Nesta semana o governo do Estado de São Paulo anunciou a fase de retomada segura da economia, onde as regras gerais e setoriais de segurança sanitária continuarão as mesmas da fase de transição e as prefeituras mantêm a autonomia para determinar rigidez nas restrições seas circunstâncias locais da pandemia e a capacidade hospitalar piorarem. Assim salões de beleza, bares, restaurantes, lojas e shoppings voltam a receber seus consumidores sem limite de horário e com plena capacidade de ocupação de público. As atividades culturais, academias e parques também estão liberados.
Enquanto os empresários e trabalhadores celebram, infectologistas demonstram a preocupação com a não observância dos protocolos básicos e com a proliferação de variantes do coronavírus, especialmente a delta. Vale a pena recordar que desde o dia 25 de fevereiro de 2020 quando o Ministério da Saúde anunciou que um homem com histórico de viagem para Itália erao primeiro caso confirmado no estado, muita coisa aconteceu e segundo o Centro Estadual de Contingência até a última quinta-feiraforam registrados 4.195.466 casos e 143.752 óbitos.
Uma das áreas que desperta maior preocupação é a educação, embora cheia de expectativa e ansiedade de pais e alunos, seria razoável acreditar que, após 17 meses nossos governantes tiveram tempo suficiente para promover um retorno seguro contemplando as necessidades de cada faixa etária, etapa e nível. Ocorre que na realidade vários municípios, ainda, não vacinaram todos os profissionais do setor e inúmeras escolas sequer possuem alvará de funcionamento dos bombeiros, documento básico para qualquer atividade.
Os debates sobre o retorno expos a precariedade e inadequação de estabelecimentos de ensino que deveriam ser os espaços mais seguros da sociedade. Em algumas localidades aconteceu até a judicialização. O que todos concordam é que a retomada deve ser segura, garantindoo bem-estar físico, mental e social dos profissionais da educação e dos estudantes. Onde os gestores fizeram a lição de casa, todos os funcionários devem estar preparados para implementar os protocolosde biossegurança com acesso aos recursos e materiais necessários. Ocorre que, se tratando de Brasil, sempre paira uma desconfiança e, muitas vezes a efetividade dá lugar ao famoso improviso.
A memória afetiva dos mais velhos é envolta de nostalgia e nos remete às diversas capas da Cartilha Caminho Suave da professora Branca Alves de Lima retratando a ida à escola como algo prazeroso e seguro, também à cena clássica de desenhos animados onde o aluno presenteia sua professora com uma maçã bem vermelha e filmes, como “Ao Mestre com Carinho”, onde Sidney Poitier representa os professores que superam todas as dificuldades e, através do respeito e competência, consegue transformar o comportamento hostil dos alunos em afeição.
Na realidade cotidiana continuamos com as barreiras socioeconômicas, falta de investimentos, evasão escolar e analfabetismo. Urge aprimorar a formação de docentes, ampliar o acesso à escola e a participação dos pais e responsáveis. Consagrada no artigo 205 da nossa Constituição, a educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Toda sociedade deve colaborar na sua promoção e isso agora começa na garantia das condições ideais de segurança sanitária.
Assim profissionais da educação, alunos, familiares, conselhos municipais de educação, ministério público, judiciário, enfim todos os atores envolvidos devem fazer o cuidadoso acompanhamento do processo da gradativa retomada das aulas presenciais. Irregularidades devem ser denunciadas, apuradas e corrigidas. Ao final, aprender a trabalhar coletivamente será mais um grande aprendizado.
Como ensinou Paulo Freire “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.” Vamos acompanhar e participar com responsabilidade e consciência de que o caminho não é tão suave, mas vale a pena.