Por Adriana Cristofoli
A escritora e editora ribeirão-pretana, Yara Fernandes Souza, conquistou mais um feito em sua carreira. Desta vez ela é finalista no 9° Prêmio Kindle de Literatura, com o livro “Destinas”. A premiação, com anúncio dos vencedores, está prevista para dia 17 de fevereiro. Yara já foi premiada em diversos concursos, incluindo o Concurso Tâmaras 2023 e o Prêmio Book Brasil 2022, destacando-se como uma voz poderosa na literatura contemporânea.
Antes da premiação, no sábado, dia 15 de fevereiro, Yara participa junto com outros três finalistas de um bate papo, na Ria Livraria, em São Paulo, às 18h. O evento reunirá os escritores Bruno Crispim, Lucas França e Sonia Zaghetto para uma conversa sobre suas trajetórias, o impacto da premiação e os desafios do mercado literário independente.
“Pra mim esse prêmio é a chance de ter minhas obras mais lidas, que mais pessoas encontrem minhas palavras e se conectem com elas. Só de ser finalista, mais pessoas leitoras já se interessaram pelo meu livro. E a pessoa vencedora vai para uma grande editora. E tudo que quero como autora é isso: alcançar mais pessoas”, comemora.
Obra – “Destinas”, entrelaça prosa e poesia para abordar temas profundamente relevantes, como a exaustão feminina na sociedade patriarcal, sororidade, violência doméstica, e maternidade compulsória. O texto utiliza elementos de realismo mágico e referências a Obaluaê, que questiona os destinos traçados para os corpos femininos e os padrões de beleza e sociais.
Na história, Heloísa é uma operária de 48 anos, vive um casamento infeliz e uma rotina exaustiva. Num instante limite, desliga a máquina, sai da fábrica e parte em uma viagem não planejada. A amizade com Milena e Sueli se mostra muito além de um encontro nas estradas, mas um entrelaçamento de mulheres e suas histórias, suas dores e renascimentos.
Yara escolheu esses temas para enfatizar a importância de as mulheres tomarem as rédeas de seus próprios destinos, e como a coletividade, a amizade e a sororidade são cruciais nesse processo de fortalecimento. “É necessário falar sobre a cura envolvida nessa autodeterminação, sobre as cicatrizes que carregamos de todas as violências”, afirma a autora.
O livro foi escrito ao longo de seis meses, com mais um ano dedicado à edição, refletindo o compromisso da escritora com a lapidação da linguagem. A narrativa, que mistura prosa poética e elementos visuais, busca criar uma experiência sensorial, envolvendo o leitor na estrada e na velocidade da viagem das personagens.
Processo criativo – Yara, que sempre investigou a palavra poética, encontrou na prosa poética uma forma de unir narrativa e poesia. Em “Destinas”, ela explora elementos de poesia visual e ritmo para criar a sensação de velocidade e estrada. O uso de verbos no presente e o fluxo de consciência misturam-se com a estrada, criando um percurso difuso que espelha as viagens da mente.
Os capítulos são marcados por quilometragem e linhas tracejadas, transportando o leitor para dentro do carro ao lado das personagens. Influenciada por autores como Aline Bei, Conceição Evaristo, Valter Hugo Mãe, e Manoel de Barros, ela adota um estilo híbrido que mescla prosa e poesia. Sua escrita é marcada pela exploração de sensações e imagens, buscando conectar o leitor emocionalmente com a narrativa.
Autora – Yara Fers começou no ofício bem cedo, aos oito anos escreveu seu primeiro poema. Filha de professores, o acesso aos livros e o incentivo à escrita, fizeram parte da sua formação. “Fui muito influenciada pelo meu pai, que era poeta, mas nunca conseguiu publicou um livro”, conta. O pai de Yara, Paulo Henrique de Souza, foi professor da rede pública e inclusive empresta o nome a uma escola municipal em Ribeirão Preto. A mãe, Fátima Fernandes, também professora, foi candidata algumas vezes a prefeita e vereadora, e tinha a defesa da educação e da cultura como uma de suas bandeiras.

Yara saiu de Ribeirão aos 17 anos, para cursar a faculdade na Unesp em Bauru e mesmo tendo o incentivo à literatura desde a infância, só fui publicar o primeiro livro aos 38 anos. “Além do próprio mercado editorial no Brasil ter suas barreiras, nós mulheres sempre somos mais julgadas, temos mais demandas na vida, e isso muitas vezes nos faz adiar nossos sonhos. Então demorei a publicar”, explica.
Com formação em Comunicação Social e especialização em Teoria da Literatura e Produção Textual, atua como mentora, professora e editora. Yara também é a fundadora da Editora Arpillera, de livros artesanais, e editora do portal Fazia Poesia e da Revista Aorta. Publicou 12 livros, entre poesia, romance e infantis, e é participante ativa de coletivos literários como Escreviventes, Poexistência e Papel Mulher.
Prêmio – O prêmio é promovido pela Amazon Brasil, em parceria com o Grupo Editorial Record e a Audible, e tem o objetivo reconhecer autores e autoras independentes do Brasil cujas obras são publicadas no Kindle Direct Publishing (KDP), a ferramenta gratuita de autopublicação da Amazon.
Em sua 9ª edição, o vencedor receberá um prêmio de R$ 50 mil – sendo R$ 40 mil em dinheiro e R$10 mil em adiantamento de royalties –, terá seu livro impresso por um dos selos do Grupo Editorial Record, que será enviado aos assinantes da TAG Experiências Literárias, na modalidade curadoria. Além disso, a Audible premiará todos os cinco finalistas com a produção e publicação de seus audiolivros.
As obras inscritas serão analisadas por um grupo de especialistas editoriais selecionados pela Amazon, pelo Grupo Editorial Record e pela TAG Experiências Literárias. Integram o júri os autores João Silvério Trevisan, Cidinha da Silva e Andréa Del Fuego.
Confira um trecho de “Destinas”:
“e enquanto na estrada tantas vacas mastigam o pasto, Heloísa relembra sua pópria carne queimada de vaca no abatedouro da vida, a ração fracionada de cada dia, o rasgo no uniforme que precisava de remendo, a gota de óleo no tecido branco, apenas algumas nuances que a diferenciam ou não de tantas outras vacas no pasto, na linha de produção, o peito brilhante sob o sol, a expectativa inútil do nascimento dos bezerros, mais filhotes para o rebanho infinito de almas, as vacas todas amamentando, ou sendo ordenhadas, ou ficando bonitas, servindo servindo servindo servindo servindo, enquanto as cercas de arame farpado limitam seus movimentos, enquanto outros corpos bovinos estéreis são abatidos para também servir, e os olhos oleosos de heloísa, uma vaca cansada parada na paisagem, pastando, enquanto a vida passa por ela em alta velocidade em carros bonitos” (@yara.fers)