A chuva voltou a causar transtornos em Ribeirão Preto nesta quarta-feira, 24 de outubro, uma semana depois do temporal que deixou o município debaixo d’água – no dia 17, em seis horas, das cinco da madrugada às onze da manhã, choveu o equivalente ao mês inteiro. Ontem houve alagamento e interdições em avenidas movimentadas da cidade, famílias que vivem precariamente em comunidades perderam o pouco que tinham, o trânsito virou um caos, linhas de ônibus sofreram alterações em seus itinerários, faltou energia e a temperatura despencou cerca de oito graus centígrados, de 32ºC para 24ºC ao meio-dia.
O volume de água que caiu na cidade em cerca de oito dias já é cinco vezes do que o previsto para o mês. O temporal começou por volta das 4h30 da madrugada e, até as onze horas segundo institutos de meteorologia e a Defesa Civil de Ribeirão Preto, choveu 61 milímetros. Somente entre as seis e as nove da manhã o Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (Ciiagro) registrou 31 mm. Até as 13 horas, o volume estava em 100 milímetros. Este já é o outubro mais chuvoso em doze anos. Por causa da chuvarada, no período da manhã algumas linhas de ônibus tiveram seus itinerários alterados para evitar os locais alagados.
A avenida Eduardo Andrea Matarazzo (Via Norte) voltou a alagar em vários trechos com o transbordamento do ribeirão Preto. Na avenida Doutor Francisco Junqueira, em frente à concessionária Atri Fiat, a água do córrego Retiro Saudoso também subiu, o tráfego de veículos ficou complicado e teve de ser desviado para a avenida Maria de Jesus Condeixa. A Maurílio Biagi sumiu debaixo da água misturada à lama. Na mesma avenida, entre o Jardim Macedo e a Vila Seixas, moradores reclamam que a enxurrada desce com força das avenidas Presidente Castelo Branco e Treze de Maio e fica acumulada na via.
A Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp) interditou alguns trechos dos locais alagados. Na Via Norte, um ônibus do transporte coletivo atolou no canteiro central quando tentava fugir da enchente e foi rebocado por um guincho depois que dois caminhões tentaram resgatar o veículo, sem sucesso. Não havia passageiros no coletivo.
Um carro de passeio também ficou ilhado. No Jardim Paulistano, um motorista tentou enfrentar a enxurrada, mas o carro acabou preso em um buraco no asfalto, no cruzamento das ruas José da Silva e João Bim. O homem não ficou ferido, mas o trânsito ficou lento no local, até a retirada do veículo. Motoristas também tiveram dificuldade para acessar o Complexo Ribeirão Verde, porque a marginal da Rodovia Anhanguera (SP-330) ficou alagada.
Os moradores dizem que os bueiros não conseguem captar a água, que invade a pista e atrapalha o trânsito. “Devido à forte chuva desta manhã, orientamos aos condutores para que redobrem a atenção e reduzam a velocidade, devido às condições de visibilidade”, informou a Transerp, em nota. Na avenida da Saudade, um transformador de energia elétrica estourou e cerca de 1.800 unidades comerciais e residenciais ficaram boa parte do dia sem luz, segundo a CPFL Paulista.
A Transerp também voltou a interditar o trecho da rotatória da avenida Cavalheiro Paschoal Innecchi com a avenida Doutor Oscar de Moura Lacerda, no Jardim Independência, perto do quartel da Polícia Militar, na Zona Norte, devido ao alagamento provocado pelas fortes chuvas desta quarta-feira. O viaduto Luiz Maggioni, que liga as avenidas Capitão Salomão, nos Campos Elíseos, à Dom Pedro I, no Ipiranga, na Zona Norte, está parcialmente interditado por causa da erosão.
A Secretaria Municipal da Infraestrutura informou que está na programação desta quinta-feira (25) o reparo na galeria de água pluvial da ponte. “Se o tempo permitir faremos os reparos necessários para conter a erosão e, consequentemente, consertar a galeria por onde escoa a água da chuva”, diz João Cosack, chefe do Departamento de Manutenção e Serviços de Próprios Públicos.
De acordo com a Infraestrutura, a CPFL Paulista também foi acionada para providenciar o reparo do poste de energia atingido pela erosão. Até que sejam providenciados os devidos reparos, parte da pista Centro-bairro continua parcialmente interditada e a orientação aos motoristas é para que redobrem a atenção. A Transerp sinalizou a área com cavaletes para minimizar quaisquer riscos de acidentes. A previsão para esta quinta-feira (25) é de mais chuva.
Água volta a inundar favela
O temporal desta quarta-feira, 24 de outubro, voltou a afetar a Favela Cidade Locomotiva, no Jardim Jóquei Clube, na Zona Norte de Ribeirão Preto, que já havia sido duramente afetada na semana passada. Oitenta famílias foram atendidas pela Defesa Civil, Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e Fundo Social de Solidariedade (FFS).
Segundo a prefeitura, 50 famílias – cerca de 150 pessoas – estavam desalojadas até o final da tarde de ontem aguardando a água baixar. A administração municipal levou 170 marmitex para os moradores e distribuiu colchões. Na Cidade Locomotiva vivem cerca de 1.800 moradores de 370 famílias, segundo o líder comunitário Platinir Nunes.
