Tribuna Ribeirão
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Recreativa de Ribeirão Preto 

Sérgio Roxo da Fonseca *  
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Todas as cidades têm um ou vários corações. Na década de 1950, por volta de 1955, um dos corações de Ribeirão Preto era a Recreativa. Antes dela o local era ocupado pelo Comercial F. C., tanto que até hoje o emblema dela tem raízes no símbolo do time de futebol. Naquele tempo, a Prefeitura Municipal emprestou para o clube um enorme terreno, que ainda está ali, para ser nele mantida uma pista de atletismo para sócios e não-sócios. 
 
Havia dois portões de acesso. Um para os sócios. Outro para os atletas que não eram sócios. As portas do clube davam para a Praça Camões. A piscina tinha como limite a Rua Visconde do Inhaúma e Bernardino de Campos. A área ocupada hoje pela piscina coberta era ocupada pelo salão de bailes. Ali o colombiano Carlos Ramirez cantou “Bonequinha Linda”, canção por ele e Xavier Cugat oferecida para Ester Willians no filme Escola de Sereias. Um sucesso! 
 
O clube, com o apoio da Prefeitura, mantinha, algumas equipes desportivas. Uma delas era constituída pela turma da piscina. Na Olimpíada de Helsinque somente dois atletas pontuaram para o Brasil: Ademar Ferreira da Silva do São Paulo F. C., no salto triplo, e o nadador Milton Buzin da Recreativa, no salto de trampolim. 
 
Na quadra de bola ao cesto, hoje denominada quadra de basquete, brilharam Tales e Lício Avezum, o primeiro membro da receita estadual e o segundo médico em Araçatuba. A equipe de vôlei, dirigida por Geraldo de Paula Melo, destacou grandes atletas, entre os quais o Santana e a Rosa Maria.  
 
A pista de atletismo trouxe glória para o clube e para Ribeirão Preto. Os atletas eram dirigidos pelo extraordinário Geraldinho. No Brasil havia apenas três grandes equipes de atletismo: o São Paulo, o Flamengo e a Recreativa de Ribeirão. A Recreativa e a Prefeitura valiam-se do trabalho do Geraldinho que montou uma equipe histórica que, entre eles estavam Sílvio Braga e Teodomiro Uchoa, Francisco de Assis Moura, Delegado de Polícia de Brodósqui. 
 
Francisco de Assis Moura, o Chicão, era o atleta mais perfeito da América Latina. Sofreu uma grande contusão que o afastou das disputas em Buenos Aires. Em 1954, no Quarto Centenário de São Paulo, Chicão foi escalado para compor a equipe brasileira para participar do Sul-americano 
 
Chicão tinha como principal adversário um atleta venezuelano muito ágil. Na última prova, salvo engano, a corrida de mil quinhentos metros rasos, Chicão e o venezuelano estavam praticamente empatados. Portanto o Chicão deveria perder. Acompanhávamos a prova pelo rádio. Não havia TV. O venezuelano saiu na frente.  
 
Na primeira curva os estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo emitiram o seu grito de guerra. O Chicão não somente foi às lágrimas como disparou numa velocidade espantosa, vencendo a corrida e recebendo o prêmio: oficialmente tornou-se o mais completo atleta da América Latina. O Chicão, dr. Francisco de Assis Moura, converteu-se no símbolo do esporte amador do Brasil enquanto era Delegado de Polícia de Brodosqui. 
 
Registre-se que Marta, a melhor corredora de Recreativa, era aluna colega do Otoniel Mota. A maior parte dos atletas eram alunos da faculdade de Odontologia e Farmácia, hoje da USP.  É possível que minha memória tenha cometido erros. Mas não me esqueço daqueles meus quinze anos coincidentes com o centenário de Ribeirão e dos dias de glória da Recreativa. 
 
* Advogado, professor livre docente aposentado da Unesp, doutor, procurador de Justiça aposentado, e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras 

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