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Resiliência, paciência, persistência e consciência

A história de luta contra o racismo, preconceito e discriminação é marcada por momentos de resiliência dos que sobreviveram à escravidão, ao cativeiro e às torturas; paciência dos que imaginaram que a igualdade chega­ria logo; persistência dos que diariamente estão mobilizados; e consciência que deveria ser geral, mas precisa de ações diárias para convencimento de pessoas dos mais variados setores da sociedade.

Na Semana da Consciência Negra deveríamos estudar e conhecer melhor Aqualtune, Zumbi dos Palmares, Dandara, Aleijadinho, Tereza de Benguela, Mestre Valentim, Milton Santos, Machado de Assis, Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus, Abdias do Nascimento, Teodoro Sampaio, Sueli Carneiro e André Rebouças, porém novos casos de racismo e injuria racial ganharam a mídia e precisam ser comentados.

Primeiro o Brasil conheceu Bruno Mendes, de 29 anos, que foi ofendido por um casal de idosos que não admitia um negro gerenciando uma grande loja no shopping de Governador Valadares. O ponto positivo foi a solida­riedade dos colegas de trabalho. A reação dos anciãos não é isolada, basta circular pelos grandes centros empresariais e de negócios para perceber a tímida presença negra em posições de destaque.

Bem aquém do ideal, também é a presença negra na política. Nas eleições do último domingo, os negros aumentaram sua participação no comando de prefeituras e no número de cadeiras nas câmaras municipais. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, dos mais de 5,4 mil prefeitos eleitos, aproximadamente 1,7 mil se declararam pretos ou pardos, o que correspon­de a 32% do total.

Palmas, capital do Tocantins, entra para a história, pois 95% dos verea­dores eleitos se declararam negros. Já Florianópolis, foi a única capital que não elegeu nenhum negro. Ainda de Santa Catarina vem a triste realidade de Joinville, onde Ana Lúcia Martins, primeira negra eleita na cidade está sofrendo uma onda de ameaças e ataques racistas de uma chamada “juven­tude hitlerista”.

Continuando no sul, Porto Alegre pela primeira vez elegeu cinco verea­dores negros, já Curitiba elegeu sua primeira vereadora negra, Carol Dartora. Ribeirão Preto inova elegendo Duda Hidalgo, Ramon Todas as Vozes (coleti­vo que também inclui Sheila Brandão) e o Coletivo Popular Judeti Zilli (com Adria Bezerra e Silvia Diogo – militantes históricas do movimento negro).

Acostumados com o mito da democracia racial, tivemos uma vigorosa campanha da justiça eleitoral abordando a sub-representação de negros e mulheres. Nas urnas, os números de eleitos superiores aos registrados em 2016, registram passos importantes rumo à construção de uma sociedade que contemple a diversidade na política, embora exista um contraste entre eleitores e eleitos. A maioria do eleitorado é formada por mulheres, negras, menores de 40 anos e com ensino fundamental, enquanto a maioria dos pre­feitos eleitos são homens, brancos, com ensino superior e maiores de 50 anos.

Durante 350 anos nosso país recebeu cerca de 4,5 milhões de negros escravizados e seus descendentes carregam marcas e cicatrizes que jamais serão apagadas. As políticas afirmativas das últimas duas décadas iniciaram uma reparação histórica necessária e que precisa ser ampliada, no entanto, as diferenças escancaradas diariamente provam que o Dia da Consciência Negra continua necessário.

Nesta importante semana, dediquemos parte do tempo para celebrar os avanços, mas também para denunciar os retrocessos e muros que, ainda, precisam ser superados, entre os quais o racismo estrutural e estruturan­te, tão presente na formação do país. Não há como continuar negando ou minimizando o peso do racismo nas instituições e seus efeitos nefastos na vida de milhões de pessoas. Precisamos combatervigorosamente os estere­ótipos e reduzir as diferenças. A educação é uma importante ferramenta, sendo fundamental que os currículos contemplem a contribuição intelectual e política dos negros e não omitam ou glamourizem as inúmeras situações de preconceito racial.

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