Tribuna Ribeirão
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Retrato antigo

Em 1945 o estúdio fotográfico mais famoso de Ribeirão Preto era o do Cantarelli que se encontrava na Rua Duque de Caxias defron­te da Praça XV. Na época pouquíssimas pessoas tinham “maquina fotográfica”, daí a necessidade de ir ao Cantarelli para fotografar a família nas suas festas.

Os interessados e seus familiares iam ao estúdio se quisessem ser fotografados por máquinas enormes em salas decoradas para casamento, primeira comunhão, entre outras datas.

A cidade ganhou outra face com a chegada dos irmãos Myasaka que passaram a fotografas eventos, levando a máquina portátil. Após a chegada dos Myasaka os clientes deixaram de ir ao estúdio; o estú­dio passou a ir atrás dos clientes.

Curiosamente, o horário da cidade dispensava relógio. As três horas da tarde o Café Biagini impregnava o nosso centro com o per­fume do seu produto: estava na hora do café com leite da tarde com pão e manteiga Pesca.

Às seis da manhã, ao meio dia e às seis da tarde a cervejaria tocava seu apito, marcando não só a entrada e saída de seus empre­gados, como também a hora do almoço e do jantar de toda a cidade de São Sebastião de Ribeirão Preto.

Os três restaurantes mais frequentados pelos homens de bem eram o Pinguim, a Paulicéia e o Bom Petisco. Este último ficava ori­ginalmente defronte da Única e da Agência São Paulo, onde já eram vendidos os jornais e as revistas do dia.

Barbeiros eram muitos. O Canini tinha um boneco na sua porta cuja cabeça movia-se de lá pata cá. Na calçada do Teatro Pedro II, o Valdemar mantinha uma cadeira na calçada, onde passava o dia engraxando o sapato de seus fregueses.

Os partos, quase sempre, eram realizados pela dona Adelaide, ou melhor, a dona Adelaidinha, que, em razão de sua importantíssima profissão foi homenageada pela Câmara Municipal.

Baiche era o nome do homem mais forte da cidade. Contava­-se que numa tarde amarrou duas correntes no para-choque de duas charangas e as outras pontas nos seus braços. Por mais que os motoristas acelerassem as charangas, não conseguiram sair do lugar. Deram ao Baiche o título de Capitão Marvel da região. Pudera!

Algumas doenças viam e iam embora, como o sarampo, a coque­luche e a catapora. Como muitos adultos e muitas crianças andavam sem sapato, pisavam em cima da urina dos cavalos, contraindo uma moléstia que subia pelas pernas. O farmacêutico Princivale curava a doença com pomada de basilicão. Anos depois a cidade desco­briu que o basilicão era feito com o tempero da pizza napolitana: o manjericão.

Na época, Monteiro Lobato passou a escrever histórias do Juca Tatu,” a obra de maior divulgação em todo o Brasil”, publicadas no almanaque do Biotônico Fontoura que era distribuído nas farmácias. Monteiro Lobato labutou bravamente no sentido de se dar sapatos e botinas aos adultos e às crianças brasileiras. Assim que houve a disseminação de sapatos e o desaparecimento das carroças muitas doenças desapareceram, inclusive aquela resultante da urina dos cavalos. O advogado e escritor Monteiro Lobato contribuiu vigo­rosamente para desaparecimento de doenças, receitando o uso do sapato como remédio.

Não somente ele, o médico e Professor Hélio Lourenço receitou contra o Mal de Chagas a destruição das casas de sapé. Na época, a casa vinda da tradição dos índios, era cantada em versos e músicas, inclusive uma da Dircinha Batista. Hélio Lourenço acabou com as casas de sapé, matando o contaminador chamado “barbeiro”. Sem a aplicação de nenhuma pomada de basilicão, curou uma das mais mortais pestes do país.

O retrato não termina aqui.

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