta sala está sendo monitorado diariamente e a umidade, excessiva na época das chuvas, controlada através de desumidificadores”, diz em nota. Elam lembra que os museus no campus da USP “estão passando por um processo de recuperação das edificações e requalificação institucional para que possa cumprir a suas funções culturais, educacionais, sociais e de preservação da memória e voltar a receber a população em condições mais adequadas”.