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Religião e espiritualidade

Cleison Scott *
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“E sem dúvida o nosso tempo… prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao Ser… Ele considera que a ilusão é sagrada, e a verdade é profana. E mais: a seus olhos o sagrado aumenta à medida que a verdade decresce e a ilusão cresce, a tal ponto que, para ele, o cúmulo da ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado..” Feuerbach (A essência do cristianismo), citado por Debord em “A Sociedade do Espetáculo”.

Todos aqueles que buscam a espiritualidade acabam enveredando pela metafísica, porque todas as religiões, por melhor que sejam as intenções, se envolvem com o físico, em função da promiscuidade de seus prosélitos com o mundo tridimensional.

Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e o Dalai Lama.

Leonardo Boff explica:

“No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:

– “Santidade, qual é a melhor religião?” (Your holiness, what’s the best religion?)

Esperava que ele dissesse:

“É o budismo tibetano” ou “São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo”.

O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos – o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta – e afirmou:

“A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor”.

Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:

– “O que me faz melhor?”

Respondeu ele:

-“Aquilo que te faz mais compassivo” (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável… Mais ético…

A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião…”

Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável…

Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tem ou não tem religião.

O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo…

Outro padre famoso que mergulhou na Metafísica foi o Teólogo, Filósofo e Paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955). Essas pessoas não negam ou criticam suas religiões de origem, mas sua natural  ortodoxia as levam a alcançar os limites de até onde podem oferecer respostas não dogmáticas para continuar a se aprofundar na espiritualidade. Eis alguns exemplos que Chardin nos deixou:

A religião não é apenas uma, são centenas.

A espiritualidade é apenas uma.

A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados.

A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.

O Dr. Huberto Rohden (1893 – 1981) é considerado o maior intelectual e um dos maiores filósofos brasileiros. Conviveu com Einstein por um período, quando lecionou “Religiões Comparadas” a convite da Universidade de Princeton, tendo escrito um livro a respeito do grande cientista. (Einstein, o Enigma do Universo). Poliglota, falava oito línguas fluentemente e sua filosofia tinha caráter eminentemente espiritual. Foi o precursor do espiritualismo universalista ao propor a Filosofia Univérsica, por meio da qual defendia a harmonia cósmica, implicando que o ecumenismo deve ser natural, já que diferentes crenças nada mais são do que a mesma verdade vista de diferentes ângulos. Informava ter preferido o uso do substantivo, de origem latina, ‘Universo’ em lugar do mais comum grego ‘cósmico’ porque este se refere aos aspectos físicos do universo, enquanto aquele tem dupla referência; ao homem físico e seu habitat, bem como seus aspectos transcendentes. Sua obra que, após sua partida deste plano, foi condensada em 65 livros por seu aluno e editor Martin Claret, se caracteriza pelo ecumenismo de suas idéias, as quais mostram certo sentimento de compaixão para com aqueles que se postam de maneira dogmática e individualista. É notório o fato de querer dar ao seu trabalho fins práticos, correlacionando-o, o mais possível, com a espiritualidade que é intrínseca à sua pedagogia, ciência e filosofia. Muito embora tenha sido um padre jesuíta, Dr. Rohden não pertencia e nem fundou qualquer seita religiosa, mas pode e deve ser considerado um Meta/espiritualista por excelência. Sua visão do ser humano se baseia na crença de que todos são capazes de melhorar, de crescer espiritualmente através do autoconhecimento e da autorrealização.

* Administrador de empresas, com especialização em Marketing
 

 

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