Rui Flávio Chúfalo Guião *
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O anúncio de que o SESC – Serviço Social do Comércio – comprará o prédio da Avenida Nove de Julho da Sociedade Recreativa e de Esportes marca o segundo fim de uma grande era esportiva de nossa cidade.
A Recreativa foi fundada em 19 de dezembro de 1906, por um grupo de amigos que buscavam um local de convivência e congraçamento. Sua primeira sede localizava-se no centro da cidade, na esquina das ruas Barão do Amazonas e Duque de Caxias, onde hoje está o MARP – Museu de Artes de Ribeirão Preto.
No palacete que ali se ergueu, havia bailes semanais frequentados pela elite cafeeira, bem como palestras do mais alto nível cultural.
Não se pode falar da Recreativa sem se lembrar do Commercial Football Club. Fundado em 10 de outubro de 1911, o Commercial sintetizava a vontade dos ribeirãopretanos de terem um clube nos moldes dos mais modernos do país. Seu time treinava numa grande área vazia, onde hoje é a Praça Camões. Ali, por sete anos, aperfeiçoou-se a técnica da nova modalidade inglesa. Mas, era preciso um estádio.
Assim, em 1917, o clube adquire área de propriedade de Emílio Moço, contígua ao campo antigo, onde ergueu instalações e arquibancadas modernas, as quais tiveram oportunidade de receber grandes visitantes, como o Rei dos Belgas, que ali assistiu à uma partida de futebol.
Necessário lembrar que, na época, Ribeirão Preto atraía a atenção por ser o maior produtor de café do mundo e pela intensa vida social, cultural e burlesca da cidade.
O novo estádio, o primeiro do interior paulista, rapidamente se torna local a ser frequentado pela sociedade. Ali o Commercial colheria grandes vitórias. Mas, a maior delas deu-se na campanha a Pernambuco, em 1920, quando retornou, invicto, com o título de Leão do Norte.
Em 1936, o Commercial tem uma grande dívida e a solução é fundir-se com a Recreativa, que absorve seu ativo e passivo e passa a se chamar Sociedade Recreativa e de Esportes, enfatizando assim o viés esportivo da entidade. É a primeiro fim de uma era esportiva da cidade. A Recreativa decide derrubar as arquibancadas e realiza várias obras na área recém adquirida, inclusive a primeira piscina da cidade.
O acesso ao clube dá-se pela rua Bernardino de Campos, em frente à Praça Camões, sendo os fundos pela Avenida Nove de Julho, onde há somente um portão de serviço.
Em 29 de agosto de 1959, a Prefeitura Municipal desapropria a antiga sede, para ali funcionar a Câmara Municipal. Com o dinheiro, a Recreativa constrói sua nova sede, agora com frente para a Avenida Nove de Julho, moderna construção que coloca o clube na vanguarda nacional.
A Recreativa se firma como o clube mais importante e selecionado da cidade. Suas piscinas e demais benfeitorias são frequentadas pelos seus associados, que desfrutam de modernas instalações.
Com a expansão imobiliária, surgem os condomínios verticais e horizontais, com amplas instalações de lazer – piscinas, quadras as mais variadas – e fazem com que a frequência dos clubes diminua muito, gerando crises financeiras. A Recreativa é abatida por grandes dificuldades. Seu prédio é levado a leilão várias vezes, sem aparecer interessado.
O SESC – Serviço Social do Comércio – foi fundado em 1945, com o objetivo de proporcionar cultura e lazer para os empregados no comercio. Hoje, atua em todo o país, com colônias de férias, praças esportivas e instalações culturais.
Ao se fechar pela segunda vez uma fase no esporte local, esperamos que o velho e nobre clube da Nove de Julho possa se transformar num centro de difusão cultural e esportiva para os comerciários de nossa cidade.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras