Adalberto Luque
Era o final de tarde de 11 de maio quando Márcia Priscila Gabriel Matias Senna, de 25 anos, saiu de Descalvado, cidade a 100 km de Ribeirão Preto. Ela acompanhava seu tio, de 64 anos, que iria até um hospital particular. Os dois vinham em um veículo da Secretaria Municipal da Saúde de Descalvado.
Por volta de 17 horas, logo que o carro saiu da Rodovia Anhanguera e apanhou a avenida Celso Charuri, na Zona Sul de Ribeirão Preto, por motivos a serem esclarecidos, o motorista perdeu o controle de direção e colidiu contra um poste de iluminação.
O veículo estaria a 55 quilômetros por hora no momento da colisão, segundo informações da prefeitura de Descalvado obtidas através do rastreador, abaixo do limite da via, que é 70 km/h. A batida, contudo, teria sido bastante forte. O motorista do carro e o tio de Márcia teriam ficado presos às ferragens, mas foram retirados com ferimentos leves. Já Márcia, perdeu a vida no local do acidente.
A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL Paulista), como é comum nestes casos, foi chamada porque a rede estava energizada e teria riscos para os motoristas e por quem mais passasse pelo local. O poste foi trocado. Na mesma semana em que a jovem morreu, somente em Ribeirão Preto, outros três acidentes com queda ou danos causados a postes de iluminação foram registrados. Um deles na avenida Professora Dina Rizzi, no Residencial Cândido Portinari, Zona Leste, onde uma motorista alega ter tido a visão prejudicada pelo sol e derrubou o poste. Outros dois na avenida Antônia Mugnatto Marincek, no Ribeirão Verde, Zona Leste. Num deles, o veículo havia sido furtado horas antes e, na fuga, o motorista bateu contra um poste. Um dos ladrões ficou preso nas ferragens, ferido em estado grave. Os outros três fugiram, deixando o carro destruído.
1 queda a cada 37 horas
Os quatro acidentes do início da reportagem ainda não entraram na estatística da CPFL Paulista. Mas reforçam a constatação de que, somente no primeiro trimestre de 2023, um poste foi derrubado ou danificado por motoristas em Ribeirão Preto a cada 37 horas – foram 58 postes no primeiro trimestre do ano.
Em meio ao “Maio Amarelo”, mês da campanha nacional de conscientização no trânsito, a CPFL Paulista divulgou o balanço de colisões contra postes no primeiro trimestre do ano. Na região de Ribeirão Preto e Franca foram 122 registradas. Barretos e Bebedouro também estão entre as que mais apresentaram ocorrências.
O número total de colisões é 12,8% menor que o registrado no primeiro trimestre de 2022, quando foram computadas 140 colisões contra postes de energia. Ainda que continue em primeiro lugar no ranking regional de colisões, Ribeirão Preto teve queda de 13,4% no índice; no primeiro trimestre do ano passado, 67 postes foram atingidos por veículos na cidade. Em Barretos, a redução foi mais expressiva, 28,5%, com 21 postes abalroados em 2022. Franca, que teve 23 ocorrências no ano passado, apresentou percentual 4,65% menor. No entanto, no mesmo comparativo, algumas cidades apresentaram aumento. Caso de Sertãozinho, que registrou seis colisões em 2022 e oito este ano, um aumento de 33,3%.
Isso não significa, todavia, que os municípios que apresentaram queda nos casos, como Ribeirão Preto, tenham motivos para comemorar. “Diante do número total de colisões, é importante continuarmos incentivando a discussão sobre a direção segura no trânsito, uma vez que os índices seguem elevados. Somente nesses três primeiros meses do ano, tivemos uma média de quase 1 acidente por dia”, destaca o gerente de Saúde e Segurança do Trabalho da CPFL Energia, Marcos Victor Lopes.
Cobrança
Em grande parte dos acidentes com postes de iluminação, a empresa é obrigada a realizar a substituição do mesmo. E, se houver mais equipamentos nele instalados, também são substituídos. Sem contar que a reconstrução da rede de energia e de comunicação pode levar um bom tempo até o serviço ser restabelecido a contento (empresas de internet e TV a cabo, por exemplo, também usam postes).
Há casos, inclusive, em que os técnicos da CPFL Paulista precisam aguardar o trabalho de perícia da Polícia Científica para, somente então, iniciar a manutenção. Cada poste pode custar entre R$ 4 mil e R$ 7 mil, dependendo do que estiver nele instalado.
Quando a CPFL Paulista identifica o responsável pelo prejuízo causado ao poste, ingressa com ação de cobrança na Justiça. Se um motorista causou danos em um poste com iluminação pública simples, vai desembolsar menos que outro que tenha derrubado um com transformador de energia e equipamentos de telecomunicações instalados.
Mas uma coisa é certa: quem bate, tem que pagar, ele é acionado judicialmente. O trâmite da cobrança é feito como em qualquer processo, inclusive com direito à contestação. A cobrança acaba sendo definida pela Justiça. Mas além do reembolso do valor, quando determinado, o motorista tem que dispor de tempo para audiências e de dinheiro extra, para pagar um advogado.
Fatores diversos
Em acidentes registrados nos três primeiros meses de 2023 em Ribeirão Preto, as causas apontadas por motoristas são as mais diversas. Num dos casos, uma motorista seguia pela Via Norte, Zona Norte de Ribeirão Preto, quando perdeu o controle de seu veículo e colidiu contra um poste. Ela teria dito que, com o vidro do carro aberto, um inseto entrou. Ao tentar espantar o “passageiro indesejável”, bateu no poste e derrubou o equipamento.
Na mesma Via Norte, na primeira quinta-feira do ano, um motociclista e uma mulher que vinha na garupa ficaram gravemente feridos após a moto bater em um poste, que caiu sobre um outro carro. O motorista do carro não se feriu, mas o poste também precisou ser trocado.
Em fevereiro, uma mulher colidiu com o carro contra um poste na avenida Oscar de Moura Lacerda, Zona Norte de Ribeirão Preto. A via precisou ser interditada. O desvio para os motoristas representou um acréscimo de pelo menos cinco quilômetros no trajeto, além de terem que percorrer uma área com obras viárias, dificultando o fluxo de veículos. Para a CPFL Paulista, mais um poste contabilizado e que deverá ser cobrado.
Já no mês de março, um caminhão de grande porte, vindo do estado de Goiás, entrou na Zona Sul de Ribeirão Preto. O motorista não conhecia bem a região e, ao manobrar para tentar acessar a avenida Brás Olaia Acosta, derrubou um poste de iluminação. Além do problema causado à CPFL Paulista, o poste caiu sobre a fachada de uma empresa, estilhaçando vidros e causando prejuízos ao trânsito, que já é intenso naquela avenida.
Se em Ribeirão Preto o número de postes danificados é elevado, o problema aumenta se consideradas as cidades da região. Um poste é danificado a cada 17 horas. Além de riscos à vida dos acidentados, pode causar prejuízos muito maiores que os mensuráveis. Por exemplo, um poste derrubado pode significar falta de energia para alguém que está fechando um negócio, tentando conseguir um trabalho ou preparando algum alimento. O ideal é dirigir sempre com responsabilidade. E evitar receber uma conta maior da Justiça.
Dicas de Segurança
A CPFL disponibiliza a campanha Guardião da Vida, através do site https//:guardiaodavida.com. br, onde há dicas importantes. E lista outras 10 para que os motoristas diminuam as colisões em postes. Confira:
1. Mantenha o veículo com a manutenção em boas condições, verificando o estado dos pneus, dos freios, dos faróis e dos retrovisores;
2. Não dirija sob efeito de álcool, remédios ou qualquer outra substância tóxica;
3. Quando estiver dirigindo, cuidado com o farol alto. Você pode ofuscar a visão do motorista na via de sentido oposto;
4. Respeite sempre a sinalização de trânsito e os limites de velocidade das vias, em qualquer dia, local e horário;
5. Respeite os pedestres e sempre use cinto de segurança e capacete, para motociclistas;
6. Não use celular quando estiver dirigindo. Além de colocar em risco a vida dos pedestres e outros motoristas, a infração para quem é pego usando o celular na direção é considerada gravíssima;
7. Em caso de manobras, sinalize para os pedestres e os demais motoristas;
8. Sempre mantenha distância segura do veículo à frente;
9. Fique atento às condições da pista e do clima. Em caso de pista molhada ou de neblina, dirija com cuidado. Diminua a velocidade e mantenha a distância dos demais veículos;
10. Em caso de acidente com poste, se houver queda de cabos, procure ficar no interior do veículo, sem tocar nas partes metálicas, até o atendimento por parte das equipes da empresa.