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Ribeirão Preto deve-lhe dívida impagável!

Conheço o trabalho dela há quarenta anos, quando com o marido vendeu duas lojas para tirar da per­versidade da rua centenas de crianças. Deram-lhes alimento, moradia, instrução, sobretudo carinho e o rumo certo para a vida.

Infatigável em dedicar-se às necessidades mais ur­gente do próximo, Joana não recusava nenhum apelo de socorro. Para tudo e todos arrumava uma solução, pois quem está com fome, doente ou esfaqueado não pode esperar burocracia. Como no caso levado pelo Padre João Ripoli que lhe trouxe um doente para os cuidados mais urgentes.

Os pedidos de doentes sem esperança de cura e sem que a família e hospitais pudessem acudir se multipli­cavam e ela encontrou-se na angustiante decisão: ou continuar com as crianças, ou abandonar o sonho de acolher doentes incuráveis.

Como sempre a resposta veio depois de muito orar. As crianças foram acolhidas pelas famílias ou por instituições apropriadas. Assim Ribeirão Preto torna-se pioneira em fornecer tratamento paliativo humanizado a doentes terminais ou a quem famílias e hospitais não tem possibilidade de oferecer vida digna, ou que se encontrem com problemas irrever­síveis e em fase terminal.

Graças ao teimoso impulso de caridade da Joana, Ribeirão Preto ganha hospital da Retroguarda com o nome e bênção de Francisco de Assis. O hospital atendeu a centenas de pessoas que a sociedade não pode ou não quis atender, os descartados como o Papa Francisco fala.

O atendimento primava pela higiene, rigor cientí­fico e sobretudo pelo trato humanitário e carinhoso. O hospital tornou-se referência no País e fora dele! Nada foi fácil, nada caiu do céu, tudo fruto da diurna e no­turna dedicação da Joana e de seus filhos, que quando livres das suas ocupações, ajudavam a mãe.

Soube recentemente que a Dona Joana foi afasta­da do hospital e passa necessidade. Visitei periodica­mente o Hospital até com escolares, nunca entrei em detalhes acerca da organização administrativa. Não sou advogado e tão pouco juiz, não sei que aconte­ceu para que a fundadora desta obra tão meritória pudesse ser afastada depois dela ter dedicado a vida sem nada se reservar.

Colocaria minha mão no fogo para atestar que a Dona Joana é a heroína da caridade, a Irmã Dulce de Ribeirão. Tudo fez com o maior desprendimento, sacri­ficando sua vida e a família em benefício dos mais de­serdados de Ribeirão Preto e região. Dona Joana idosa e doente encontra-se agora na condição de indigência. Forte, como sempre na fé em Cristo, sabe que quem as­sume a radicalidade do compromisso de segui-Lo passa pela cruz e perseguição.

Como Jesus poderia repetir: “Ribeirão, Ribeirão, quantas vezes quis trabalhar em prol seus filhos e não quiseste!” Talvez, tardiamente algum alcaide da Cidade lhe proponha um monumento. Assim, repetir-se-ia a queixa de Jesus: “ Jerusalém, Jerusalém que mata os profetas e depois fabrica-Lhes monumentos…”

Joana não pensa em recompensa, não nutre ran­cores, apenas deseja paz e saúde para Ribeirão. Nossa cidade, porém, não deixa de ter dívida impagável para com Dona Joana Amaral, sua grande heroína.

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