Por Dr. Octávio Pontes, coordenador da Unidade de AVC integral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP)
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a principal causa de incapacidade no mundo e uma das maiores preocupações de saúde pública1. Estima-se que 1 em cada 4 pessoas sofrerá um AVC ao longo da vida2, sendo que as sequelas da doença incapacitam cerca de 70% dos sobreviventes, deixando 50% deles dependentes para as atividades diárias3. No Brasil, o impacto é imenso, com mais de 240 mil internações anuais e um custo de R$ 2,3 bilhões ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 20234. No estado de São Paulo, foram registrados mais de 50 mil casos de AVC e 7 mil mortes apenas no último ano5.
Neste contexto, Ribeirão Preto se destaca como um modelo na implantação da linha de cuidado ao AVC. Há um ano, o município foi reconhecido como a primeira “Cidade Angels” do mundo, uma iniciativa voltada para a melhoria da linha de cuidado do AVC. Esse reconhecimento faz parte da Iniciativa Angels, uma parceria entre a Boehringer Ingelheim e entidades como a European Stroke Organization (ESO), a World Stroke Organization (WSO) e a Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC). A missão do programa é promover uma atuação integrada entre o setor de saúde e a comunidade, abrangendo desde a prevenção até o atendimento de emergência, com foco na melhoria contínua do atendimento ao AVC.
A experiência de Ribeirão Preto pode – e deve! – ser replicada em outros municípios do estado. O sucesso da cidade está na atuação em múltiplas frentes, destacando-se a liderança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMRP-USP), que possui uma Unidade de AVC integral, capaz de oferecer atendimento especializado e de alta qualidade aos pacientes; o engajamento dos profissionais do SAMU/192; além da parceria com as Secretarias Municipais de Saúde e Educação da cidade.
Outro fator crucial é a rapidez no atendimento. Um exemplo disso é o treinamento de crianças para identificar sinais de AVC e agir de forma imediata. A campanha “FAST HEROIS”, aplicada nas escolas municipais de Ribeirão Preto, ensina a reconhecer os principais sintomas – como fraqueza facial, dificuldade na fala e paralisia dos braços – e destaca a importância de uma resposta rápida. No tratamento do AVC, o tempo é vital, e a educação precoce pode salvar vidas.
O estado de São Paulo já conta com 23 hospitais credenciados pelo Ministério da Saúde para o atendimento ao AVC. Contudo, é necessário expandir esse modelo para outros municípios, especialmente os mais periféricos, onde o acesso à saúde é mais limitado. O estado de São Paulo tem o potencial de ser uma referência nacional no tratamento do AVC, e Ribeirão Preto demonstrou que isso é possível com a implementação de boas práticas, infraestrutura adequada e programas de educação.
Neste Dia Mundial do AVC, celebrado em 29 de outubro, é essencial reforçar a conscientização sobre a doença. A prevenção, o diagnóstico rápido e o tratamento adequado são fatores determinantes para reduzir o número de casos e mortes. Ribeirão Preto provou que, com esforço e dedicação, é possível transformar a realidade do AVC no Brasil. Agora, é hora de expandir essas boas práticas para outros municípios, fazendo de São Paulo um exemplo na luta contra o AVC.
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Referências Bibliográficas
- WHO. Global health estimates 2016. Deaths by cause, age, sex, by country and by region, 2000-2016. Geneva, WHO, 2018.
- Protocolo de tratamento AVC – espírito santo agosto/2018.
- Sociedade Brasileira de Cerebrovascular. [Acesso em 04/01/2021]. Disponível em: http://www.sbdcv.org.br/publica_avc.asp
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de saúde DF. AVC pode ser evitado em 90% dos casos. 2018. disponível em: http://www.saude.df.gov.br/avc-pode-ser-evitado-em-90-dos-casos/
- Datasus – Base Novembro de 2023, dados considerando MAT Nov 2023 (últimos 12 meses) – Visão Painel Trombolíticos.
Extraído em 08 de fevereiro de 2024.
- DATASUS – Fonte: MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM.