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Reflexões sobre a Ética Cristã na Era da Desinformação 

André Luiz da Silva *
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A liturgia diária católica apresentou nesta semana a leitura de Tiago 4:13-17onde uma frase chamou minha atenção: “Portanto, pensem nisto: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.”

Esse alerta possivelmente inspirou o pastor Martin Luther King, a quem se atribui a famosa frase: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, muito utilizada, especialmente em tempos de eleições.

Segundo teólogos, Tiago escreveu seu texto para cristãos judeus que enfrentavam problemas pessoais e congregacionais em razão da religiosidade misturada com hipocrisia de alguns entre eles, situação muito semelhante ao que se observa em muitos dos mais de 2,2 bilhões de fiéis espalhadas pelo mundo e divididos em milhares de denominações diferentes. Assim, sua mensagem é extremamente atual.

Mas como saber o que é certo? Esta pergunta, ou desculpa, é comum e não pode ser ignorada em uma sociedade que vive o constante fenômeno da disseminação intencional de mentiras. Pesquisas recentes mostram que quatro em cada dez brasileiros recebem notícias falsas diariamente. Curiosamente, quase metade deles já compartilhou posts, vídeos, imagens ou notícias, apenas para perceber mais tarde que se tratava de fake News. Outro estudo indica que notícias falsas têm 70% mais chances de serem retuitadas do que a verdade, especialmente em contextos políticos.

Na história dos cristãos, optar pela mentira e desprezar a verdade é um fenômeno habitual que surge quanto Eva opta por ouvir o diabo e come do fruto da árvore da vida. O julgamento manipulado para condenar Cristo e as várias guerras justificadas falsamente em Seu nome demonstram que temos muito para aprender.

No ambiente político mundial a utilização da religião para finalidades eleitorais e perpetuação no poder ganha contornos cada vez maiores e surgem várias lideranças propagando discursos que induzem o ouvinte incauto a acreditar que se trata de defensores da família, da pátria, da liberdade, da vida e de princípios constantes em seus respectivos livros sagrados. Ocorre que um breve estudo de suas votações, dos interesses econômicos e grupos que defendem ou favorecem demonstrarão que entre a fala e a prática existe uma grande distância. Vide os vários conflitos globais atuais apresentados como religiosos, mas que são basicamente políticos e econômicos.

Por isso é importante conferir sempre as informações que recebemos e saber contextualizá-las ponderando sobre quem está divulgando e quais suas reais intenções. A necessidade quase que compulsiva de consumir conteúdos compartilhados em grupos, listas de transmissão e contatos pode trazer consequências desagradáveis.

Tiago e Luther King cumpriram a missão de fazer o bem até as últimas consequências, as suas histórias de vida são exemplos de que nem sempre é fácil fazer o que precisa ser feito, mas não podemos desistir.

Aqueles que têm a oportunidade de refletir sobre o trecho da carta de Tiago descobrem que podem se engajar ativamente em atos de bondade, ajudando os necessitados, promovendo a paz e a reconciliação, e lutando pela justiça em nosso planeta. Aceitar o desafio da vida proativa em favor do bem exige correção de ações e não é restrita ao ambiente religiosoe familiar, engloba inclusive o mundo corporativo.

* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

 

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