Desta vez, porém, o Corpo de Bombeiros esteve na comunidade apenas para orientar a população – na semana passada, várias pessoas foram resgatadas de suas casas de bote. Mas a água invadiu a favela. Alertados no dia anterior pela Defesa Civil, os moradores começaram a erguer móveis, televisores, geladeiras, fogões, camas e colchões, roupas a alimentos ainda na madrugada.
Quando amanheceu, carros estavam com as rodas cobertas pela água, que batia acima dos joelhos de quem se arriscava a andar pelas ruas da comunidade. A Defesa Civil, a Guarda Civil Municipal e a Secretaria de Assistência Social se mobilizaram para atender os moradores. “As famílias desalojadas podem solicitar abrigo provisório na Casa de Passagem”, informa a prefeitura. Na semana passada, a Semas cadastrou 43 famílias que ficaram desalojadas, totalizando 179 pessoas.
Porém, elas optaram em se abrigar no Parque Permanente de Exposições, o antigo recinto da Feapam. No dia seguinte foram encaminhadas para a sede de uma organização não-governamental (ONG). Várias pessoas se mobilizaram para conseguir doações de alimentos, roupas e colchões, principalmente. Há dois anos, um temporal deixou 30 famílias desabrigadas.
Uma das causas dos alagamentos da Comunidade Locomotiva é o córrego que corta a região. “O problema é que quando chove muito o córrego alaga atingindo as moradias”, disse o responsável pela Coordenadoria de Limpeza Urbana, Edson Mielle. As equipes da CLU retiraram nesta terça-feira (23) dez toneladas de lixo, restos de colchão e móveis da região.
Apesar do trabalho, a comunidade está em uma área de preservação permanente (APP) pertencente à União, e só um estudo detalhado poderá determinar a limpeza da calha do córrego que está assoreada e por causa da fiação elétrica dificulta o emprego de máquinas neste momento. A Guarda Civil Municipal e a Defesa Civil também monitoram a Cidade Locomotiva.
As equipes do Corpo de Bombeiros auxiliam as famílias atingidas pela chuva. “Estamos em alerta desde a tarde de terça-feira (23) quando já havia a previsão de fortes chuvas para Ribeirão Preto (de acordo com a Infraero, choveu 61 milímetros em poucas horas). Já nas primeiras horas desta quarta-feira, com a chuva intensa, nossas equipes já estavam nas ruas de prontidão”, diz Renato Catita, coordenador da Defesa Civil.
Os moradores ocuparam um antigo galpão administrado pela Ferrovia Centro -Atlântica (FCA) e passaram a receber doações e assistência da prefeitura. Segundo a Defesa Civil, as enchentes na comunidade ocorrem por uma questão topográfica e de construção das moradias em área irregular. A favela está em uma região mais baixa do bairro e é atingida pela enxurrada que desce pela rua Peru. Segundo a prefeitura, as secretarias de Obras Públicas e de Infraestrutura têm planos para melhorar a drenagem no local.
Pontos de alagamento, quedas de árvores, risco de desabamento e outras situações podem ser comunicadas pela população, assim como pedidos de assistência para desabrigados. A Guarda Civil Municipal atende pelos telefones 199 e 153, que funcionam 24 horas durante todos os dias da semana. Há também o número (16) 3632-4747, em horário comercial, de segunda a sexta-feira. Já os serviços da Semas podem ser contatados pelo número 161, que também funciona 24 horas, todos os dias da semana.
RP precisa de R$ 170 mi para conter alagamentos
O secretário municipal de Obras Públicas, Pedro Luiz Pegoraro, disse nesta quarta-feira, 25 de outubro, que a prefeitura de Ribeirão Preto tem projetos para a construção de três barragens que devem reduzir consideravelmente os pontos de alagamento na cidade. No entanto, para executar as obras, o município precisa de R$ 170 milhões. Ele diz que o governo busca outras fontes de recursos para viabilizar as intervenções.
Dividido em quatro etapas, entre 2008 e 2014, o projeto das obras antienchente em Ribeirão Preto custou R$ 117 milhões aos cofres públicos. As intervenções ocorreram no córrego Retiro Saudoso, na avenida Doutor Francisco Junqueira, e no ribeirão Preto, nas avenidas Jerônimo Gonçalves e Fábio Barreto. O governo federal investiu R$ 99 milhões – R$ 52 milhões via financiamento com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), R$ 30 milhões de emendas parlamentares e R$ 17 milhões a fundo perdido.
O estadual aplicou R$ 3 milhões – via Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição (Fecop), da Companhia de Tecnologia Ambiental de São Paulo (Cetesb) –, a prefeitura entrou com R$ 10 milhões e a Câmara de Vereadores com mais R$ 5 milhões. Em todas as ações de combate às enchentes foi executado um extenso plano de compensação ambiental com o replantio das 128 palmeiras imperiais e o plantio de oito mil espécies arbóreas na região e pela bacia do ribeirão Preto, compreendida pelo Parque Maurílio Biagi, tornando estas áreas mais protegidas e permeáveis.